2013/02/26

Rabugento


- Tô meio louco, tô meio que pensando em chamar a "communal blood" pra sair. Preciso desestressar, ando muito irritado com as pessoas e com a minha solidão.
- “Communal” quem?
- Aquela garota que te falei esses dias, que sempre “está por aí” e tem uma tatuagem com esses dizeres no braço.
- Ah... A ruiva? Aquela que vimos dançando no Blues e te hipnotizou.
- Ela mesmo. Não sei, acho que passou da hora de eu ficar sozinho.
- Mas você tem uns amigos por aí... Tipo eu!
- Não é dessa solidão que tô falando. Eu falo da solidão... afetiva.
- Você quer namorar novamente então?
- Não, quer dizer, não no sentido comum de "namorar", muito menos do jeito que foi meu último namoro. Eu simplesmente quero alguém.
- Mas não é você o mestre do platonismo? Não é você que se contenta em apreciar de longe?
- Cansei desse título.
- E agora?
- Justamente, e agora? Também não faço ideia. Só sei que tô cansado... Preciso me soltar. Preciso explodir. Preciso de alguém. Eu sempre precisei de alguém. Não, não estou sendo ingrato com meus amigos, mas é que eu preciso de alguém que me dê carinho. Que seja por palavras, carícias, olhares e tais coisas. Eu preciso de carinho, conforto e um tanto de sorrisos. Aprendi demais com meus erros e relacionamentos passados, se bem que são quase a mesma coisa. Mas, por mais que eu pareça um egoísta hedonista falando isso, eu também preciso que alguém precise de mim. Não digo que a pessoa vá morrer na minha ausência - nem eu na ausência dela, mas quero que essa pessoa consiga viver longe de mim, mas cheia de saudade. Não quero uma gêmea siamesa que vá a todos os lugares que eu for. Até porque se ela gostar exatamente das mesmas coisas que eu, eu estaria namorando o espelho. Tem que ter piras semelhantes, mas não todas. Eu gostaria que ela ficasse me ouvindo falando três horas sobre os filmes mindblowing que eu assisto, porque simplesmente eu retribuiria de alguma forma. Mas eu definitivamente não quero ser um casal social, daqueles que só se encontram pra algum evento, mostrar aliança no dedo e "alterar seu status para em um relacionamento sério". Eu quero precisar dela, mas não quero viver dependente dela. Eu quero espaço também, sou chato com as minhas coisas. Eu não quero casar, longe disso. Eu quero alguém. Sei que estou choramingando demais, mas eu amo reclamar. Se bem que dizer “amo” é meio idiota.
- Você ainda acredita em amor?
- Considere-me um pessimista. Prefiro não esperar por ele, comecei a desconfiar que ele seja somente uma ilusão pra acomodar e distrair as pessoas. A maioria vive à espera dele, mas, se ele vem, na maioria das vezes, acaba decepcionando no final.
- Você está falando sobre amor ou Deus?
- Os dois já me decepcionaram muito.
- Será que a fonte de toda essa decepção não seja você mesmo?
- Talvez. Eu penso demais. Eu sinto demais. Queria simplesmente deixar as coisas... Just go with the flow. Mas eu insisto em ser um calculista planejador que tem medo de arriscar.
- Será que arriscar-se no desconhecido não seria melhor que ter uma decepção?
- Mas eu tô pensando seriamente nisso. Pensando... Ê, mania!
- Então chama a “communal blood” pra sair logo!
- Mas eu teria que bolar uma aproximação no facebook do tipo “oi, como vai, tudo bem, o que anda fazendo de bom...” e toda essa formalidade boba. Acho isso ridículo.
- Se não for assim, como?
- Por que tem que ser desse jeito? Eu me indigno desse jeito. Não sei socializar desse jeito.
- Encontre alguma forma de chegar nela e chama-la pra sair, seu sociopata. Mas sem parecer um psicopata, maníaco, taradão...
- What about... “Ô, guria dos olhos hipnotizantes, eu sei que cê gosta filmes, quer sair comigo pra assistir uns e conversar sobre eles?”
- Você é estranho!
- Eu sei. Chega de maria parafina, gasolina, rolamento, palheta, baqueta, bisturi... Eu quero encontrar uma que se atraia pela minha estranheza.

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