2010/04/22

Impedimento

Era um feriado no meio da semana, e Alberto aproveitou para assistir o show de um artista de que há muito tempo não assistia.
Antes do espetáculo, ele estava sozinho, quando encontrou ao acaso um grupo de antigos amigos. Decidiu ficar com eles, para fugir da solidão e das tentações.
Toda a poesia cantada pelo artista, um de seus favoritos, o fazia viajar mentalmente, mesmo estando em um lugar onde refletir era difícil; pelo simples fato de estar lotado de pessoas, suor e luzes.
Apesar de um grande pesar, Alberto aproveitava o show. Cantava as musicas que possuíam algum significado para ele, observava atentamente todo o talento dos musicistas, se encantava com o talento poético do cantor...
Mas nos intervalos entre as músicas, ele olhava para seu peito, pegava seu cordão, lembrava de quem o havia dado, e entristecia.

Aquele cordão, Alberto ganhara de sua namorada, Alice, e significava muito para ele.
Ela, não pode ir àquele show, pois precisou viajar de imediato para o interior catarinense visitar um parente adoentado. Deixando Alberto sozinho e desmotivado.
O relacionamento dos dois começou depois de um show, onde Aberto vendeu o ingresso de um amigo, que não pode ir, a Alice. Na mesma noite começaram a conversar e perceberam grandes interesses e ideias em comum. Nos dias seguintes, encontraram-se para conversar mais e mais. Quando perceberam, já eram dependentes químicos um do outro. Fazendo assim que nascesse um grande romance. Onde não havia apenas amor, mas também, respeito, confiança, liberdade...
Alice salvou a vida de Alberto que, antes de conhecê-la, era um garoto perdido e atormentado pela luxúria.
Ele era tão viciado nela que nenhuma garota roubava sua atenção. Nenhuma. Pode ser clichê, mas: ele só tinha olhos para Alice.
Alberto não era bonito, mas possuía boas roupas e ideias claras, que tornavam sua feiúra invisível.
Alice era linda, mas não era só isso que fazia Alberto amá-la.

Aquele show estava super-lotado, mas Alberto só se importava em ouvir as versões ao vivo de músicas que o agradavam em qualquer momento, de paz ou tristeza.
Quando foi anunciado que o show chegava à suas últimas músicas, o local começou a esvaziar, possibilitando que Alberto pudesse ver pessoas que antes não podia ver. Foi numa dessas, que ele viu algém que o fez voltar no tempo. Nos tempos em que Alice era desconhecida, e qualquer garota o atraía.

Heloísa, estava lá. Heloísa, a grande paixão carnal de Alberto da vida pré-Alice.
Os dois tiveram um caso movido apenas por atração física.
Não havia qualquer conversa ideológica entre os dois. Apenas um desejo carnal nunca satisfeito. Eles tinham a necessidade de se tocaram, mas só isso. Conheciam-se pouco, ideologicamente. Mas conheciam muito bem o corpo um do outro.
Quando separados, sentiam a necessidade extrema de sentirem a pele do outro. Quando juntos, nunca estavam satifeitos.
Eles não assumiram um namoro. Até mesmo porque é impossível existir romance movido apenas pelo desejo carnal. Mas eles não ficavam com outras pessoas. Os dois se desejavam, mas não se entendiam.
Se encontrvam sempre, shopping nos dias de semana, qualquer show aos sábados e domingos.
Até que, um dia Heloísa viajou à França para fazer um intercambio. Albertou soube disso através de amigos. E decepcionou-se por não saber pela boca de Heloísa, que sumiu sem avisar.

Meses depois, Alberto, já não lembrava de Helóisa, e conheceu Alice, que transformou sua vida, de indecente para real. Ele sentia-se vivo pela primeira vez na vida.
Sentia dores quando longe de Alice. Tinha batimento cardíaco acelerado quando encontrva Alice. Sentia.
Já nem sabia mais quem era Heloísa, nem lembrava de toda aquela paixão ardente que viveu com ela.

Heloísa estava ali, a cerca de cinco metros dele.
Tocava uma música que o fez lembrar de muitos momentos vividos ao lado de Heloísa.
Com seus olhos fixados naquela, que havia mudado, Alberto já ignorava qualquer coisa que o rodeava, até mesmo a Música. Ele não parava de olhar para ela. Era como se a visse pela primeira vez. Era como se ela fosse desconhecida. Era como se fosse paixão a primeira vista. Era como se Alice não existisse.
Até que Heloísa encontra os olhos de Alberto a mirando intensamente, e logo disfarça. Olhando para o palco, não deixa de soltar um olhar apreensivo e surpreso. Cutuca uma amiga, e comenta qualquer coisa no ouvido da amiga. A amiga olha para Alberto e se assusta. A amiga puxa Heloísa, como se quisesse fugir. Mas Heloísa não quer. Olha mais uma vez para Alberto, solta um sorriso tímido, e logo disfarça, olhando para o palco.
Heloísa mudara muito desde o último encontro com Alberto, mais de dois anos antes daquele reencontro. Alberto estava encantado com aquele novo estilo de Heloísa. Um tanto quanto Francesa. Mas fisicamente, ela mudara pouco. Ela tinha o mesmo olhar, inocente, que fizera Alberto se encantar, e querer a todo instante aquela moça.
Sua vontade naquele momento, era ir ao encontro de Heloísa e dizer tudo o que sentisse vontade.
Todo aquele fervor que sentia, voltara. Queria agarrar, beijar, tocar, sentir o suor daquela moça. Mas algo o impedia.
Ele pouco se importava com os sentimento de Heloísa. Ele queria, ele desejava, ele necessitava, tocar aquela moça. Tocar seus lábios nos lábios daquela moça. Mas algo o impedia.
Aquele encantador olhar não havia mudado. A fome de Alberto aumentava a cada instante; ele precisava ter em seus braços aquela moça. Mas algo o impedia.
Ele percebia que ela também necessitava tê-lo entorno de seus pequenos braços.
Aquela baixa estatura não mudara. Aumentando vontade de carregar aquela moça aonde o vento levasse. Mas algo o impedia.
Ele estava disposto a ir até a moça e dominá-la como nos tempos antigos. Mas, por impulso do subconsciente, ele agarrou seu cordão. E, qualquer toque ao cordão, fazia que a imagem de Alice aparecesse à sua mente.
Imediatamente arrependido, Alberto parou de observar Heloísa, e focou-se nas luzes do palco, que o cegavam, como penitência. Alberto lembrou de quem não deveria ter esquecido. Alberto não parava de tentar lembrar dos sorrisos de Alice. Alberto precisava de um abraço, que só Alice sabia dar. Alberto necessitava da presença de Alice.

O show acabou. Alberto despediu-se dos amigos e partiu. Foi para sua própria casa, que ficava à poucas quadras de onde o show ocorrera. Alberto foi correndo, como se fosse ao encontro de Alice. Alberto correu, desejando esquecer aquela moça do show. Esqueceu, quando quase foi atropelado por um táxi. Esqueceu, quando chegou em casa. Esqueceu, quando ligou seu rádio e dormiu ao som da música que amava ouvir ao lado de Alice. Dormiu, como se esivesse com Alice.

Acordou, com o barulho de seu celular. Era Alice ligando. Atendeu, e lembrou que aquela voz no outro lado da linha, era o que o motivava a viver. Ela estava chegando na cidade.

Sem preocupações ou lembranças ruins. Alberto correu ao encontro de Alice

2 comentários:

  1. Seria bom se todos os caras fossem iguais ao Alberto! E por experiência minha, aposto que Heloísa era loira... hasiuhauihasdus

    Ótimo texto, conseguiu prender minha atenção do início ao fim. No aguardo da continuação, rs.

    Abraço ^^'

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