2016/02/17

15 metros ou Insistência ou desistência

Após meses distanciamento, o tempo destila todos os sentimentos existentes em uma relação - romântica ou de amizade -, deixando restar apenas aqueles que realmente fundamentaram o contato, memoráveis, ignorando aqueles que fizeram tudo desmoronar, na maioria das vezes. Neste episódio específico, o que aflorou naquele que lia na lanchonete não foi toda a amizade de quatro anos que teve (ou ainda tinha?) com aquela que estava no ônibus, que passava em frente ao lugar onde ele se encontrava, mas o amor, o romance, o platonismo ao qual se deixou afundar com o passar dos dias ao lado de, segundo, ele mesmo, a pessoa mais afetuosa que se arriscou a entrar em sua vida conturbada, levando para o fundo todo o afeto fraternal que havia. Depois daqueles seis segundos passados entre o ônibus surgir no espaço em frente a fachada da vidro da lanchonete e desaparecer seguindo o fluxo da rua, logo virando na primeira esquina à direita, despertou o amor afogado, o carinho rememorou os brilhos flamejantes que o atingiam diariamente quando ainda acreditava que ela seria - ou deveria ser - sua companheira para a vida, a cama, as festas, os trabalhos, as viagens, as gestações, o fim.

A insistência dele em permanecer romântico, o romântico clássico, do tipo que sangra (figurativamente, por favor, sem equívocos) por amor e morre por sequelas do sentimento, e o altruísmo benevolente que transborda afeto dela, mantendo próximo quem estivesse (de algum modo, psicologicamente) danificado para que tentasse consertar tal pessoa.
A harmonia entre eles se manteve por meses, anos, através de um código criptografado por desconhecidos, até que uma epifania (possivelmente) coletiva gerou a repulsão de qualquer intenção de se derramar de amor por ela ou ser a barragem de contenção para ele, a ausência de saudade, o desentendimento sobre desejar a amizade ou tudo e amizade ou estudar uma psiquê desgraçada.


Tão rápido quanto o encontro e o ressurgir de algum sentimento maior foi o desmoronamento do mesmo, depois de as lembranças dolorosas invadirem a mente daquele que tentava retomar sua leitura, mas não desfocava os pensamentos daquela que esteve presente por tanto tempo em sua instável vida, poucas pessoas conseguiam.

O que ocorreu dias após essa colisão poderia ser narrada, mas não possui relevância para quem ainda possui (que seja, um pouco de) fé na continuidade de qualquer relação entre aquela que apertava a mão de seu cônjuge no ônibus, agarrando-se a certeza real que sentia ao estar a poucos dias de mudar de cidade e de vida, e aquele que lia um livro por semana para se livrar das memórias corrosivas de pessoas que haviam partido ou encontrado um canto melhor que o seu poço de traumas para repousar.

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