2013/09/11

Não existimos

Negamos a felicidade, pois nos privamos da dor. Sabemos que, com certeza, tudo acabará. Seja entre nós ou você e aquele cara ou eu e aquela mina. Tudo acaba entre todos.
Tudo acaba. Eu partirei. Tu partirás. Ela partirá. Ele partirá. Nós ... Vós ... Eles... Elas... “As pessoas vão embora!”

Utópico pensar no “para sempre”. Sabemos que é besteira acreditar plenamente nisso. As pessoas pensam demais no futuro e esquecem de fazer o presente. Planos, promessas, juramentos... Sou muito mais a fim de presenciar os momentos e eternizá-los na memória, mas, assim que partíssemos cada um ao seu rumo, todas essas lembranças se despedaçariam e sumiriam com o vento. O problema não é amar, é o depois. É viver infectado pelas vivências passadas que percorrem as veias sugando todo seu potencial para sobreviver. Depois que o romance acaba, a dor da saudade machuca. Obriga-nos substituir o vício que tanto nos satisfez. Depois que o romance acaba, a corrente está tão enrolada que nos faz sangrar ao tentar fugir.
Dirão que insisto nas paixões antigas, mas não. Não. Hoje, são apenas lições. Do que fazer. Do que não fazer. Do que sentir. Do que não sentir.

Negamos a felicidade, pois nos privamos da dor. Não é proibição imposta. Apenas moderamos. Para evitar que um de nós cisme em acreditar na longevidade desse romance. Pode durar 214 dias. Pode durar 30 anos. Pode durar um flerte no ônibus. Pode durar uma tragédia. A gente não tem que saber prever, a gente tem que fazer. A gente tem que ter vontade pra começar, terminar e partir.

No fundo, quem sabe, estejamos tão pessimistas apenas ansiosos para viver um romance cativante. Talvez esse pessimismo não passe de inveja sobre aqueles que conseguem viver algo forte. Mas eu sei até que os castelos mais estáveis desabam. Tenho histórias pra contar. No fundo, quem sabe, essa alergia ao amor seja só autoproteção. Medo.

A gente sente saudade do que não tem. (Ter alguém). Aliás, “ter” é algo simplesmente utópico. As pessoas “possuem” por pura convenção. Ninguém pertence a ninguém, mas viver com a sensação que faz parte do cotidiano de alguém... Tira a insônia e traz calma. O problema está em priorizar demais essa posse intangível. Impor que alguém é o mais importante na vida já começa errado e piora cada vez mais conforme a neurose possessiva aumenta.
Portanto, o que quero dizer é que não quero ser teu, não quero que sejas minha. Não ligo se você sair com outros caras. Desde que você deseje passar um tempo comigo, ficarei bem. Passar um tempo ao seu lado (presencialmente). Aguentar teu pessimismo, tua agonia, teus plurais. Mas não me peça para te ajudar a solucionar teus outros casos, afinal não quero que deem certo. Não, não quero que sofras. Sou sádico, mas não quero que sofras. Acima de tudo, sou egoísta e quero que passes mais tempo comigo do que com qualquer outra pessoa, mas não quero te prender.


Privamo-nos da dor e talvez seja por isso que não encontramos a felicidade. Desse modo, acabamos por nos proibir de existir. Enfim.

2013/09/05

Terrorismo construtivo

Quero que tenhas a liberdade para me destruir.
E me reconstruir.
E me destruir mais vezes.
E continuar reconstruindo.
E manter a destruição.
Seguida de reconstrução.
Pegar minhas ruínas e remontá-las.
Desconcertar minhas estruturas
(como já faz tão bem).
...
Num ciclo vicioso
cheio de redundâncias
e sorrisos teus.
...
Num laço bonito
cheio de encanto
e nós.
...
Até que nos reste nada além
da ausência de ritmo
e excesso de nós.