2016/12/29

Zero


Grita comigo para que meus defeitos se assustem, deixem-nos em paz e saiam pela janela, que está aberta, e que o vento entre, deslize pela cama amaciando a tua pele que meus dedos magnetizados não conseguem deixar de acariciar. O afeto se desmancha quando me permito ser a minha pior parte na tua frente e sei que tem vontade de ir para nunca mais voltar, melhor dizendo, você deve ter vontade de me expulsar da tua casa, gritar da janela um discurso que acorde toda a vizinhança que não mais me permitiria entrar na tua casa, sequer pisar na tua rua novamente, jogar minhas roupas na rua e me deixar queimar no calor de dezembro. Tua raiva contida causa a miragem de que está tudo bem por enquanto, mas sei que não está, despropositalmente deixo vestígios do que não quero mais ser, sem que eu perceba a maquiagem escorre e você consegue enxergar meu antigo personagem, aquele que tentei assassinar repetidas vezes, mas insiste em se expor quando estou vulnerável. Seja minha cúmplice ou mate o antigo eu por conta própria, assumo a responsabilidade de levar a culpa e de encontrar um novo eu - ao teu lado.
Que seja um caso de um mês ou dois (ou vários, assim desejaria), mas não mereces ter o meu pior nem ouvir de mim as palavras mais cinicamente corrosivas, nem você nem ninguém. Que o pior que você possa ver de mim sejam minhas crises alérgicas abraçando seu família felina ou minhas mordidas ansiosas em minhas próprias mãos ou minhas bebedeiras colossalmente vexaminosas que resultam em machucados de origem imemorável e diálogos em outros idiomas sem nexo algum. Que ainda haja em você um tanto de insistência nisso que temos e vivemos, seja lá o que for, ah, eu gostaria, apesar de meus tropeços. Que você grite comigo tudo o que quiser, grite também para o mundo tuas vontades. Que os teus escândalos sejam a fonte da mudança.

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