2013/12/11

Romance sem nomes - Primeiro capítulo

Sexo não tem sexo

Estavam somente os dois na fileira “I” da sala, à quatro poltronas um do outro.
O filme acabou e os dois, cada um em seu próprio mundo, tentavam compreender o filme assim que os créditos começaram a subir. Então, as rotas de seus olhares se colidiram, e os dois, abatidos pela intensidade do longa, olharam-se com cara de “e agora?”.
Ele queria explanar sobre como achou a obra um misto entre Lars Von Trier e Xavier Dolan.
Ela precisava elogiar a atuação do elenco e, ela queria falar sobre, apesar de odiar esse clichê: a entrega deles.
Até que ela perguntou:
- Gostou?
- Eu g...  – travou porque ainda não tinha formado sua opinião – Não sei... – levantou as mãos abertas como se fosse cair do céu alguma resposta – tenho que esperar um tempo pra absorver o filme inteiro. – olhou à até então desconhecida vizinha de poltrona -  E você?
- Eu acho que preciso rever mais algumas vezes.
- Pois é, pena que essa foi a última sessão de hoje.
- Ah, eu arranjo alguma coisa pra fazer até amanhã.


É difícil sentir sem poder sentir

Eles estavam reciprocamente conscientes que pretendiam imitar o que viram na grande tela. A intensidade, o sentimento. Não exatamente da mesma maneira como as pessoas em cena fizeram, mas esses dois queriam repetir o que viram ser encenado. Eles queriam somar o que sentiram enquanto assistiam a performance das atrizes ao que estavam dispostos a fazer.
- O que eu acho mais foda é, na maioria das vezes, os atores, as atrizes, ali, não são exatamente, não pensam do mesmo jeito, não são iguais aos personagens que vivem. Aí eles têm que simplesmente abandonar o que são, o que sentem, para dar vida à outra vida... Às vezes, não é um negócio tão simples. Um cristão fazer o papel de um ateu. Uma homossexual fazer uma hétero. Um casado fazer um mulherengo...
- Têm que sentir sem poder sentir.
- Como assim?
- Eles têm que mostrar um sentimento, que talvez não seja o que eles, atores e atrizes, estão realmente sentindo, sabe? Assim... No papel, a atriz tem que sentir o que a personagem dela está sentindo e não pode deixar o que ela mesma, a atriz, está sentindo escapar. A menos que seja a mesma coisa.
- Ah, faz sentido. Atuar é um negócio...
-... Difícil.

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