2010/02/01

Uma baratinada monstro a dois (Parte DOIS) - Não me deixe sangrar

"Eu entrei em pânico ao saber que esta era a casa em que viveria e aquele era o rapaz que a dividiria conosco. Era igual ao anão amarelo do filme "Sin City", asqueroso, feio e deformados. Sebás, partiu em sua direção e o abraçou fortemente. O monstro veio em minha direção, Meu amor disse meu nome, e ele todo efusivo exclamou: Norah, é um prazer recebê-la em minha casa! Fique a vontade.
Tentou me abraçar, mas com nojo, evitei. Quando percebi, Sebás, estava sobre a mesa aspirando aquilo que Jardel manuseava quando chegamos. Assustada perguntei a Sebastião o que ele estava fazendo. E ele, todo enrolado, me perguntou o porque do espanto e aquilo seria só o começo.
Corri em direção a porta, mas Jardel, ligeiro, bloqueou meu caminho, impediu que eu fugisse me mostrando uma arma, e disse:
- Ô, eu disse que a festa está só começando! Então, senta lá, que nós temos uma história.
Olhei para Sebás, que estava entretido com o que estava na mesa, e pedi socorro. Ele me encarou e gritou:
- Senta logo, idiota! E ouve a história.
A partir desse momento senti um ódio mortal daquele que era perfeito para minha vida, mas mudou ao entrar naquela casa. Furiosa, corri em sua direção e ele repetiu "Senta logo!", e me deu um soco, que me fez cair, depois disso, desmaiei.
Acordei atordoada e ferida, mas logo sensações novas fluíram por mim. Um certo calafrio, misturado com euforia, tranquilidade, sonolência, calor, cegueira e dor de cabeça. De repente, senti uma pequena dor nos braços. Olhei, e vi dois furinhos com um pouco de sangue, um em cada braço. O sangue já estava seco, o que provava que adormeci por um bom tempo. Estava deitado no sofá, pelo menos o favor de me acomodarem eles fizeram. Não havia ninguém na sala. Queria saber onde estavam e o que fizeram comigo. Levantei, meio zonza, e vi uma seringa suja e alguns objetos jogados na mesinha de centro. E pelos meus conhecimentos, eles haviam injetado heroína em mim. Pretendia experimentar isso, mas não tão cedo assim, e nem quando estivesse dormindo, que covardia deles. Apesar da boa sensação que sentia, estava furiosa com todas as mentiras que me cercavam desde que conheci o Maldito Sebastião.
Meu Deus! Se é que Ele ainda cuida de mim. Naquele momento, Ele foi o primeiro alvo de minhas críticas. Uma vez li num livro de meu pai uma frase polêmica, "Se existisse um Deus bondoso e todo-poderoso, teria feito exclusivamente o bem", e pensando na minha vida, sempre tratei meu pai bem, nunca cometi algum pecado tão grave, nunca fiz nada de grave com outras pessoas..."
-Oi? Repete a ultima frase, por favor?- E, Tomas, o ouvinte atencioso ataca com sua ironia. Apesar de estar entretido com a história, a ultima fala de Norah não podia passar limpa.
-Tá... eu sei. Mas na situação que estava não raciocinava muito bem. Posso continuar? Não durma!
-Pode, claro! Sinta-se à vontade!
- Então... "Possuída por um ódio fulminante, não tive vontade de fugir. Estava xingando Deus e o mundo, quando eles chegaram, trajando umas roupas escuras e com sorrisos enormes em seus rostos. E o anão amarelo disse:
-Tá mais tranquila, agora?!
Fiquei quieta pois a raiva me impedia.
- Tá, é? Tá calminha? - chegou mais perto de mim, enquanto Sebastião preparava alguma coisa de costa para nós- Tá de boa? Então, vamos conversar?
- Fala logo, seu cretino podre!
- Podre, não! Não fala assim do teu novo chefe! - Finalmente Sebás olhou para mim. Acendendo um "cigarrinho".
Ainda meio lesada caminhei na direção dele. Encarei-o e perguntei o porque de todas aquelas mentiras e juras de amor.
- Calma, gata! Tu acha que se eu dissesse que iria te trazer à Portugal para trabalhar para nós, você viria?
- Filho da... - Como Dama, deveria ter dado um tapa, mas a raiva fez com que eu o socasse, bem no nariz. Voltei a sentar no sofá e perguntei:
-Quando é que eu vou embora? Eu quero sair!
- Poxa, a gente te dá duas "picadas" e você quer sair sem retribuir? - E o monstro amarelo falou.
- Vocês não deviam ter feito isso! Poxa, picar uma pessoa desmaiada é covardia! - os dois se encararam - E, como assim, "patrão"?
- É o seguinte, madame, escuta o patrão aqui...
E ele contou, quero dizer, anunciou meu futuro, tudo o que viveria nos próximos anos.
Seria obrigada a morar com eles, realizar tarefas domésticas (e sexuais); trabalhar para eles, vender os seus produtos e se necessário, meu corpo. Seria escreva deles, faria o que eles bem entendessem. No fim do mês, ganharia mais trinta dias de vida, comida, a droga que quisesse e a garantia de que meu estivesse vivo. Prometeram que se eu discordasse deles ou tentasse fugir, fariam de tudo para me destruir, atingindo meu pai. Mostraram-me todo seu arsenal, e eu indefesa e pressionada, aceitei aquilo que seria minha vida nos próximos dezessete meses.
Bem, poderia relatar todas as minhas experiências, mas são muitas então iria demorar meses para terminar. Só digo que foi uma época horrível. Sofri, apanhei, tive overdose, cometi os piores pecados, fiz coisas sem ter vontade, etc. Mas vivi tudo isso, estragando meu corpo e minha mente, para garantir que a vida de meu pai continuasse intacta. Em Portugal, fui obrigada a fazer muitas coisas sem o meu consentimento; nunca fui de receber muitas ordens, mas precisava assegurar a saúde de meu pai. Uns meses depois desde minha chegada lá, consegui juntar uma boa quantia, que cobriu minhas despesas de viajem, então decidi enviar dinheiro ao meu pai, sem qualquer carta ou explicação, porem não sei se ele recebeu.
Um ano e meio depois, o anão amarelo queria que eu fizesse programa com seu irmão e mais um casal, e, acredita, o velho era mais horripilante que o anão. Recusei, mesmo sendo obrigada e sabendo que meu corria riscos caso eu recusasse. Estávamos na cozinha, enquanto eu preparava um sanduíche ele preparava uma picada. Comecei a me irritar com seus gritos me obrigando a obedecê-lo. Pensei em tudo o que tinha se passado até então, e concluí que se meu pai não tivesse morrido de desgosto quando fugi, ela já estaria no fundo do poço, igual quando perdeu Margarethe, sua segunda esposa falecida, e minha madrasta. Comecei a pensar em mim, precisava mudar de vida, realizar meus sonhos que havia abandonado em Curitiba. Sebastião nunca estava em casa, o que facilitava minha fuga. Com uma faca no bolso, caminhei até o anão, olhei bem para ele e disse "Não!", em seguida, dei cinco facadas em sua barriga, peguei a seringa e perfurei seu pescoço três vezes. Ele caiu, desanimado, sem vida. Me ajoelhei e dei mais algumas facadas no corpo dele. Fui até o quarto, peguei só minha mochila pois não tinha roupas limpas, vasculhei as gavetas dos rapazes, peguei todo o dinheiro, e todas as drogas, que consegui. Fugi, finalmente. Precisava sumir daquela cidade, daquele país, mas não tinha verbas suficientes para retornar ao Brasil. Vaguei, sem esperanças, até a auto-estrada mais próxima. Encontrei um placa dizendo "Paris 1734 KM, Madrid 628 KM, Barcelona 1409 KM...". Era meu sonho conhecer a capital francesa, mas como não sabia falar francês mas sabia espanhol, decidi na hora em ir para Barcelona, arranjar algum dinheiro e para voltar ao Brasil. Consegui carona com um caminhoneiro italiano, mal nos entendiamo mas ele entendeu um pedaço da minha historia e concordou em me levar até Barcelona, era caminho para ele, que estava voltando para sua terra após uma entrega.
Enfim, cheguei em Barcelona não fazendo ideia do que faria a a partir daquele momento. Encontrei um hotel três estrelas chamado "Recanto Tropical", que para minha sorte era de brasileiros. Me hospedei lá. Perguntei para a recepcionista, brasileira, se ela sabia onde eu poderia arranhar emprego, ou qualquer outra fonte de renda, respondeu:
- Sim, estamos precisando de uma auxiliar de cozinha. Você precisa ter dezoito anos e alguns documentos, mas se não tiver, nós damos um jeito.
- Nossa, que ótimo! E quando começo?
- Antes você precisa ser entrevistada pela gerente do hotel.
- E onde está ela?
- Bem aqui, na sua frente. Vamos até minha sala conversar, por favor.
Então, fui entrevistada e contratada. Ganhei desconto no aluguel de um quarto, e trabalhei lá por dois anos. Já havia feito amizade com o povo brasileiro e integrada à vida noturna da cidade. Ganhei muito dinheiro com as coisas que roubei da casa de Lisboa. Fiz algumas amizades, mas uma em especial me ajudou muito. Ninguém sabia seu nome real, mas todos a chamavam de "Rachel Lux, la brasileña". Ela me fez abandonar a estadia e o emprego no hotel, para morar com ela, dividir despesas e trabalhar com ela em uma livraria. Nos tornamos grandes irmãs, compartilhamos histórias, vícios, segredos e sonhos. Ela também queria voltar ao Brasil. Trabalhamos duro para conseguir o dinheiro, e depois de muito tempo conseguimos voltar. Na véspera da viagem, brigamos seriamente por causa de um certo vício meu. Ela voltou para sua terra natal, e eu, destruída e sem reputação voltei para cá, sem esperanças de encontrar alguém.
Eu já nem sei se meu pai está vivo hoje. Nem sei o que aconteceu nessa cidade desde que sumi. E quero que você me conte tudo."

2 comentários:

  1. Você permanece o mesmo, po mais que eu demore para vir aqui. A diferença é que você encontra-se em uma evolução constante, uma evolução nata e sensível, dispare.
    Admiro seu talento.
    É um excelente conto, voltarei para ler a continuação.

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  2. Cadê a parte um? Não entendi LHUFAS!

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