2014/02/28

Love, God or whatever


What if
you are the Devil?
So i want to be crucified
upside down
into your arms.

What if
You are the Messiah?
So I want to follow
You
Until the cross.

What if
You are the Universe?
So I want to explore
You
Until the sun turns off.

What if
You actually don't exist?
So I want to believe
In you
just to find the peace.

2014/02/09

Erra (Continuação)

Espelho, retrato, reflexo, amor

"Estava tentando lembrar-me dos teus olhos. Conversando comigo mesma, perguntei qual era a cor deles. Me odeie, mas, por um momento, havia esquecido. 'Como assim você não lembra da cor dos olhos do teu marido?', gritei comigo mesma. Contra argumentei dizendo que eu não precisava saber de cor tudo sobre você. Apenas preciso te admirar assim como você é, sem exigir muito. Sejam seus olhos verdes, azuis, castanhos, negros, amarelos, qualquer cor. O que me importa neles é que me encantam de um jeito sensacional. Eu fico bêbada, chapada, alucinada ao lembrar deles me encarando na cama quando acordamos. Eu sei que nos veremos novamente em um mês (ou talvez eu já tenha voltado e você nem tenha encontrado a carta), mas, sabe, logo eu que sempre protestei contra pessoas que se obrigavam a viver uma vida a dois o tempo todo, percebo que eu não consigo nem quero ficar longe de você. Eu sei que muitas vezes, como agora, seremos obrigados a ficar um mês, um ano, um tempo, sem nos encontrarmos, mas quero te manter na minha vida enquanto eu viver. Seja na presença, seja na distância, seja na carência, seja na saudade, seja tudo.
Voltando aos teus olhos (ah, como eu quero voltar aos teus olhos, tua boca, teu abraço etc). Enfim, a cor não importa. O que importa é que carregam uma beleza enorme. E o que mais me encanta neles é que é por eles que você se comunica comigo quando te somem as palavras (e olha que você trabalha com elas). Eu sei quando você está triste mas não quer falar sobre... Eu sei quando você quer falar por horas sobre um filme qualquer que tenha assistido... Eu sei quando você quer fugir da vida... Eu sei analisar você... através dos teus olhos.
Eu acho que eu não tenho uma justificativa concreta pra te amar, mas eu amo. Não sei, hoje em dia, as pessoas vivem na ânsia de encontrar todas as respostas para tudo. Razões, porquês, culpados etc. Pra quê? Eu não posso simplesmente amar assim sem justificativa? Por que eu preciso explicar em 600 páginas o que eu sinto e porquê eu sinto sobre tal coisa? Por que eu preciso explicar em 600 páginas o que eu posso demonstrar com um olhar? Eu posso simplesmente sentir? Sim! Eu posso e quero sentir! Amar. Sentir. Te sentir. Te amar.
Nem mesmo eu acredito em todo esse romantismo que habita em mim, não me sentiria menosprezada se você também não acreditasse. Acredite, porque você me faz acreditar em algo que eu não imaginava que existisse: amor. Eu era tão pessimista, tão frustrada, tão machucada. Aí você invade minha vida com todos esses textos, sorrisos, carinhos e essa vontade de entrar na minha vida. Eu comecei receosa, mas quando entrei, foi (E SERÁ) pra vida toda.”

Eu simplesmente não soube como reagir. Quer dizer, meu corpo reagiu derramando lágrimas de alegria sem que eu ordenasse. Mas no que pensar, o que fazer, eu não sabia. Eu queria mesmo era dar um abraço nela, mas isso só se realizaria quando ela voltasse de viagem. Nem se eu tentasse escrever naquele momento sobre o estado em que a carta me deixara, eu não conseguiria traduzir meus sentimentos. Era coisa demais. Pra você que me lê, pode parecer bobagem (e eu não ligo). A saudade influenciou a minha reação, porém, mesmo que não tivesse influenciado tanto, eu teria ficado anestesiado de qualquer jeito.
Não tenho o que falar muito da carta, porque meu olhar, meu sorriso, minhas lagrimas já disseram tudo. O desenho... Da minha pessoa se encarando no espelho, que, por trás, na verdade, era ela, minha mulher, foi uma das coisas mais simples e, ao mesmo tempo, sensacionais que vi.
Essa mulher sempre será inacreditável. Conseguiu fazer apenas com papel e grafite no desenho o mesmo que fizera com a minha vida: uma obra de arte grandiosa, daquelas que não merecem ser apagadas. Ela transformava o que quisesse em algo incrivelmente belo, assim como fez com a minha vida. Eu tinha vontade de viver cada vez mais por saber que, ao lado dessa mulher, momentos ruins ficariam longe.
Muito antes de eu conhecer a mulher da minha vida, não era muito apreciador de bocas grandes de sorrisos largos, mas assim que ela (Ela!) me lançou um brilhante e convicto sorriso ao aceitar sair comigo, descobri que desejaria viver iluminado sob aqueles dentes pro resto da minha vida.

2014/02/05

Reencontro utópic

(“Utópic” porque não teve fim)

Distraído com as nuvens, ele não percebeu a moça se aproximar. Ela se postou em frente ao rapaz, que conheceu quando os dois ainda não eram maiores de idade e agora ele aparentava uma maturidade aparente principalmente pelos olhos cansados, que costumavam ser muito alegres. Os amigos dele, que já a conheciam, não se manifestaram e o silêncio ficou. O corpo da mulher fez sombra no rosto dele, que só assim percebeu uma presença estranha naquele lugar. (Estranheza que costumava ser muito querida pelo jovem). Ele já tinha a visto no exato momento que ela chegara ao parque, mas estava tentado adquirir invisibilidade a fim de evitar o reencontro. Ela quebrou o silêncio:
- Você pode me acompanhar? Precisamos conversar. – Ofereceu-lhe a mão para que ele se levantasse.
Ignorou a gentileza da garota, levantou-se e começou a andar. Disse:
- Vamos – sem olhar a ela.
Ela acelerou o passo para o alcançar. Havia muito tempo que os dois não se encontravam, havia muita saudade naquele parque.
Andando juntos por um tempo acompanhados pelo silêncio, ela interrompeu:
- Ali... – apontando a um banco ao pé de uma árvore.
Sentaram-se e ele tinha dificuldade de olhar diretamente nos olhos da moça. Era muita mágoa por uma só pessoa.
Ele tinha muitas coisas para falar, mas não sabia por onde começar. Ela demonstrava tranquilidade, parecia ter tudo sob controle. Então se manifestou:
- Eu ainda tenho aquela foto que tiramos juntos no museu, você lembra desse dia?
Até então concentrado no olhar da moça, foi forçado a disfarçar, constrangido por não lembrar. Antes de resposta negativa do moço, ela começou a descrever a data, desde segundos antes de se encontrarem.
- Esse sapato... – interrompendo a lembrança, o rapaz apontou o calçado da moça – é da mesma cor que aquele seu vestido.
- Olha, eu sei que você me odeia... – tentou alcançar as mãos dele, mas fugiram – mas eu queria te falar que sinto muito a sua falta e não queria que você fosse embora daquele jeito. Sabe? Me odiando... Se eu soubesse que ia acontecer o que aconteceu, do jeito que aconteceu, eu teria feito o impossível para não perder meu melhor amigo.
- Não me venha com “amigo”! – exaltou-se, mas logo baixou a voz - Você sabia muito bem o que eu queria naquela época...
- Eu sabia... Mas você sabe que eu tinha problemas para lidar com esses tipos de declarações.
- Sim, eu sabia. - Então o rapaz se lembrou da vez em que entrou na sala da moça e a viu aos pedaços, chorando de soluçar – Olha, passou, eu superei! Eu só não te procurei mais por causa do meu orgulho que se feriu muito desde aquela época.
- Mas eu queria te pedir desculpas... - seguiu com um discurso cheio de lamentações, arrependimentos e nostalgia...

- Ô, ô! Pode parar! Pare de chorar – interrompeu, secando o resto da moça com as costas dos dedos.
- Não, eu preciso, é muita coisa guardada há muito tempo.
- Eu também tinha muita coisa pra te falar, mas o tempo acabou consumindo tudo. Tanto que eu não tenho mais nenhuma questão pra tentar resolver. Vai, fala.
Ela começou seu descarrego emocional. Minutos depois, o assunto se dispersara, ela tinha meio que superado o passado e a conversa não era mais somente sobre os dois.

- Eu acho desnecessário esse negócio de alianças.
Ela o fitou discordando, mas logo ele prosseguiu com seu argumento:
- Não que eu seja contra relacionamentos, casamentos, enfim... Mas acho que as pessoas são muito inconsequentes, imediatistas. "Eu quero e quero agora!"... Mal se conhecem e, sei lá, em menos de duas semanas já estão comprando alianças como se tudo aquilo fosse realmente durar...
- Não se deve “comprar alianças” – a moça entoou uma voz tranquila e pacificadora, quebrando o tom de voz agressivo do rapaz – A gente tem que construir essas alianças juntamente com Deus.
Disposto a contra-atacar com teorias agressivas a Deus, achou melhor guardar tais palavras para si mesmo.
Foi então que os dois foram cercados por uma dupla de rapazes, que interromperam:
- Olha só! Você por aqui? – disse um deles.
Realmente, fazia muito tempo que o jovem não andava por este lado da cidade. Enquanto cumprimentava os antigos conhecidos, lembrou-se que a última vez que estivera ali fora no dia em que decidiu não amar mais sua amiga.
Enquanto os dois moços recordavam algumas vivências da época do teatro, o rapaz se concentrava em outras lembranças: Como quando quase fora atropelado em um cruzamento no Centro depois de se distrair com uma sósia da garota que amou.

- Espero que fique tudo bem entre nós, que você tenha me perdoado.
Quanto mais a moça se distanciava, mais o rapaz a queria de volta em sua vida. Ele estava novamente apaixonado. Antes de entrar em casa, a moça se virou e lançou um aceno e um sorriso, que fez o rapaz simplesmente esquecer o ódio que alimentou durante mais de três anos. Desde que se conheceram, ela era capaz de derrubar o orgulho dele, de deixa-lo em transe, num estado de paz. Ele fora feliz ao lado dela, mas ao tentar elevar a felicidade entre os dois... Não deu certo, frustrou-se e foi embora.

2014/02/01

Erra

Espelho, retrato, reflexo, amor

Cada dia durava vários dias. Eu não sentia os dias, não me empolgava em enfrenta-los. Fora do trabalho, eu passava os dias em casa dormindo ou no bar tentando encontrar o amor no fundo de algum copo de cerveja.
A vida passava muito lenta sem minha mulher. Eu queria voltar à intensidade dos dias ao lado dela. Eu estava começando a ter raiva dela por ela ter escolhido essa vida artística e ter que ficar uns dias fora do país para lançar seus trabalhos.

Num dia até então normal, cheguei do trabalho desejando um banho gelado e cama, mas, ao entrar no prédio, Seu Renato, o porteiro, adiou meu roteiro e me fez parar na portaria para pegar “um negócio que o carteiro deixou”. Respondi que não esperava encomenda alguma.
- Acho que é dos estrangeiro – disse Seu Renato, levantando-se e caminhando até um armário – tem umas escrita diferente.
- Tem algum nome? – perguntei.
- É tanta letra que não consegui achar – embaralhou-se para pegar a chave do armário.
- Será que não é uma bomba? – a curiosidade me invadiu, não pela possibilidade de ser uma bomba, e quase gritei para que ele se apressasse para abrir o armário.
- Olha, acho que é meio fino pra ser uma bomba, mas não duvido da tecnologia de hoje. Vai que é... – riu e finalmente me entregou a misteriosa entrega.
Agradeci e subi ao meu apartamento. Finalmente em casa, encontrei o nome de quem enviara a fina caixa com pouco mais de meio metro de altura e largura. Rasguei-a com as próprias mãos cheias de ansiedade, mesmo com a resistente fita adesiva.
- O que foi que você me aprontou, mulher? – questionei como se minha esposa fosse me ouvir a 9.716,85 km de distância.
Após vencer a luta contra a embalagem, encontrei o maravilhoso mundo do plástico-bolha. Porém, ignorei o passatempo e joguei o material protetor no chão. Por fim, vi que a moça me enviara um quadro e um cartão postal.
Na despedida no aeroporto, falei para ela trabalhar muito e conhecer a cidade toda com exceção do ponto turístico mais visitado daquele lugar, porque, assim como eu, ela não gostava de passeios "de turista". Para me provocar certamente, o cartão postal era justamente desse local, porém, com uma alteração feita com canetinha: “THIS PLACE SUCKS!” sobre o monumento. No verso, apenas:
“Estou entediada desse lugar e te fiz esse desenho pra me distrair (e me lembrar de você). Saudades mandou um beijo e diz que será assassinada em breve. Obs.: Esta moldura é importada, vê se não joga no lixo, manezão!”
Ela me zoará eternamente sobre a vez em que, numa exposição de uma colega dela, vi uma moldura no chão e a joguei no lixo. Depois descobri que fazia parte da exposição e que a peça valia... muito.
Deixei o cartão sobre a mesa da sala e comecei a desembrulhar o quadro, que estava num plástico filme ou coisa parecida.
Havia moldura, mas não havia vidro. Era apenas tela e moldura. Eu não entendo tanto dessas coisas quanto ela, mas era um papel de um tipo grosso. Também não sei diferenciar pintura de desenho. Dei uma ligeira observada na obra e dei um sorriso sem razão. Fui então procurar martelo e prego para pendurar o quadro. Numa das poucas paredes livres em nossa sala, instalei a peça e fui dormir.
Num dos passeios que costumava dar pelo apartamento após acordar até despertar de vez, deparei-me com o desenho e então se desenhou a cena: um homem encarando a pintura de um homem se encarando no espelho.
O corpo de costas aparentava cansaço, os ombros estavam pesados. O reflexo sorria imensamente, mas seu sorriso era todo distorcido, desproporcional, maior que tudo. Eu sentia que havia algo a mais naquele desenho. Tinha algo com o espelho emoldurado, eu tinha certeza.
Então percebi que o espelho estava extravasando sua própria moldura. Foi só aí que percebi um pedaço de fita adesiva saindo por trás do espelho. O reflexo era na verdade um papel sobreposto ao desenho maior.
Na pintura principal, no lugar do pedaço de papel com minha imagem – sim, com toda a certeza, era eu - havia minha mulher desenhada.
Era como se eu fosse o reflexo dela, ela fosse meu reflexo, vice-versa ad infinitum.
Minha vontade era abraçar aquele quadro até que se transformasse na minha mulher e, assim, eu continuaria a abraçando até cansar. Deixei o meu reflexo cair da minha mão e, ao me curvar para recolhê-lo, vi que havia algo atrás. Era uma carta.
Assim como o desenho, as letras foram feitas por uma espécie de grafite ou similar.

A carta: