Aquela cara de bêbada, oh meu Deus. Aquele sorriso fechado,
minha nossa Senhora. Aquela franja torta, mas que coisa.
Não há talvez: Com toda a certeza de todos os universos, não
posso ficar com ela. A tal menina não me pertencia, nunca me pertenceria.
Um conjunto alcoolizado de rosto, cabelo, olhos, olheiras e depressão.
Eu faria um templo em homenagem a sua beleza, mas seria
doentio. Eu poderia montar um museu para deixa-la lá em exposição eternamente.
Eu devo deixar de nóia e apenas continuar admirando a moça.
Se Deus escreve certo por linhas tortas, aquela mulher era o
TCC do doutorado sobre a perfeição.
Uma gata de vinte e poucos com uma cara de quem bebe muito desde
os quinze. Sempre com aparência de ressaca. Seus olhos flutuantes não param
quietos, por mais interessante que o diálogo esteja, ela não consegue olhar a
um só lugar. Parece que não está prestando atenção, mas sempre prova o
contrário.
Eis uma coisa que ela só faz bêba: mostrar os dentes. Conte
sua melhor piada a ela numa tarde sem álcool e não verá reação alguma. Diga “dromedário”
ou alguma coisa tosca a ela no meio de um porre e veras o sorriso mais gostoso
do mundo. Por mais que seja um sorriso torto, meio escondido, é mais belo que
duzentas Zooey Deschanel juntas. Verdade exageradamente sincera, sério.
Aquele cabelo, o mesmo de milênios, segue a tendência
fashion mais invejada: beleza. Aquele cabelo sem penteado, sem corte, sem
jeito.
A garota mais deprimida que já conheci. É depressão com
pessimismo e café, sem açúcar. É agradabilíssimo sentar ao seu lado e ouvir suas
lamentações, coisas que todos nós negamos. Ela não tem a utopia de perfeição.
Os padrões de
sensualidade a detestam. As revistas abominam suas olheiras. Sou o presidente-fundador
da ONG que defende a eternidade dessas olheiras. Na minha lista de combinações
favoritas, a pele branca em contraste com as rodelas marrons só perde para pão
e queijo. Seus olhos já são um negócio absurdo, trabalhando ao lado das
olheiras me fazem acreditar em hipnose. Gasto uns bons minutos observando.
O conjunto da obra é algo que as tartarugas ninja jamais
conseguiriam imitar.
Uma estrutura sem jeito. Uma coisa desajeitada. Uma overdose
de beleza.
Não me martirizo por não tê-la. Não dói. Não é amor. Não é
desejo. É apreço. Se eu a namorasse, perderia o tempero. Se eu a namorasse,
minha feiura a contagiaria. Se eu a namorasse, infelizmente, enjoaria daquela
beleza toda. Se eu me apaixonasse, uma bruxa má roubaria sua beleza. Melhor eu
não me aproximar demais, meu interesse se foca à observação somente.
Ah, seus textos...
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