Numa região repleta de prédios públicos, profissionais e estudantes de Direito, ele se alimentava de seu livro, um queijo quente e um chá gelado. Era o segundo dia em que repetia seu novo ritual: sair do trabalho (que ficava na quadra vizinha da lanchonete), fazer seu pedido, sentar-se na mesa nº 15, abrir um livro e permanecer ali até a hora de ir à faculdade.
Distraído com a história que lia, não olhava para o sanduíche que comia, não media o tamanho da mordida. Com a boca lotada de queijo e pão, olhou pra fora e viu, na calçada oposta, uma moça de casaco amarelo. Ela veio atravessando a rua na direção da lanchonete e Evandro tentava identificar se a pessoa lhe era conhecida. Não reconheceu, mas não tirou o olhar da moça. Ele nem mastigava mais apesar de sua boca ainda estar cheia de comida. Fora pelo fato de ela ser linda, seus batimentos aceleraram ao vê-la entrar no mesmo lugar em que ele estava.
Como a mesa 15 era uma das mais próximas da rua, numa espécia de ambiente externo (porém fechado), ele não conseguiu mais ver a moça, que, certamente, estava no balcão fazendo seu pedido.
Tentou retomar sua leitura, mas estava acelerado demais para juntar letras. Apesar do nervosismo de motivo desconhecido, conseguira terminar de mastigar a mistura que estava petrificando em sua boca. Sentado na direção da rua, começou a olhar por sobre os ombros a fim de ver onde a moça se sentaria. Mirou rapidamente seu olhar ao livro quando viu que ela estava vindo. A moça loira, de olhos azuis, casaco amarelo e de altura que batia nos ombros de Evandro (ele não era bom em chutar alturas alheias), sentou-se no outro canto da "área externa" da lanchonete, sob um quadro com copos cheios de suco desenhados.
O rapaz tentou se ajustar na cadeira, estalar os dedos, focar-se no livro, mas se perdia todo e não conseguia ficar sem olhar pra moça. O pedido dela chegou e o fez sorrir sozinho, porque o copo e o sabor do suco que pedira eram idênticos aos do quadro perto dela.
Nos vinte minutos que a moça ficou sentada tomando seu suco de laranja, o rapaz não conseguiu mais comer, beber ou ler. Entrou na rotina de olha-la, desviar o olhar pra rua, olhar, desviar, olhar, desviar, olhar...
Até que ela se foi.
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