Na rua, enquanto o ônibus estava parado a espera do sinal verde em frente a um bar, uma mulher de blusa vermelha - mostrando a barriga, mini-saia preta, sandália amarela e cabelos castanhos encaracolados, sorriu para ele. Num banco próximo, um senhor de boné preto e camiseta azul (o resto do vestuário era invisível devido a estrutura do veículo), depois Marcel resgatou em sua memória que o homem era avô de um primo dele, o encarava. Ainda no ônibus, uma moça se espantou ao ver dois rapazes se beijando na rua, mas logo foi repreendida por quem aparentemente, segundo as conclusões de Marcel, devia ser sua mãe.
Nada disso realmente importava e não passaram de distrações momentâneas. Ele não pretendia ir o caminho todo para casa observando transeuntes e passageiros. Marcel não queria grande coisa. O que ele desejava devia não ter mais que um metro e setenta (talvez mais, o rapaz não era bom em deduzir altura de pessoas). Marcel pensava nela. Ele queria voltar atrás, que fosse obrigando o motorista a pegar um retorno. O rapaz desejava voltar e rever aquele sorriso. Pensou seriamente e enviar uma mensagem dizendo… Qualquer coisa que a fizesse entender definitivamente, por mais que ele já tenha tentado demonstrar com seu jeito estranhamente distorcido de dizer, suas intenções. Às vezes nem ele mesmo entendia o que dizia, mas sentia e isso já lhe era suficiente. Quer dizer, ele não estava suficientemente completo; Marcel tinha certeza que ela seria capaz de trazer-lhe algo que preenchesse os vazios, de ambos.
Ele ficou bastante encantado quando, ao se despedirem, ela citou uma frase que viram durante a caminhada ao ponto de ônibus. Por ela, para que ele pudesse viver mais e passar mais tempo com ela, Marcel evitaria morrer e, caso ela gritasse “Se eu precisasse de você, você viria? Você viria e aliviaria minha dor?”, sim, ele iria.
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