A Portrait of the Artist as a Young Man, James Joyce
Terminou de ler mais um parágrafo, direcionou seus olhos para o chão, e sentiu não a náusea, afinal não era Antoine Roquentin, mas um ruído ligeiro, um tremor, um zumbido se aproximando, uma onda, um enxame, como se vindo do subsolo do shopping, como se estivesse subindo, aproximando-se cada vez mais, como se correndo nas escadas rolantes, pronto para destruir a construção e a vida das pessoas que ali trabalhavam, compravam, comiam, passeavam, seria o fim - se o desastre fosse real. Real. Não era. Na verdade, era, mas apenas na mente daquele que abandonou o livro sobre a mesa, desistiu de ler para se concentrar no que emergia dentro de si, talvez controlar isso tudo, mas sabia não ser capaz.
O tremor em sua mente nenhuma relação tinha com o que lia, a leitura não pressionou o gatilho, nem mesmo Roquentin ou qualquer um de seus camaradas literários. O que fez emergir (mais um)a onda foi algo que lhe aconteceu cedo naquele dia, quando abriu os olhos naquela quinta-feira e disse silenciosamente: "merda", e percebeu ter acordado mais uma vez.
Há tempos não passava por isso, em público então nem se lembrava da última ocasião. Desacostumou-se a ponto de considerar a dor nova. "Isso não é doença, é frescura!", como diriam aquelas pessoas normais, sem problemas, maduras o suficiente para não serem acometidas por transtornos como aquele. Era como se uma superfície gélida fosse invadida por um calor inquietante, rachando o gelo, que então corta a pele e deixa entrar todos os ruídos do mundo, ainda que não se consiga ouvir nada, pois a mente entra em um estado sinestésico onde não consegue identificar dissonância alguma. As palavras se enrolavam, não se entendiam, nada compreendia.
Não registrou quanto tempo durou, pode ter durado dez segundos ou longos dez minutos, mas cada segundo lhe roubou o ar que teoricamente devia correr até seus pulmões. A velha sensação de que seu toráx diminuía a cada respiração. Hiperventilava, sua mente se arrastava em um chão áspero para tentar retomar o controle.
Ninguém - tanto ali quanto em qualquer lugar - oferecia ajuda, afinal ninguém enxergava o que estava acontecendo, também porque, naquele momento, sua voz correra para longe.
O tremor em sua mente nenhuma relação tinha com o que lia, a leitura não pressionou o gatilho, nem mesmo Roquentin ou qualquer um de seus camaradas literários. O que fez emergir (mais um)a onda foi algo que lhe aconteceu cedo naquele dia, quando abriu os olhos naquela quinta-feira e disse silenciosamente: "merda", e percebeu ter acordado mais uma vez.
Há tempos não passava por isso, em público então nem se lembrava da última ocasião. Desacostumou-se a ponto de considerar a dor nova. "Isso não é doença, é frescura!", como diriam aquelas pessoas normais, sem problemas, maduras o suficiente para não serem acometidas por transtornos como aquele. Era como se uma superfície gélida fosse invadida por um calor inquietante, rachando o gelo, que então corta a pele e deixa entrar todos os ruídos do mundo, ainda que não se consiga ouvir nada, pois a mente entra em um estado sinestésico onde não consegue identificar dissonância alguma. As palavras se enrolavam, não se entendiam, nada compreendia.
Não registrou quanto tempo durou, pode ter durado dez segundos ou longos dez minutos, mas cada segundo lhe roubou o ar que teoricamente devia correr até seus pulmões. A velha sensação de que seu toráx diminuía a cada respiração. Hiperventilava, sua mente se arrastava em um chão áspero para tentar retomar o controle.
Ninguém - tanto ali quanto em qualquer lugar - oferecia ajuda, afinal ninguém enxergava o que estava acontecendo, também porque, naquele momento, sua voz correra para longe.