2009/12/06

Cegueira proposital - Não me deixe sangrar

Algumas pessoas se assustavam com minhas atitudes, em relação à Norah. Depois de tudo o que ela fez e não fez comigo, eu ainda a amava. Isso sim, é amor, platônico de verdade. Por mais que o tempo passe, por mais que ela tenha me humilhado, por mais que tenha mudado, eu simplesmente não parava de amá-la. Depois de alguns anos de abstinência, sem saber onde ela estava, tudo aquilo que senti voltava a superfície. Quando ela partiu, adorei, porque teria a oportunidade de não vê-la mais, e esquecer tudo que me atormentava. Mas amor platônico é assim, não morre, parece que sim, mas ele engana. Na verdade, ele só está bem escondido no fundo do coração. E eu consegui cavar um buraco bem fundo e escondido para Norah, pois não conseguia mais encontrá-la, mas o que aconteceu, ela ressuscitou, e trouxe todos os fantasmas da minha adolescência. Alguns se converteram em amor, e preocupação- pois ainda não a encontrara-, mas os mais fortes trouxeram lembranças, péssimas lembranças.
Recordei de tudo que fiz para impressionar quem pouco se importava com minha existência. Lembrei de todos os lugares que frequentei para observá-la. Recomprei todas as roupas que usava para chamar a atenção. Mas a atenção de Norah era cara e surda.

Estava tão inconsequente que saí de casa, àquela hora da madrugada, à pé. Alvo fácil de qualquer ladrão. Tinha carro e bicicleta, mas o retorno inesperado de Norah me deixou atordoado, e não me deixou pensar em meio de transporte.
No caminho para o Largo, passei pela praça Osório e em frente a um snooker bar da mesma rua. E isso me fez lembrar de uma coisa, quero dizer, uma pessoa. Por incrível que pareça, não era Norah. Como pude esquecer de Sofia?
Não era exatamente minha amiga, muito menos minha namorada. Mas confesso que tínhamos uma relação muito diferente de qualquer uma.
Ela sabia de todos os meus segredos, eu sabia de todos seus segredos. Sabia de todo o meu passado, eu sabia de todo o seu passado. Sabia de todos meus romances que deram errado, eu sabia de quantos homens ela havia gostada. Sinceramente, eu conhecia ela mais do que qualquer um. Ela me conhecia por inteiro. Mas não sei o que nos impedia de assumir um namoro formal. Creio que se fossemos fazer isso, tudo daria errado. Então era melhor manter essa relação louca e sem rotina. Ela saia com quem quisesse, eu pegava quantas pudesse. Nós aceitávamos tudo o que o outro fizesse. Era um caso sem aliança qualquer. Quando um precisasse do outro, era só chamar.
Mesmo eu estando com outras. Mesmo ela pegando outros. Nós sabíamos que encontraríamos carinho, conforto, alegria, confiança e apoio quando estivéssemos juntos.
Eu, apesar do passado, era aparentemente comportado. Mesmo tenho uma juventude rebelde. Ela, apesar da beleza, era toda suja e alcoólatra. Mesmo sendo de uma família religiosa. Nós fazíamos um casal bonito, interessante.
Mas eu sentia a necessidade de ter um tempo sem ela. Não sabia explicar ao certo, mas hoje sei que o motivo para isso, estava jogado em alguma sarjeta, esperando alguém. A morte ou eu.
Acredito que eu era o único homem a realmente gostar de Sofia. Tornava seus defeitos, grandes qualidades. Simplesmente ignorava seus erros, e aproveitava ao máximo sua bondade. Eu fui cego ao não perceber que eu a deixava realmente feliz e motivada a viver mais, ao meu lado. Eu era quem ela mais desejava.

Mas o que me assustou naquela madrugada dominical foi simplesmente eu esquecer de Sofia. Esquecer de nossa relação. E me preocupar com uma desgraçada que ferrou toda minha adolescência.
Depois de voltar no tempo e me distrair com a loira do snooker bar, começo a andar mais atento. Pois me aproximo do Largo da Ordem e sei que Norah está próxima.
Sabia que ela estaria perto do Opera, mas não conseguia encontrar nada parecido com uma bela moça que não via há muito tempo. Só alguns moradores de rua e uns bêbados desmaiados. Passei por um corpo que puxou minha perna e disse:
-Você demorou!

2 comentários:

  1. "-Você demorou!"
    ai D:

    Você tem o poder de conseguir prender minha atenção. hihi.

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  2. Nossa *---*' Não sei se é fictício, ou tem partes reais (porque parece), mas amei isso! Sei o que é platônico, na prática. Amo coisas assim! Continua? Por favor? skaoksoak' amei, mesmo mesmo!

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