Antes de tudo, como prevejo que continuas uma convencida egocêntrica, logo aviso: Este texto é sobre você, mas não é uma súplica de volta
pra mim.
Estava lembrando... Como sempre, lembrando... Vivo preso à
elas, as lembranças. Mas apesar disso, não são meu combustível. Você era.
Lembrei de um certo abraço que me deste. Quando tudo já estava
em pedaços. Quando eu estava em ruínas e você veio apreciar sua obra
destrutiva. Na época do tal evento (e ainda hoje), não me restavam esperanças
de te ter novamente. O que havia era dor e saudade. Dor por ter amado demais,
saudades por amado demais. Faziam, o quê?, uns quatro meses
que minha reabilitação começara e dormimos na mesma casa. E eu dormi mesmo, não
fiquei sonhando acordado desejando que você viesse ao meu colchão e me beijasse. Não
estava para masoquismo naquela ocasião. Eu estava bem, apesar de tão perto de
você. Mentira, não estava nada bem, roubaram minha bicicleta na noite anterior.
Acordei com você se jogando em cima de mim, me abraçando, dando "bom dia..." justamente como
fazia quando eu dormia na tua casa. Eu amava quando você chegava me sacudindo,
me descobrindo pra me acordar. Preciso te confessar uma coisa: geralmente, eu
acordava antes, mas gostava tanto da tua bagunça, que fingia estar dormindo, mesmo que tivesse acordado uma hora antes. Eu
gostava desses apertos e de muitas outras estranhezas suas, mas deixei de
querer pra seguir meu caminho, que bifurcou-se do teu. Mas por que você veio me
dar esse abraço? Por quê? Não que aquilo tenha ressuscitado meu desejo por
você, mas cê me deixou confuso. Cê tava pensando o que? Que eu era teu homem?
Que tinhas intimidade suficiente pra fazer aquilo.
Ah, você teve muita intimidade comigo, como nunca ninguém
teve. Sou de me prender e evito me soltar com qualquer pessoa. Mas quando
eu conseguia me soltar... Só você testemunhou o tamanho da intimidade que eu
tinha quando finalmente me soltava com alguém. Só você descobriu o peso do meu ser ao me sentir leve perto de alguém. Eu conseguia voar e mostrar o que eu realmente era. Porque eu me sentia seguro. Sem
medo de levar porrada. Além das minhas bizarrices, você sabia da quantidade de
porradas que eu levara na vida, mas, mesmo assim, teve vontade de me desbravar. E eu
fui, me joguei, saltei sem medo. Dediquei-me a você. Tu eras minhas religião.
Aí eu caí, quebrei a cara, tornei-me cacos de vidro. Estou ainda tentando me
recompor, mas você me bagunçou demais e me fez perder algumas peças desse
quebra-cabeça que sou eu.
Quando acabou, parei imediatamente de ser teu íntimo.
Evitava abraços, toques, sorrisos ou qualquer coisa que eu costumava fazer, por
exemplo, quando assistíamos aquelas tuas séries. Aliás, nunca mais quero
vê-las.
Porém, quando acabou, você não se distanciou, manteve a
intimidade. Continuou me tratando como se eu fosse teu homem. Não, você não
tinha o direito de fazer isso comigo. Eu poderia achar, nessa minha mente
paranoica, que você me queria de volta.
Me diz, esse abraço foi um sinal? Porque, assim como você e
a Robin Scherbatsky diziam, “toda mulher tem um sinal!”. Você mesma viu que
meu radar pra esse tipo de coisa era bem lento. “- Você já quis me beijar? –
Já...” Nada fiz. Enfim, se você usou aquele abraço como sinal, vacilou. Mas
tenho muita certeza que não, não foi um sinal. Foi um simples gesto de carinho
íntimo. Tipo de coisa que eu não queria mais de você. Eu precisava manter-me
limpo desse vício que foi você.
Eu te amei, menina, como eu te amei... Não nego. Negar esse
tipo de sentimento é coisa de gente ingrata e orgulhosa. Tenho orgulho de dizer que fui felicíssimo ao teu lado. O que eu não farei é dizer que foi tudo
uma porcaria. Teve umonte de coisa errada, claro, somos humanos idiotas. O maior problema foi ter acabado. Analisando
melhor, foi ter começado, pois se eu não tivesse falado contigo e me apaixonado
(não nessa ordem talvez), eu não teria te amado e não teria que sofrer com o
término.
Falando em sofrimento... Eu sofri? Não. Quer dizer, não,
comparado a outra perda específica. Mas o que eu posso dizer é que você liberou o Kraken,
que emergiu trazendo de volta minha depressão. Porque eu não me lembro de estar
contigo e passar por tempos de extrema melancolia. Sim, você me rotulava como
uma pessoa melancólica, mas você viu nem a metade desse meu poder. Aliás, você
liberou esse monstro e fugiu (não no sentido covarde) antes de vê-lo em
atuação.
(Na entonação que você proclamava) Certeza que você tá
achando que eu tô te querendo de volta. Você, sempre tão egoísta, egocêntrica,
convencida, orgulhosa e cheia de cismas deve estar pensando que isso não passa
de uma última súplica. Não! Não! Nãããããããããããaãaãããããããã~ôôôôôô!
Não é. Tenho convicção suficiente pra dizer que não te desejo mais. Poderia
dizer pra soar vitorioso e revoltado: Desejo que você morra. Mas não sou do
tipo que deseja o mal. Eu supero. Assim como fiz com a bruxa de Joinville, a
garota do sonho, a fake paulista, entre outras, eu larguei mão de você. Tudo
bem que todas essas paixonites de colégio e internet não podem se comparar a você no
tamanho do amor, do companheirismo, da filhadaputice, do carinho ou da dor.
Assim como os heróis, todos precisam de uma última missão
para poderem se aposentar. Pra eu finalmente me livrar de você, tenho uma
última tarefa: encontrar uma nova pessoa pra viver... A banda que você nem ouve
mais diz que “lá pode ter um novo amor pra eu viver” e é certo. Pra te
esquecer, preciso de outra pra lembrar. Falar “outra”
faz parecer que desejo uma nova cópia de você. Longe disso! Quero uma pessoa
diferente, mas que tenha somente uma coisa em comum contigo: vontade de mim.
Moça, a gente não consegue esquecer as pessoas. O que
fazemos e tratamos como “esquecimento” não passa de substituição. Você
troca uma pessoa por outra pessoa, um livro, uns filmes, uma mania, uma fobia, uma
depressão e a lista continua... A gente não esquece as pessoas, a gente as guarda numa caixa selada bem lá no fundo da memória. A gente tem que trancar a lembrança num caixão selado, enterrar bem fundo na penumbra da memória e perder a chave.
Se você dont give a shit pra mim, parabéns. Estou no processo de dizer o mesmo. Aquele abraço.
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