1
Eu sei que ia acabar. Ainda bem que dessa vez acabou antes mesmo de começar. Evitamos incômodo, noites mal dormidas e crises de casal.
Ah, a mesma história, “a gente poderia ter sido tanta coisa (inclusive felizes)”. Talvez a gente tivesse mesmo o tal potencial pra ficar junto por mais quarenta e doze anos, mas…
2
Eu me decidi, mas só isso não adianta. Preciso me convencer que a decisão é definitiva e não posso deixar me enganar por alucinações platônicas que possam me levar novamente ao convencimento da utopia de que devo abolir de minha certeza pra voltar a desejar o que já estava finito.
3
Eu sei que você ficou me olhando quando tirei certo livro da minha bolsa. Eu sei que pirei quando vi a tua camiseta daquele filme perturbado de verdade que tanto gosto.
4
Pessoas já reclamaram que falo demais sobre algumas coisas e deixo o silêncio para outras. Não falar o que se passa em minha cabeça, não tomar atitudes nos momentos devidos, esconder o que sinto etc. Talvez esse seja o tipo estúpido de charme que encontrei pra encantar as pessoas. O jeito mais fácil, diria. Não falar, deixar subentendido e deixar a pessoa ansiosa pela possível concretização de algo. Olhar, me encantar, encantar, me afundar, te puxar mar a dentro comigo, mas só de longe.
5
Mas a vida, você já deve saber disso, vai e volta. Nós, talvez, nos encontremos novamente por aí, ou nesse mesmo ônibus ou em qualquer outro lugar. Não sei.
Espero que você continue gostando do mesmo tipo de filme perturbador. Quer dizer, não posso garantir que, sei lá, quando nosso reencontro acontecer, estarei ainda imerso na mesma literatura de agora. As pessoas mudam. A idade avança e faz a gente mudar de gostos, opiniões, saudades e desejos. Por agora, desejo que fique bem, que esse término não te incomode tanto quanto se algo entre nós tivesse realmente começado.
Foi bom passar esses quinze minutos contigo no ônibus. Tchau, desconhecida da porta 5.
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