2012/08/09

Menina da rua #1


Aquela cara de bêbada, oh meu Deus. Aquele sorriso fechado, minha nossa Senhora. Aquela franja torta, mas que coisa.

Não há talvez: Com toda a certeza de todos os universos, não posso ficar com ela. A tal menina não me pertencia, nunca me pertenceria.
Um conjunto alcoolizado de rosto, cabelo, olhos, olheiras e depressão.
Eu faria um templo em homenagem a sua beleza, mas seria doentio. Eu poderia montar um museu para deixa-la lá em exposição eternamente. Eu devo deixar de nóia e apenas continuar admirando a moça.
Se Deus escreve certo por linhas tortas, aquela mulher era o TCC do doutorado sobre a perfeição.
Uma gata de vinte e poucos com uma cara de quem bebe muito desde os quinze. Sempre com aparência de ressaca. Seus olhos flutuantes não param quietos, por mais interessante que o diálogo esteja, ela não consegue olhar a um só lugar. Parece que não está prestando atenção, mas sempre prova o contrário.
Eis uma coisa que ela só faz bêba: mostrar os dentes. Conte sua melhor piada a ela numa tarde sem álcool e não verá reação alguma. Diga “dromedário” ou alguma coisa tosca a ela no meio de um porre e veras o sorriso mais gostoso do mundo. Por mais que seja um sorriso torto, meio escondido, é mais belo que duzentas Zooey Deschanel juntas. Verdade exageradamente sincera, sério.
Aquele cabelo, o mesmo de milênios, segue a tendência fashion mais invejada: beleza. Aquele cabelo sem penteado, sem corte, sem jeito.
A garota mais deprimida que já conheci. É depressão com pessimismo e café, sem açúcar. É agradabilíssimo sentar ao seu lado e ouvir suas lamentações, coisas que todos nós negamos. Ela não tem a utopia de perfeição.
 Os padrões de sensualidade a detestam. As revistas abominam suas olheiras. Sou o presidente-fundador da ONG que defende a eternidade dessas olheiras. Na minha lista de combinações favoritas, a pele branca em contraste com as rodelas marrons só perde para pão e queijo. Seus olhos já são um negócio absurdo, trabalhando ao lado das olheiras me fazem acreditar em hipnose. Gasto uns bons minutos observando.
O conjunto da obra é algo que as tartarugas ninja jamais conseguiriam imitar.
Uma estrutura sem jeito. Uma coisa desajeitada. Uma overdose de beleza.
Não me martirizo por não tê-la. Não dói. Não é amor. Não é desejo. É apreço. Se eu a namorasse, perderia o tempero. Se eu a namorasse, minha feiura a contagiaria. Se eu a namorasse, infelizmente, enjoaria daquela beleza toda. Se eu me apaixonasse, uma bruxa má roubaria sua beleza. Melhor eu não me aproximar demais, meu interesse se foca à observação somente.

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