Já se passava das quatro da manhã, e eu já não sabia o que fazer ou para onde ir. Todo aquele tédio já não era benéfico. Estava há mais de cinco horas deitado assistindo à maratona de um seriado de humor clichê que não era mais tão divertido. Pensava em um meio de me entreter ou esquecer todos os problemas que me enforcavam. Não encontrava resposta alguma para solucionar minha dor.
Deitado em uma cama tão grande, estava totalmente vazio. Nenhum livro, filme ou musica me animava. O que poderia me alegrar parecia estar tão longe, parecia ter um preço a ser pago, parecia não ser para mim.
Depois de um tempo mudei de canal, mesmo sabendo que não encontraria nada decente. Começou a Santa Missa, e isso me motivou a desligar a tv e tentar dormir.
Pensei que Melina estivesse morta, mas então, depois de horas, ela disse:
- E então, Rafael, vai ficar deitado aí ou aceitar minhas desculpas?
- Desculpas, do que?
Finalmente, lembrei o que estava faltando em mim. Ela era há muito tempo o que me mantinha vivo, mas atualmente nos distanciamos, mesmo dormindo na mesma cama, tudo graças àquele maldito curso de teatro que fazia lavagem cerebral nos alunos. Mel foi vitima, e esqueceu de viver, esqueceu de mim. E eu, solitário, esqueci de viver. Continuou ela:
- Sei lá... Por ter abandonado esse amor tão forte que sinto por você.
- Não sei... Acho que ambos desistiram desse romance por um tempo.
- Ah, eu comecei com aquele maldito curso e abandonei tudo. E como, já diz a canção, "o comodismo é um mal parasitário", acho que te passei um pouco dessa minha desmotivação.
- E você quer recuperar todo o tempo perdido?
- Agora!
- Mas são seis horas da manhã de domingo!
- Bom, pelo menos já tem onibus circulando, podemos andar por aí.
- Hum... Vamos esperar o mercado abrir, comprar coisas e fazer um pique-nique no São Lourenço.
Levantei, abri a cortina e me assustei com o belo nascer do sol. Melina já estava sentada, resolvi sentar ao seu lado. Ficamos calados até que ela exclamou:
- O mercado não abre aos domingos!
- Eita... Será que as nossas bicicletas estão úteis ainda?
- Já sei, pegamos as bicicletas e saímos pela cidade até encontrarmos um lugar bacana para sentar e conversar.
- Boa, mas poxa, já estou há horas aqui deitado e sem comer. Preciso comer alguma coisa, nem que seja uma bolacha.
Não sei como encontramos motivação para sair, pois estavamos há horas deitados mas sem dormir.
- Na minha bolsa tem um pacote.
- Beleza, mas antes vou tomar banho.
- Que mané, banho! Vamos assim mesmo! Queremos recuperar nosso amor, não queremos paquerar ninguém, nem conseguir emprego. Afinal, é domingo, e alias, adoro esse teu pijama.
- Tá bom, mas antes...
- Cale a boca!
- Ok, então... sem energético para nós.
- Opa! Aí você apela para o vício! Pega lá algumas latas, e vamos logo.
- Já vou, mas antes...
- Ah, chega!
- Não quer um beijo? Tá bom...
- Sem problemas, eu tenho o dia inteiro para te roubar um.
- Isso se você conseguir me alcançar!
Corri, como nos velhos tempos. Uma criança correndo rumo a felicidade. E eu não sabia que desde pequeno eu estaria destinado a viver com uma garota que, não tinha roupas de marca, não tinha carro, não tinha dinheiro, não tinha vícios além de "Rafael", tinha apenas um coração que me conquistava todo dia, mas apesar disso andava distante. Porem, tenho certeza que daqui pra frente, se tornará uma necessidade fisiológica. Se me perguntassem o porquê de eu gostar ela, só responderia: porque ela gosta de mim, e ela gosta de mim porque eu gosto dela, eu gosto dela porque ela gosta de mim... Enfim, é um ciclo, confuso. Looping após looping.
Fui até a cozinha pegar uns energéticos e doces, nossos vícios. Apesar de nossa vida ter um aspecto "vagabundo", nós não bebíamos, não fumávamos, não injetávamos, não... Resumindo, não usávamos drogas. Nunca experimentei e nunca tive vontade, já sou "louco" demais. Lina, tomava remédios para dormir e para depressão. Problemas que, milagrosamente, sumiram de sua vida quando me conheceu e veio morar comigo.
Melina gritou do "quartinho" querendo que eu pegasse minha bicicleta e saíssemos logo. Partimos sem rumo certo.
Fomos dançando entre as ruas da cidade, observando as placas de pontos turístico, e procurando algum que nos atraísse bastante. Jardim Botânico, Praça do Japão, Parque Barigui, Praça 29 de Março, Bosque João Paulo II... Nenhum destes foi escolhido, eu queria Parque São Lourenço, mas Melina insistiu e insistiu no Parque Tanguá. Então, para lá fomos.
Depois horas para chegar ao parque e encontrar um lugar tranquilo, finalmente chegamos e encontramos um recanto ao pé da colina. Largamos nossas bikes ao chão, e deitamo-nos.