2014/10/07

Aquele jogo de cartas

- E como vai a…? - questionou, querendo saber o que ocorrera no último mês, período sabe se lá porque em que se distanciaram.
Suspirou um “haha” engasgado:
- É… Ela… Também queria saber como ela está, mas… A gente, ha… Uma bagunça! Tudo… - respondeu, gesticulando confusão. Sabia que era a vez de seu monólogo, portanto não se apressou em tentar traduzir para uma linguagem que a amiga compreendesse sobre o que acontecia com…: Eu não sei mais. Pra mim, tava tudo bem, mas aí ela… Quer dizer, eu também sou assim, de criar furacões a partir do nada, mas aparentemente não havia indícios de ventania… Depois que a gente  um mês sem se falar e então se entendeu, pelo menos achei que tínhamos nos acertado enfim, ela tinha pedido uma coi… Duas coisas. Que não queria acordos, ok, de acordo, e que eu precisaria ter paciência.
- Como se você não tivesse muita! Essa guria…
- Ô, nem venha com esses teus ataques de ciúme.
- Que ciúme, o que, tá loco? Quero mais é que ela se foda... com você, claro, se se entenderem de vez.
- Eu sei que você não é muito chegada na… Mas…
- Mas nada, meu, essa guria só te estraga, só te faz mal.
- Como se eu - apontando os dedos indicadores para si mesmo como se fossem flechas de neon - eu! fosse a melhor pessoa, a mais boazinha entre todas as boas pessoas no Fórum Internacional da Bondade.
- Tá, mas o que você fez de mal pra ela então?
- Tirando o fato de ter surgido no caminho dela e insistido que deveria continuar existindo em sua vida? Acho que, além disso, o que eu fiz de merda foi exigir pela presença dela. Eu não exigi muito, poxa, ela sabe, everybody knows, "no one knows" "everybody hurts", que gosto de desaparecer por um tempo, então não posso exigir presença contínua dela nem de ninguém. Eu quero sumir. Também quero que ela suma. Mas não em definitivo, sabe? Não de um jeito que machuque. Não que eu esteja em pedaços agora, mas, se continuar assim, não demora muito pra…
- Esse é o problema, essas pequenas magoazinhas acumuladas. Cê sabe que você explode uma hora e ninguém te quer por perto desse jeito, acho que nem ela ia querer.
- Pelo que sei, ela é tão perturbada quanto eu, mas do jeito dela.
- O que cê pretende fazer?
- Sei que se ela quiser continuar emprestando livros na faculdade, vai precisar de mim. Mas não quero obrigar, fazer com que ela precise de mim, sabe? Apelar, não. Apenas queria que... Eu também, não tenho jeito… Desde… Sabia que seria problema, uma desgraça única, mas antes insistia em não enxergar e tentar mudar. Agora eu sei, agora vejo bem aqui na minha cara: eu + ela = nós = problema.
- Esse joguinho de vocês, não consigo entender.
- Nem tente, sentei na mesa pra jogar sem ler o manual, ninguém me passou as regras. Acho que não tem vencedor no final.

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