2011/08/31

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Algumas pessoas confundem excesso de desejo com sofrimento. Nunca sofri por amor, apenas desejei desesperadamente algo utópico. Que, na real, não foi nem um pouco como o amor deve ser: benéfico, construtivo, recíproco ... Só aprendi a não me prender ao que não está preso a mim, saltar de bungue jump sem corda sabendo onde cairei, ter convicção racional dos meus desejos (por mais emocionais que sejam), e que, mesmo que tenham sido péssimas experiencias, foi bom para a construção do meu ser ainda em desenvolvimento.


Mas a gente sabe que às vezes a gente se prende a algum pensamento, já que ele conforta, dá algum status ou acoberta outra coisa.

Aquela sensação de quem ninguém mais gosta de você, talvez seja só fome.

Aquela desmotivação para viver, talvez seja só sono acumulado.

Então, durma bem e coma bastante antes de refletir sobre o quão ruim está sua vida, talvez ela nem esteja tão ruim assim.

Talvez, você seja amigo da Maria Juana só pra ter amigos mesmo, talvez, cê nem curta tanto ela.

Talvez, você tenha nojo de abrir cadáveres e só esteja cursando medicina pra pegar umas gata.

Talvez, você nem tenha a alma do negócio e esteja fazendo PP só porque é deslocado, quero dizer, descolado.

Talvez, você nem seja um apreciador das carnes, mas come uma alcatra mal passada no capricho pra não ser zuado com "come grama" durante o churras da galera.

Talvez, você odeie cerveja e bebe só pra ter coragem de chegar em alguém. (você pode até chegar, mas a cerveja não será suficiente para conquistar e manter essa pessoa ao teu lado. Pra isso, existe o caráter)

Talvez você ainda precise da amizade daquele babaca, mesmo que ele seja um babaca, mas teu orgulho é orgulhoso demais pra ceder.

Talvez você foi, mas negou.

Talvez você nem seja, mas é.


A gente se preocupa demais em agradar os outros, e acaba desagradando a si mesmo.

A gente acaba se confundido e seguindo outros caminhos.

2011/07/22

Ônibus perdido ou Meia-calça

Unica parte da rotina que não me atordoava, era entrar naquele ônibus verde às seis e pouco da tarde. Motorista e cobrador simpáticos, gente bonita, meio lotado, meio vazio; e eu, alone, sentado sempre no mesmo banco.
Contudo, naquele início de noite azul, antecedido por uma tarde chuvosa, perdi meu querido ônibus. Por ficar 0,445 segundos parado num sinal.
Quase quinze minutos depois, veio outro. Modelo antigo, pessoas estranhas; mas meu lugar continuava lá, meu.
Sentei entre um casal que parecia estar chapado de amor (AHR! Que inveja...) e uma magra de meia-calça. Segundo meu instinto Sherlock Holmes, ela estudava Direito em algum lugar do Rebouças ou Prado Velho, pois ela se vestia quase igualmente as minhas colegas de classe e esse ônibus passava por esses bairos. Mas, era ela diferente.

Não era "tara ou tesão por meia-calça" o que eu tinha (muito menos vontade de usar uma), chamava essa peça de "realçador de beleza feminina". Sério, não era tara, era "achar bonito".

Sabe quando o ônibus tá cheio e, DO NADA, se esvazia? Aconteceu. E, na ultima fileira, a meia-calça e eu. Um do ladinho do outro.
Aí surge aquela situação estranha: ônibus vazio, você sentado exatamente ao lado de uma unica pessoa numa fileira com cinco espaços: o que fazer? ficar ali, de boa? Puxar assunto? Trocar de assento? Trocar de assento para melhor visualizar aquela Meia-calça.
E o que a pessoa poderia estar pensando? "Será que esse cara vai ficar aí mesmo? Será que ele é um daqueles 'carentes puxadores de assunto'? Será que é um tarado? Sequestrador? Cadê meu celular? Ah... tá aqui, assaltante ele não é?"
Meu olho até doía de tanto olhar de canto àquela meia-calça.
Já que não era meu ônibus usual e nunca mais veria essa meia-calça; então, vomitei:
- Oi, você quer que eu troque de lugar?
- Pode mudar, se estiver incomodado.
- Não, e você?
- Daqui a pouco é meu ponto...
Droga!
- Escuta, você faz Direito onde?
- Como você sabe?
- Acho que já te vi por aí... - Mentira! Só não quis compará-la às garotas que conheço. Até pois, ela era meio desleixada, como eu gosto.
- Estudo na Faculdade de Direito Curitibana.
- Então, confundi, estudo na Advocatícia.
- Legal... tchau.
Não se vá! Além da meia-calça, teu olhar e tua voz são tão... quero mais.
- Tchau...

Despertador tocou, me arrumei e parti pra minha orgulhosa rotina de trabalho + faculdade. Estava esquecendo algo, mas até que não me fizesse falta, não me importaria.

E lá vinha meu ônibus lindão, saudades. Só quando entre e sentei no meu lugar, lembrei do que havia esquecido. Justamente, porque essa coisa estava no ônibus. Num lugar diferente de outrora, não me viu. A dona da meia-calça, com outra mais bonita ainda. Talvez, não fizesse tanta questão de sentar no mesmo lugar de sempre quanto eu fazia. Ela era "tão marcante" que nem lembrava dela. Mas esse segundo encontro, não deve ter sido por acaso. Alguém ou alguma coisa queria esse segundo encontro ou estava apenas zoando comigo. 
Será que lembra de mim? Era meu platonismo maldito perguntando. Mas mudei de pensamento pra não me mutilar, pra não querer quem não me queira.
Ela me viu, oh não, veio até mim e perguntou:
- Oi, você quer que eu troque de lugar?
- Senta aí, Meia-Calça...
Quê?
- Meu nome é outro, mas pode me chamar assim, haha, gosto mesmo de meia-calça.
- É, você fica muito bem nela. - Isso foi uma cantada ou uma opinião fashion? Nem sei.
- Isso foi uma cantada ou uma opinião fashion?
- Não sou gay...
- Não foi isso que perguntei. E se fosse, problema?
- Você é?
- Não...
- Quer sair comigo?
Quê?!
- Quê?
- Desculpa...
- Pra quê "desculpa"? Tá desfazendo o pedido?
- Não, calma, quer dizer...
- Se eu falar que você fica bem de barba (mesmo sem te ver sem), vai me achar que é uma cantada ou que não me depilo?
- Quê?
- Já foi no Mystic Caffe?
- Não, onde é?
- Próximo ponto.
- Vamos?

Descemos e entramos de corpo e mente numa coisa que continua sendo impulsiva, bagunçada e, majoritariamente, linda. Linda igual a Meia-calça.

2011/04/26

Hoje não teve "eu te amo"

Eu era grosseiramente estúpido com todos. E Alice sentia-se fortemente magoada com isso, mas sabia o quanto me esforçava para expulsar essa deficiência. Eu me esforçava, mudava por ela.

- Uma vez, na escola, eu...
- Alberto, pergunta ali no balcão quanto é a impressão.
Sentia-me magoado quando, enquanto falava, era interrompido por alguém. Qualquer ser que fosse. Pior:  sentia-me grosseiramente magoado quando era interrompido 812649 vezes num mesmo dia. Era coisa minha por ter sido mimado na infância. Necessidade de atenção.

-Meu ônibus está vindo, tchau.
-Não! Você não vai nesse. Ainda é cedo!
- Eu quero, tô com fome.
Vasculhando sua bolsa, a procura de seu cartão-transporte, ignorava minha súplicas de "fica mais!". Encontrou o cartão. Disse tchau, veio querendo meu abraço. Recusei e peguei seu cartão dizendo a ela pra ir no próximo.
-Logo tem outro, espera!
-Não, quero ir! Me dá o cartão!
-Fica mais. Quero mais.
-Se você não me der essa merda agora...
Não entreguei-lhe o cartão, o onibus passou, ela entrelaçou seus braços, fez cara de brava e calou-se. Sem palavra alguma, perdoei todas as interrupções daquele dia, que me entristeceram temporariamente. Aliás, existe "tristeza permanente". Não, é só querer que ela morre. Mas pode ressuscitar, é só deixar.
Não tirava meus olhos de sua face, sorria; e ela, calada. Não fazia questão que ela dissesse qualquer coisa naquele momento, principalmente se fosse algo forçado. Se é forçado, não diga. Só a queria ali, sendo alvo dos olhares mais sinceramente apaixonados da minha vida Alice. Só queria aproveitar a presença daquela garota que era minha gasolina, minha motivação para respirar, dormir, sonhar, acordar,  levantar, sonhar acordado, o propósito do meu viver.
O silêncio era sua arma. Me fuzilava, me assustava. Passou-se um tempo.
-Aproveitou bastante esse momento?- Disse ela com sua fina e agressiva ironia.
-Claro, melhor ter você calada do que não ter você, ficar sozinho todo tristonho e cheio de saudade.
Eu aproveito sua presença, não seu silêncio. Não, até seu silêncio eu aproveito, até ele me faz bem. Porque é seu, e todo teu ser me faz bem, mesmo que também me machuque.
-Tchau.
- Quê? É só isso: tchau?
-Você não merece.
"Ahr, Alice, eu mereço, sim. Por tudo que fiz, faço e farei por você." Disse eu aos meus botões.
- Como assim, "não mereço"? Vá se ferrar! - Disse eu à minha droga.
Seu ônibus vindo e eu desesperado pensando que ela partiria sem, ao menos, um abraço. Me olhou, sorriu, veio a mim, me abraçou, me beijou. Foi forçado. Eu sabia quando era forçado. Não era espontâneo: não era ela. Só eu consigo ver tristeza no fundo daqueles olhos sem-cor-definida, mesmo quando ela faz o máximo para não parecer. Eu via uma mágoa no fundo de sua alma. Ela forçava pra não me deixar mal.
Sou contra "falsidade", mas aceito exceções severas. Ela simulava alegria pra não me ver triste. Você sabe quando uma pessoa te ama quando ela não deseja te ver triste, mesmo que ela esteja triste. Você sabe quando uma pessoa te ama quando ela se importa contigo, mesmo quando você estiver com raiva dela e do mundo. Você sabe quando alguém te ama quando só ela vê coisas reais e bonitas em você, como se existisse um óculos peça unica para ver o que você tem de bom. Visão raio-x de beleza interior. Alice tem esse poder, além de inúmeros outros, como o de tornar-me um viciado na melhor e unica droga do meu mundo: ela.

Tivemos, naquele dia, pouco menos de uma hora de "nós". E nós, idiotas, desvalorizamos aquele curtíssimo tempo.
Somos um belo par de idiotas. É com essa idiota que eu quero o agora, o amanhã e o depois. Mesmo com todos nossos defeitos e cismas, me sinto tão feliz e vivo e ahr em tê-la.
Não protestei aquele ato forçado, podia ter sido só minha impressão. Apenas dei-lhe um forte abraço. Ela fugiu pois seu onibus estava saindo.
-Alice, quê? Não fuja de nós.
Me olhou novamente com seu olhar "forçado", e entrou.
Triste por vê-la partindo, esperei que ela me olhasse para que pudesse ver com que olhar ela estava partindo. Era um olhar quieto. Ela estava triste, eu sabia.
Triste por não ter ouvido ela dizer "eu amo você". Não quer dizer que ela não me ama mais. Quer dizer que estava triste. Ela, com sua alegria espontânea, dizia-me toda hora "eu amo você".
Triste por vê-la partindo mostrei-lhe meu dedo do meio. Meu mais raivoso "eu te amo"

Em casa, às 21h e pouco, sem sinal qualquer de Alice, me sufocando, me segurava pra não ligar pra ela ou sair correndo até sua casa. Meu celular alerta mensagem. Não podia ser ela, pois perdera seu aparelho dias atrás.
Número desconhecido - 18: 36: "A gente é bem maior do que qualquer drama", seu idiota.
Era ela.

Pra muitos, "idiota", "retardado", etc, é ofensa a um(a) namorado(a). Pra nós, é carinho. Casais normais se chamam de "mor", "morzinho", "morzão", "agugugudadaajshkasjbdsdfjniaeopl"... Bom, não éramos um casal, muito menos normais.

Ahr, ela me ama., eu a amo, tô com sono, amanhã apareço na casa dela de surpresa cheio de amor, carinho, saudade, necessidade.
Aí você me indaga: "Alberto, e se não houver amanhã?" Dane-se, se tudo acabar, que acabe. Eu vivi, me aventurei, fui feliz, fiz alguém feliz, e andei por aí com alguém que desejei muito. Passado importa quando não existe futuro.

2011/02/19

Vomito arquivado

Teu cheiro
no meu cheiro
eu quero sentir
eu quero ter
eu quero ressentir
eu quero reter
eu quero
eu quero mais
e não quero esquecer
e não quero perder

Distração

Vivemos para nos distrair, pois sabemos que vamos morrer.
Viver é distrair-se da morte. Você sabe que vai morrer, então vive pra se distrair. Vive pra passar o tempo. Vive esperando a morte. Você nasce pra morrer.
Mas até chegar este momento tão misteriosamente desconhecido, a morte, você deve e precisa e necessita viver. Viva. Intensamente. Loucamente. Incoerentemente. Com convicção. Com responsabilidade; ou sem, às vezes. Com amor. Com liberdade. Com pressa. Com lentidão. Com respeito. Com lembranças. Com vitórias. Com derrotas. Com porradas. Com carinhos. Com tudo. Com nada. Com explicações. Com ...