Dedicado à...
I. Susto
Já não lembro se eu estava apenas
sentado ou esperando algo. Ela simplesmente apareceu do além, sentou-se ao meu
lado e soltou um efusivo “oi”. Só. E ficou me encarando sorridente. Respondi
com um tímido “olá” e me desabrochei num sorriso ofegante. Depois do susto,
enfim, pude inspirar toda a beleza que passeava pelo ambiente. Era demais.
E ela continuou me encarando,
sorrindo. E disse:
- Lembra-se de mim?
Meu Deus, como é que eu não
conseguia me lembrar desse rosto? O impulso me fez responder sinceramente:
- Não, de onde nos conhecemos?
- Brincadeira, a gente nem se
conhece. Na verdade, eu só queria me sentar aqui e ficar na minha, mas aí você me olhou. Como é seu nome?
Além de tudo, além de linda, é
estranha.
II. La Magia
Ao contrário do primeiro, este
nosso novo encontro fora arranjado, mas demorou pra acontecer.
Seu cabelo crescera, sua beleza
também. E seus olhos ainda possuíam a mesma magia hipnotizadora.
Questionei-me sobre as razões que
poderiam ter levado aquela moça tão bonita a me encontrar por aí.
Questionei-me sobre as razões que me levaram ao despertar de um imenso desejo
de repetir a dose.
Nada acontecera de romântico no
primeiro encontro, nada. Sem xavecos. Meu radar não apontara nenhuma indireta
de sua parte. O que consegui perceber foram duas pessoas se conhecendo
informalmente, conversando sobre assuntos aleatórios e tragédias alheias, sem
querer saber da naturalidade ou escolaridade do outro.
Neste novo encontro, não rolou um
alegre cumprimento, mas um abraço ligeiro, porém
sincero e carinhoso. Eu só temia que isso fosse um convite à friendzone.
Quanto mais álcool, mais vontade
de tê-la em meus braços. Seus beijos. Acordar e me deparar com aqueles grandes
olhos verdes. Quanto mais tempo juntos, mais a mágica me atraía.
Contudo, nenhum de nós expressava
desejos. Ela, apesar de dizer muitas coisas com seus lindos olhos, não
demonstrava coisa alguma além de gostar das nossas conversas. Eu, apesar de
louco, precisava de mais intimidade pra me abrir.
III. Nelson
Há quase um mês distantes, não
conseguia excluir da memória o efeito daqueles sorrisos e o encanto daqueles
olhos.
Não queria impor nada a ela. Não enquanto ela não desse seu sinal. Toda mulher tem uma
frase, um gesto, que autoriza o homem a se aproximar e se apaixonar.
Mostrei a ela minha real
personalidade, a fim de atraí-la sinceramente, sem criar um personagem perfeito
impossível de se manter.
Conheci suas aventuras alcoólicas.
Algumas embaraçantes. Não devo me preocupar com o que uma pessoa fez a fim de se
entreter, ela é quem deve fazer sua própria análise de consequências. Aliás, também
não sou santo, ninguém é, o que diferencia é o quanto alguém expõe das suas
verdades e o quanto ela é condenada por elas. Dane-se.
Eu queria mais doses daqueles
olhos, daqueles sorrisos, daqueles risos, daquele “oi”. Figurava em mente
momentos que poderíamos viver juntos. Transformei cenas românticas de diversos
filmes em sonhos protagonizados só por nós dois. Eu estava num maldito cold turkey
Aprendi com minha mãe que 3 é meu
número. Segundo ela, minha vida seria guiada por ele.
Um abraço mais forte que o último
inaugurou o terceiro rolê.
Ela estava mais encantadora ainda.
- Nossa, você está muito linda e
sorridente hoje. O que está te deixando assim? – tudo certo, eu estava seguindo
um roteiro mental para chegar à minha confissão.
- Ai... O cara que eu gosto
finalmente se declarou pra mim. E me pediu em namoro semana passada!
Maldito número 3.
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