Negamos a felicidade, pois nos privamos da dor. Sabemos que,
com certeza, tudo acabará. Seja entre nós ou você e aquele cara ou eu e aquela mina. Tudo acaba entre todos.
Tudo acaba. Eu partirei. Tu partirás. Ela partirá. Ele
partirá. Nós ... Vós ... Eles... Elas... “As
pessoas vão embora!”
Utópico pensar no “para sempre”. Sabemos que é besteira
acreditar plenamente nisso. As pessoas pensam demais no futuro e esquecem de
fazer o presente. Planos, promessas, juramentos... Sou muito mais a fim de
presenciar os momentos e eternizá-los na memória, mas, assim que partíssemos cada
um ao seu rumo, todas essas lembranças se despedaçariam e sumiriam com o vento.
O problema não é amar, é o depois. É viver infectado pelas vivências passadas que
percorrem as veias sugando todo seu potencial para sobreviver. Depois que o
romance acaba, a dor da saudade machuca. Obriga-nos substituir o vício que
tanto nos satisfez. Depois que o romance acaba, a corrente está tão enrolada
que nos faz sangrar ao tentar fugir.
Dirão que insisto nas paixões antigas, mas não. Não. Hoje,
são apenas lições. Do que fazer. Do que não fazer. Do que sentir. Do que não
sentir.
Negamos a felicidade, pois nos privamos da dor. Não é
proibição imposta. Apenas moderamos. Para evitar que um de nós cisme em
acreditar na longevidade desse romance. Pode durar 214 dias. Pode durar 30
anos. Pode durar um flerte no ônibus. Pode durar uma tragédia. A gente não tem
que saber prever, a gente tem que fazer. A gente tem que ter vontade pra começar,
terminar e partir.
No fundo, quem sabe, estejamos tão pessimistas apenas ansiosos
para viver um romance cativante. Talvez esse pessimismo não passe de inveja sobre aqueles que conseguem
viver algo forte. Mas eu sei até que os castelos mais estáveis desabam.
Tenho histórias pra contar. No fundo, quem sabe, essa alergia ao amor seja só autoproteção. Medo.
A gente sente saudade do que não tem. (Ter alguém). Aliás, “ter” é algo simplesmente utópico. As pessoas “possuem” por pura
convenção. Ninguém pertence a ninguém, mas viver com a sensação que faz parte
do cotidiano de alguém... Tira a insônia e traz calma. O
problema está em priorizar demais essa posse intangível. Impor que alguém é o mais
importante na vida já começa errado e piora cada vez mais conforme a neurose
possessiva aumenta.
Portanto, o que quero dizer é que não quero ser teu, não quero
que sejas minha. Não ligo se você sair com outros caras. Desde que você deseje
passar um tempo comigo, ficarei bem. Passar um tempo ao seu lado
(presencialmente). Aguentar teu pessimismo, tua agonia, teus plurais. Mas não me peça para te ajudar a solucionar teus outros casos, afinal não quero que deem
certo. Não, não quero que sofras. Sou sádico, mas não quero que sofras. Acima
de tudo, sou egoísta e quero que passes mais tempo comigo do que com qualquer
outra pessoa, mas não quero te prender.
Privamo-nos da dor e talvez seja por isso que não
encontramos a felicidade. Desse modo, acabamos por nos proibir de existir. Enfim.
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