2013/08/28

devil inside

Um conto em flashes

- Ai, eu não consegui terminar o filme. A cena do estupro me deixou...

O rapaz estava dando bronca em uma amiga e resolveu simular uma situação. Então se levantou e encarou outra amiga com um olhar sedutor. Ela disse:
- Ai, não me olha assim que me dá vontade de te beijar.

As luzes da viatura alternavam escandalosamente entre azul e vermelho como se houvesse forma de mudar o que acontecera. Irreversível, demônio havia escapado.
- Você está alcoolizado, senhor?
- Tô, sim, senhor, bastante. 
O guarda  desistiu de conversar com o infeliz, que só encarava a moça num olhar de quase-choro.

- A senhorita conhece esse rapaz?
- Sim, é meu melhor amigo... - ainda meio trêmula, mas mastigando as palavras minimamente pra não ferrar o moço - Estuda comigo e vem me deixar em casa todo dia.
- Então por que você estava gritando "não", "para" e querendo fugir dele?
- Eu tenho namorado.
- Mas e por que esse rapaz estava te empurrando pra parede?
- Eu disse que estava com vontade de beijá-lo.

Entrou no escritório pesando o mundo.
- O que aconteceu, meu deus?
- É óbvio. - Desprezo - Um cara me deu umas porradas.
- Deu queixa?
- Não, eu mereci.
- Mas nada justifica a violência!
- Eu mereci... - olhava para baixo completamente ciente de que permitira seu demônio interno fugir e causar o que causou.
- O que você fez?
- Mereci... - Indignação lhe dominava. - Cismei na vontade e ignorei o resto.

Passara-se um tempo, mas o "a gente é só amigo" ainda ecoava em sua mente, assim como a tentativa frustrada de beijo que se tornara apenas uma faminta mordiscada no lábio inferior somada a uma vontade de adentrar naquela alma intensamente. Assim como tudo, passou e acabou.