Introdução
Dezembro de 1921: Vitório conhece Madalena.
Fevereiro de 27: Madelena se cansa de Vitório.
Estudo de caso
Vitório era o bom moço criado pela mãe. Toda mulher desejava
poder chama-lo de genro. Sempre cheio de respeito, perfume e paixão.
Dedicava-se demais a seus vícios, desde um brinquedo a um livro, até que se
enamorou com Madalena. Ela mudou sua vida. E pôs um fim nela também.
Madalena era a menina espevitada. Seus pais temiam que ela
pudesse cruzar a linha do pudor. Porém, sua hiperatividade só durou até sua passagem
a adolescência, aí iniciou um autorrespeito obrigatório as moças daquela idade,
daquela cidade, daquela época.
Aquarela era aquela cidade utópica onde era raro ver
tristeza ou impureza. Desenvolvimento em suas diversas vertentes. Parece que
quem era errado da vida não conseguia permanecer lá. O prefeito, Teodoro, era
incrivelmente honesto em seu cargo. Utopia. Certamente, se quisesse, poderia se
tornar Imperador do Universo. Mas ele não era santo, não em relação a sua
ninfomania: secretária, faxineira, cunhada, cozinheira, garçonetes. Sua
solteirice e sua beleza o permitiam.
O mal do século XX: Depressão (ou dinheiro)
Uma doença, inconscientemente, contagiante.
Uma doença, inconscientemente, contagiante.
O romance
Vitório possuía um romantismo surreal. Só os escritores sentiam
isso, no mundo ideal. Todo isso encantava e atraía Madalena cada vez mais e mais.
Ela já não se enxergava sem toda a romantização. Ele simplesmente romantizava
sobre tudos, até os atos cotidianos alheios que não tinham relação com o Amor.
Esse rapaz era católico apostólico romano praticante nas curvas
de Madalena. Sua idolatria era demasiada, porém sincera. Era impossível
descrever os sentimentos desse jovem apaixonado.
Essa moça não rejeitava isso, precisava disso. Para apagar
seus traumas infantis. Assassinar o próprio pai não foi tarefa fácil e
aceitável, mas a sociedade só não a exorcizou pois ela tinha 7 anos. Enfim, era
a melhor coisa que ela podia sentir: ser amada.
Só o romance predominava nesse caso. Não havia diálogos
sobre a vida, sociedade e tal. Não queriam isso. Só prazer. Sem seriedade.
Desde o início, esse romance foi como um salto de
paraquedas: intenso, corajoso, refrescante. Fato é que Vitório se jogou sem proteção.
Madalena o deixava vivo para se manter segura. Protegida. Estável. E ele tinha
convicção de dizer “estou vivo, me sinto vivo, pode vir o que vier, aguentarei
para manter minha menina viva.” Ele não era ciumento, nem chato, nem grudento.
Só precisava da existência dela, precisava acreditar que ela sua salvadora. Seu
Deus.
Não era. Não pode haver amor, se não existir reciprocidade.
Não é amor, é idolatria cega.
Ninguém atormentava a relação dos dois. Nem família, nem invejosos
(as), nem possíveis affairs. Mada não sentia necessidade de outro homem, o sexo
de Vitório era prazeroso. Vitório pensando em outra: automutilação no coração
com faca de peixeiro enferrujada.
Madalena despertou, numa certa manhã, enjoada. Uns dias após
passar uma noite com Vitório escondida na igreja. Vitório teimou em aceitar a
gravidez, não queria ter que compartilhar seu amor por sua mulher com outro ser
vivo. Mas os dois não cogitavam abandonar o bebê. Porém, ela não queria ter a
responsabilidade de cuidar de uma boneca de porcelana viva. Felizmente,
infelizmente, sofreu um acidente quer resultou na morte do feto. Inconsolados,
o casal precisava seguir.
Inconformado, Vitório fizera de tudo para reviver Madalena,
doou todo sua paixão, até a que não possuía. Transplantou toda sua alegria para
o corpo enfraquecido da acidentada. Ela não tinha poder pra cuidar de uma
criança, mas era injustiça sagrada perde-la de tal maneira. Tornou-se descrente
desde então, só tinha olhos para Vitório. Ele o mantia viva.
Ela ressuscitou. Apenas para constatar que não aguentava
mais Vitório. E foi direta:
- Amor, não te quero mais.
- Para de anedotas, Madalena!
- Não preciso mais de você.
O rosto dela explicava mais que qualquer palavra. Aquele
olhar, desconhecido de Vitório, explicou tudo. Desde o início.
A cidade
Aquarela era uma cidade de duas ilhas. Sem segregação, as
duas eram importantíssimas ao crescimento dela. Tanto que havia dois centros,
Contudo, apenas barcos interligavam os dois nichos. Teodoro, o visionário,
criou o projeto de duas pontes: uma exclusiva para um bonde, outra para
pedestres e veículos diversos.
A ideia de um bonde elétrico já era futurística demais aos
cidadãos de Aquarela. Já a arquitetura daquela ponte do bonde era...
emocionante.
O enterro
Vitório não podia, e nem queria, acreditar no que Madalena
fizera com ele. Era inaceitável, irracional.
Ele tinha tudo num dia; noutro, nada. Nem vida.
Perambulava pela cidade atrás de algo que pudesse prendê-lo.
Mas seu Ateísmo Madalena criava um ceticismo ignorante em tudo.
Até que ele a conheceu: a ponte do bonde. Simplesmente a
coisa mais bela que Vitório pode apreciar após Madalena expulsá-lo de sua vida.
Havia nada mais tranquilo que pudesse consolar aquele menino
abandonado. Passava horas na praia das pedras avistando aquela bela combinação
entre mar e ponte do bonde. Ele ficava anestesiado, apaixonado pela vista. Como
se não quisesse outra coisa. Desejava permanecer ali infinitamente. Seu
romantismo sugeriu algo que ele aceitou de imediato.
No dia de seu aniversário, acordou, perfumou-se, vestiu o
mesmo terno que trajava na ocasião em que conhecera Madalena e deixou o bilhete
“Minha vida acabou; meu amor por ti, nunca!” na porta da casa dela. Apressou-se
para pegar o bonde das 7h20, que segundo seus cálculos passaria pela ponte às
7h36 (horário de seu nascimento). Julgava importante morrer no mesmo instante
de seu nascimento. Ao ponto que o bonde se adentrou na ponte, Vitório
levantou-se. Chegando na metade, pulou.
Aqueles 134 metros de altura proporcionariam uma leveza que
nunca sentira, nem mesmo com Madalena. Ele sentia que o mar o acolheria de
braços abertos. Ele necessitava de carinho. Ele não quis prender sua
respiração, logo então partiu ao desconhecido campo da morte.
A ponte
A nova primeira dama da cidade insistiu para que Teodoro
nomeasse aquele lugar fúnebre como: A ponte de Vitório. Madalena não queria
morrer com remorsos. Sentiu como se estivesse pagando uma dívida. Porém, amor
não pode ser financiado.
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