Ainda calados, chegaram ao quarto de hotel e se separaram. Ele entrou no banheiro, carregando uma muda de roupas em mãos, para se trocar - sim, apesar da intimidade, que, além deles, só o escuro daquele lugar presenciou, tinham vergonha de outras intimidades, como trocar de roupa em frente ao outro -, e ela abriu seu computador para ver se a psicóloga amiga de uma professora havia respondido o email sobre uma vaga de emprego nesta cidade - segredo - e se aconteceria uma reunião/entrevista no dia seguinte. Assim que o rapaz saiu do banheiro, enquanto ele arrumava algumas coisas em sua mochila, a moça disfarçou singelamente, mudando de página, fechando a caixa de entrada sem respostas, e logo abandonou o notebook, abriu o frigobar e pegou o whisky que haviam comprado na noite anterior. Ainda imersos em silêncio, tomou um baita gole no seco e ofereceu ao moço, que tomou quase a mesma quantia que ela. A garrafa foi abandonada no criado-mudo.
Separaram-se novamente, ainda pensando no que conversaram há menos de uma hora. Encostada na janela e de costas para a rua, reflexiva e roendo unhas encarando o chão, disparou:
- Eu… - viu então que ele, antes deitado observando o teto, sentou na cama assim que ela abriu a boca - Vou embora...
O rapaz levantou seu comprido corpo assustado, aproximou-se, fitando o fundo daquela que começara a ficar com os olhos vermelhos como se para ver o reflexo de seus próprios olhos e encontrar, em sua mente, algum motivo que a fizesse ficar. Alguma resposta. Qualquer coisa para resolver este caso. Talvez dizer que estava vivendo os quatro melhores dias dos últimos cinco meses. Mas ela não deu tempo:
- Calma… - esperou que ele retrucasse como tanto fez nesses quase quatrocentos dias, mas nada. Não exatamente agora. Só queria falar que… - então despejou-lhe uma enxurrada de palavras que tentariam provar que os dois deveriam, sim, continuar se vendo, mas, também, sim, poderiam encarar a distância como algo que os ajudasse a fortalecer essa relação. Queria construir uma ponte forte e bonita que conectasse Curitiba a São Paulo, Braavos a Porto Real ou a cabeça tão pesada do jornalista ao colo instável daquela que já não sabia mais se queria se formar psicóloga, tanto faz, desejava arquitetar um plano para que o relacionamento funcionasse, mas sabia que planejamento poderia estragá-los. Após um silêncio criado como se para reavaliar o que pretendia dizer, seguiu: - … Eu gosto de você e quero continuar, mas … - O rapaz se sentou na cama, ainda encarando a mulher, impactado pelo peso do que ela lhe dizia, queria se levantar e dar-lhe o maior abraço do mundo, mas achou melhor não interromper o monólogo da moça iluminada pelo poste de luz em frente a janela do quarto - … Eu não quero um acordo. Isso pra mim seria sinônimo de comodismo, que só estraga as coisas. Tem muita coisa aqui dentro... - Deslizando a mão aberta do peito à garganta - Tá tudo muito bagunçado e eu quero me organizar pra poder seguir. Eu não quero te machucar, seria muita ingratidão minha estragar algo entre nós, mas a vida sempre acha um jeito de me derrubar, de fazer eu me perder, de arranjar uma forma para eu machucar as pessoas… Por mais que não queira machucar, acabo machucando. E não quero te machucar… Eu me perco e me afundo, cara, e… Ah...
O rapaz levantou seu comprido corpo assustado, aproximou-se, fitando o fundo daquela que começara a ficar com os olhos vermelhos como se para ver o reflexo de seus próprios olhos e encontrar, em sua mente, algum motivo que a fizesse ficar. Alguma resposta. Qualquer coisa para resolver este caso. Talvez dizer que estava vivendo os quatro melhores dias dos últimos cinco meses. Mas ela não deu tempo:
- Calma… - esperou que ele retrucasse como tanto fez nesses quase quatrocentos dias, mas nada. Não exatamente agora. Só queria falar que… - então despejou-lhe uma enxurrada de palavras que tentariam provar que os dois deveriam, sim, continuar se vendo, mas, também, sim, poderiam encarar a distância como algo que os ajudasse a fortalecer essa relação. Queria construir uma ponte forte e bonita que conectasse Curitiba a São Paulo, Braavos a Porto Real ou a cabeça tão pesada do jornalista ao colo instável daquela que já não sabia mais se queria se formar psicóloga, tanto faz, desejava arquitetar um plano para que o relacionamento funcionasse, mas sabia que planejamento poderia estragá-los. Após um silêncio criado como se para reavaliar o que pretendia dizer, seguiu: - … Eu gosto de você e quero continuar, mas … - O rapaz se sentou na cama, ainda encarando a mulher, impactado pelo peso do que ela lhe dizia, queria se levantar e dar-lhe o maior abraço do mundo, mas achou melhor não interromper o monólogo da moça iluminada pelo poste de luz em frente a janela do quarto - … Eu não quero um acordo. Isso pra mim seria sinônimo de comodismo, que só estraga as coisas. Tem muita coisa aqui dentro... - Deslizando a mão aberta do peito à garganta - Tá tudo muito bagunçado e eu quero me organizar pra poder seguir. Eu não quero te machucar, seria muita ingratidão minha estragar algo entre nós, mas a vida sempre acha um jeito de me derrubar, de fazer eu me perder, de arranjar uma forma para eu machucar as pessoas… Por mais que não queira machucar, acabo machucando. E não quero te machucar… Eu me perco e me afundo, cara, e… Ah...
nunca um fim foi tão poético
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