Na imensidão, encontrou a mulher.
Bar lotado, música rolando, pessoas dançando. Ele só queria atravessar a multidão.
Nos fluxos instáveis de ondas que é andar por lugares lotados, caminhos apareciam e se esvaiam em pouco tempo. Num dos labirintos em que as paredes eram pessoas, o rapaz quase deu de frente com uma moça, que ia no caminho oposto. Ele, tímido, sorriu e fez um gesto cordial para que ela passasse primeiro. Ela sorriu, agradeceu e passou. Ele, ainda parado, acompanhou a rota da menina até ela desaparecer no mar de gente daquele lugar.
Ele não fumava, porque sua pressão zoada não o permitia, mas fugiu ao fumódromo para escapar da multidão e tomar um ar “fresco”. Então, lá fora, encontrou a moça do vestido amarelo com estampas pretas de algo que, lá dentro, ele não conseguira decifrar quando cruzou com ela. Cada um em seu grupo de amigos.
A pauta da conversa da turma dele era estilos de vida diferentes. Vegetarianos, ciclistas utilitários, gays, ateus etc.
Até que o protagonista desse romance que ainda nem existia (e havia a possibilidade não se concretizar), disse:
- Mas as pessoas cismam com o quê as outras pessoas fazem com suas vidas. Qual é o problema de ficar com alguém do mesmo sexo?
Nisso, a moça do vestido amarelo começou a prestar atenção na conversa do grupo vizinho. Morreu de vontade de fazer amizade, porque concordava com algumas coisas que rolavam no diálogo, mas não quis ser intrusa. Até que uma amiga sua fez o favor de se intrometer na conversa. E os dois grupos começaram um debate alcoolizado sobre qualquer coisa que surgisse na roda.
Já de volta a parte interna do bar, os grupos haviam se unificado e dançavam, melhor dizendo, pulavam descoordenadamente, qualquer coisa que tocasse na pista.
Numa das músicas, que Valentim gostava muito... (Perdão, o narrador tinha se esquecido de nomear a dupla de protagonistas, porque gosta de ligar pessoas a detalhes ou qualidades) O povo todo se empolgou. Logo, o rapaz percebera que Charlie (redução para Charlotte, seu "nome artístico", todos achavam isso uma bobagem, mas ninguém sabia o verdadeiro) também sabia a letra da canção. Animados, cada um com uma caneca de cerveja, os dois se encaravam enquanto dançavam desengonçados.
Valentim estava louco pra saber se ela também cantava e dedicava a música (que era sobre ser obcecado por alguém reciprocamente) a ele ou estava apenas empolgada. Ela o olhava com olhos semicerrados e um sorriso tímido - do mesmo tipo que ela o lançara anteriormente, quando se cruzaram pela primeira vez, e o fizera ficar hipnotizado. A dança da moça era leve e o fazia pensar: “Eu quero essa mulher”. Charlie estava bêbada.
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