2014/08/14

Lonely people

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The night is dark and full of you

“Estou aqui”, alertou a sms. Recém saíra do trabalho e imediatamente recebeu a mensagem, logo acreditou que ela sabia seus horários. Perguntou “onde?” e rapidamente obteve a resposta: “Nessa cidade que você tanto ama.”
Havia seis meses, quando ele ainda não tinha se transferido de capital, que não se encontravam. Os dois nunca namoraram, como os padrões tão estimados sugeriam, nem nunca terminaram. Iniciaram uma história sem título nem gênero ou prazo. Sentiam falta de estarem juntos, mas impuseram a si mesmos que precisavam se distanciar por um tempo. Não aprofundaram o diálogo sobre o que o dois eram, estavam sendo ou pretendiam ser. Então ele partiu, mas não a esqueceu. Nem ela abandonou pensamentos sobre ele, tanto que escreveu no banco onde se sentaram para conversar num dos primeiros encontros, observando a fachada de uma construção do século XIX e especularam como era viver ali naquela época: “Que seja”, sublinhando as iniciais dos protagonistas desse romance sem nós.
Ele não tinha planos para depois do serviço além de ficar em casa, mas, via sms, propôs que os dois deveriam se reencontrar o quanto antes. “Agora? Você tem algum compromisso?”, perguntou a turista, que obteve a resposta: “Não. Não tenho compromisso. Tenho saudade.”
Após enviar a última mensagem, recebeu uma ligação de sua chefe pedindo que ele fosse cobrir um evento de última hora para o jornal. O moço pensou em rejeitar, sabendo que essa possibilidade poderia ser aplicada, mas, descobrindo exatamente do que se tratava e que o convite era duplo, aceitou com a certeza de que Ela gostaria de ir junto.


- Posso te emprestar meu colchão e durmo na sala.
- Não, não quero.
- Vai passar onde a noite?
- Com você.
- Mas, se não for na minha casa, onde?
- Não quero ficar numa cama onde nunca estive, ainda mais num lugar que você já esteve com outras.
- Meu Deus! Quem disse? Tô nessa cidade a trabalho e deixei meu desejo com você. - Mentira, ele mantinha um caso há dois meses em que se encontrava semanalmente com uma morena linda de belos seios, que lhe servia apenas para engolir o impulso sexual que o perturbava. Ele não queria alimentar amor, o que tinha de sobra n'ela, por ninguém nessa cidade ou em outra que não fosse a mulher que neste momento lhe encarava com uma face clamando por um abraço; então lhe surgiu a ideia - Vamos a um hotel! Na minha primeira semana aqui, fiquei num bem barato da R. I. L.
- Pode ser.
O da R.I.L. estava cheio. Foram ao da R.D.C. d. S. Ele comentou que, nessa mesma rua, seguindo mais um pouco acima, havia uma feira de livros todo domingo. Então a moça quietamente se lembrou de um dos primeiros encontros deles - o segundo - numa livraria. Preferiu não falar sobre, pois não queria que fossem acometidos pela superficialidade da nostalgia desnecessária que, de um jeito impulsivo, seduz as pessoas.

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