Estávamos lá, deitados. E quietos. Estávamos lá, felizes por estarmos juntos, de verdade, dispostos a recuperar o tempo perdido, e o amor que não conhecíamos há um bom tempo.
Estávamos lá, quietos. Eu estava feliz só por saber que ela queria recuperar nosso amor. A felicidade era tanta, que minha boca não tinha o que dizer.
Até que ela disse:
-No que você está pensando?
Respondi com toda minha sinceridade:
-Ah, meu estômago está doendo. Penso em chegar em casa e fazer uma macarronada, só para mim.
-Então vá! Eu fico aqui, tentando paquerar um qualquer que passar por aqui.
Sempre precisava de um tempinho para responder toda aquela sua agressividade irônica:
-Quando eu digo: "para mim". Quero dizer para nós! Porque você já faz parte de mim. Sabe, você é um orgão meu. Sem você, anemia, falta de ar e cegueira, me atingem facilmente. Sabe, dependo de você para viver...
Enquanto dizia tudo aquilo. Deitado, olhava para o céu, e gesticulava intensamente com as mãos. Até que percebi um suspiro, indecifrável. Olhei para aquela garota que estava ao meu lado, e me emocionei com a emoção que seus olhos que me olhavam.
Tenho dificuldade para chorar. Mas naquele momento, minha única vontade era imitar o gesto daquela garota que me deixava encantado a qualquer momento, tanto no felizes quanto nos tristes.
Em qualquer momento, eu sentia necessidade de estar ao lado de Melina. Mas ela andava um tanto quanto distante. O que era ruim para nós dois. Eu precisava de seu sorriso, precisava de suas palavras. Mas ela andava quieta, como se não existisse um cara que dependesse totalmente dela para viver.
Nos encarávamos, intensamente. Depois daquele meu "sermão", e a reação de Melina, não tinha forças para continuar a falar. Depois de algumas lágrima soltas, alguém precisava limpar seu rosto. E essa função era minha, sempre foi.
Com a manga de minha camiseta, sequei as lágrimas. E ela, com um sorriso simples, o mesmo que me conquistou há cinco anos, agarrou minha mão, e disse:
-E o que eu respondo depois disso?
Confortado com toda aquela mágica, respondi:
-Nada!
Apertei mais ainda a sua mão. E envolvi aquele pequenho e magro corpe entre meus braços. Para que ela tivesse certeza de que eu estava ali, com ela. E ficamos lá, deitados e abraçados, em silêncio.
Meu coração batia rapidamente, impossibilitando que palavras se formassem em minha boca. Mesmo com riscos de ter uma parada respiratória, ou cardíaca, não me importava. Pois não existe modo melhor de morrer do que estar ao lado de quem se ama.
Sentindo sua respiração e seu corpo, começei a viajar entre as nuvens. Não conseguia refletir sobre coisa alguma, só me concentrava em contar as batidas daquele coração, que estava próximo ao meu.
Silêncio, entre nós. As crainças gritavam atrás de bolas e cachorros latindo. Os passáros migravam pelo parque. Rodas de skates e bicicletas arranhavam a ciclovia. Mas tudo isso, não me importava.
Sentia a cabeça de Melina, subir e descer, com os movimentos da minha respiração. Pensei em para de respirar, só para meu peito não a encomodasse tanto. Mas morto, talvez eu não poderia ficar com ela, cuidando dela.
Fechei meus olhos, me concentrava na respiração de Melina, e toda aquela calma que sua presença me causava. O branco das nuvens aparecia, mesmo eu estando com os olhos fechados. Fiquei assim: nuvens, Melina, nuvens, Melina...
A anestesia era tanta que o tempo parecia não passar, mas toda aquela agitação do parque foi sumindo. Mas não me importava. Até que senti uma pequena pancada na costela.
Abri meus olhos, assustado. Com medo de que houvesse algo de errado com Melina.
O que vi foi um Guarda Municipal, nos encarando. Com autoridade, ele perguntou:
-O que estão fazendo aqui? O parquejá está vazio.
Enquanto ele perguntava, olhei para meu outro lado, me certificando de que Melina estava bem. Estava bem, coçando os olhos, depois de dormir, por não sei quanto tempo. Esqueci da pergunta do Guarda, só queria ficar aquele rosto sonolento acordar. Lembrei da pergunta, e respondi:
-Nossa, nós deitamos aqui e dormimos, perdemos a hora!
Melina, olhou para o Guarda e disse:
-Ei, Guarda Belo, nós podemos dormir por aqui?
Melina adorava arranjar apelido para conhecidos recentes. Com medo de que o Guarda
surtasse, me levantei, puxei Melina, e falei:
-Desculpa, seu Guarda, nós já estamos indo, só precisamos...
Precisaríamos de nossas bicicletas para voltar para casa. Mas as mesmas, não se encontravam no local. Surtei:
- CARAMBA! Onde estão as bicicletas!!?
O Guarda, com toda a calma do mundo, anunciou:
-Calma, garoto. Eu as recolhi, e guardei na central de informações.
Confuso, perguntei, como autoridade:
-Por que?
- Você prefiria que alguem marginal as roubasse? Melhor que elas ficassem guardadas, em segurança. Venham comigo, entrego as bicicletas, e vocês podem ir embora.
Fomos, pegamos nossas bikes, agradeçemos ao Guarda. E partimos.
Andando, fomos indo, com nossas bicicletas ao lado.
Já escurecia. E sim, nós dormimos o dia todo no Parque. Foma era uma coisa que me dominava.
Mesmo que não tenhamos conversado sobre nosso relacionamento, e a terrível fase que havíamos passado. Aquele dia no parque foi incrível, calmo e simples. Bem a cara de Melina.
Lindo texto, lindo mesmo!
ResponderExcluirDe tarde eu tinha lido "Carta inventada sobre a Sinceridade" e adorei, quis comentar mas estava sem tempo... agora vim comentar naquele e achei mais este hasiduhausds
Tem realidade neles? Algo a ver com você?
Só pra constar, que mesmo que eu não comente eu estou lendo!
Abraço! :)