2013/07/20

Praça das ilusões

Descia a rua de rua casa com a mente focada em tirar seus sapatos, fazer seu macarrão e assistir qualquer filme. Parecia um cavalo selado seguindo as instruções do condutor. Porém, não conseguia desviar da tradição de cortar pela Praça pra ver se encontrava algum dos cachorros que costumavam perambular por lá. Possuía uma ansiedade de olhar para todos que passeavam ou repousavam por lá, vai que encontrava alguém conhecido ou alguma alma interessante. Quase ao fim do atalho, olhou para trás da grande casa que havia lá e percebeu um casal deitado. Olhou para os dois, percebeu que a moça o observava, ignorou, olhou para frente, surgiu-lhe um calafrio, retornou seu olhar para eles e viu quem ela era. Acordou assustado, suado e indignado. Sonhara novamente com aquela garota. Segundo sonho em duas noites seguidas.

Ele chegou a desejá-la por um tempo devido a grande compatibilidade de interesses, mas um romance era inviável. Cada um possuía seus motivos para não se afundarem um no outro ou nunca tiveram coragem para debater tal possibilidade. O negócio foi que ele conseguia esquecer essa novela. Mas ela era um fantasma, aparecia constantemente em sua rotina sem ser convidada. Uma intrusa que lhe roubava a atenção e invadia seus pensamentos. Ele insistia em lutar contra isso, contra ela, contra os pensamentos. Felizmente, quando ela sumia, era por bastante tempo.

Estava num restaurante, sentado com três amigas numa das mesas externas do recinto. Antes de as encontrar, matou tempo na livraria que ficava do outro lado do calçadão onde ficava o restaurante. Conseguiu controlar seu vício e saiu da loja sem livros ou dvds. Nenhuma delas havia chegado ao encontro, todas atrasadas. Então se sentou no banco em frente a livraria e esperou. Chegaram e foram ao restaurante.
Enquanto uma das amigas fora ao banheiro, ele divagava sobre o efeito que determinado filme exercia sobre ele:
- Não sei, ao mesmo tempo que esse filme me fascina, ele me assusta muito... - Expressava-se com olhares aleatórios para a rua - E nem é um filme de terror. Assisti várias vezes já e sempre fico atordoado... - Até que mirou seu olhar ao banco onde se sentara anteriormente.
Exatamente no mesmo lugar onde ficou, estava a tal moça dos sonhos. Interrompeu sua fala, ficou mudo, mas logo a amiga retornou e os puxou a outro assunto.
O olhar do rapaz se prendia à moça, que, obviamente, estava acompanhada de seu namorado.
Ele já nem ouvia mais o que suas amigas diziam. Ficava figurando coisas. Imaginando. Pensou em chegar no banco onde os dois estavam, falar "ô, rapaz, dá licença, vai embora" e ficar ali sentado com a moça.

Era maior que ele, obrigava-o a se afundar num desejo indesejado, mas ele sorria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário