2014/10/23

Pra entrar na dança

Sem citar propostas ou casos de corrupção, uma coisa que me incomoda nessa "arena salve-se quem puder" entre partidários proselitistas (ressaltando a redundância proveniente do radicalismo) durante o período eleitoral é o macartismo disfarçado em muita gente. Mas um "medo dos comunistas" um tanto quanto contraditório. O argumento pra muitas pessoas não votarem no PT seria "o golpe comunista no Brasil', porém, por diálogos que presenciei, percebo que algumas dessas mesmas pessoas são a favor do retorno do regime militar. Mas, ué, qual a diferença, sem jogar na mesa o regime político, esquerda ou direita, entre o golpe comunista e o golpe militar? Ambos, tanto no Brasil quanto em Cuba, Coreia do Norte etc, foram/são de iniciativa de golpes militares. Golpes. Militares. O problema não é privatizar até a mãe ou fazer rodízio de Iphone com os colegas de ocupa, a treta é impor forçosa e violentamente um estilo de vida. Pior ainda se essas coisas forem leis que não beneficiam todxs, e até prejudicam os menos favorecidos.
"Ah, mas você não viveu naquela época." Não mesmo, acho que eu, do jeito que sou, não sobreviveria muito tempo, mas isso não me importa, vivo o agora, estou vivendo o 2014, 1964 já era, e espero que esse período em que "ou cê faz isso ou vai pra fogueira" continue distante, sem saudades de ninguém.
Eu não queria votar no PT, entre os dois partidos do dia 26, pois queria um que prezasse ainda mais pelo social perante o capital. Eu voto no PT, entre outras coisas, porque essa mulher consegue provar que não precisa ser "macho" pra ser presidente e aguentar a chuva de conspirações e ofensas, rompendo com essa porcaria de sexismo que nunca deveria ter surgido. Essa imagem de homem no poder já deu, né? Não me importo se for ela ou ele, só quero que faça algo decente (para todxs). Eu não votaria novamente no PSDB (já votei antes e agora me vendi ao sistema comunista, porque o salário é melhor, consegui até comprar uma passagem pra Miami), porque, não pensando tanto em possível retrocesso (extremo) explorado por tantxs, pois mudanças radicais levam tempo, e, durante o processo, alguma revolução contrária surgiria, mas, minha treta é com o fundamento de valorização do capital. Se isto é importante pra você, se a grana realmente é o que te move, aí a gente vê que democracia talvez seja mais utópica que esse tal de socialismo, porque interesses entram em conflito na hora de escolher "representante do povo". O diñero pode não ser o combustível de parte da sociedade. O povo da classe AA+ não é o mesmo povo da classe Z-. A "valorização do capital" perante o social mostra os níveis de superficialidade e egoísmo ao qual chegamos. O bolso precisa ser profundo pra comprar o "item do momento", enquanto, pra muita gente, o intelecto mal mede meio metro. "Se você não tem dinheiro pra comprar também, lamba meus sapatos e me inveje" é o pensamento que alimenta muitas cabecinhas.
"Vai pra Cuba então"... Melhor argumento de sempre Joga o Fidel no meio também. Dinheiro é importante pra mim, sim (como é que vou comprar minhas roupinhas pra mostrar pras vocês? - descarto a possibilidade de roubar, porque, oras, estaria ferrando outras pessoas, incluindo funcionárixs da loja que dividem a lotação comigo), mas não é que mais me importa. Não deveria ser pra ninguém. Acho bastante difícil uma pessoa ser de extrema-extrema esquerda e viver numa sociedade que respira e injeta capital diária e freneticamente, um vício mortal. É preciso (saber viver e) se adequar ao meio sem que os ideais sejam feridos e convertidos.
Não quero nem posso converter ideais e preferências políticas das pessoas, isso seguiria algo que me incomoda: Ditar comportamentos. Se você quer privatizar a bunda, vai nessa. Se quer dividir o lanche com o cara que dorme na marquise ao lado do teu prédio, go on. Se quer usar a camiseta do Che tomando sorvete no shopping, que seja. Só não seja igual de um jeito que te deixe infeliz. Só não vote em determinado candidatx, porque o vizinho da prima que trabalha com a mulher padre pediu ou pois "falaram que outrx candidatx é/fez tal coisa" (se é ou fez, pesquise, averigue e veja se esse passado é tão condenatório assim pra você). Esse "ovelhismo" de existir, ser, pensar, tudo igual: Não. Igualdade necessita existir em Direitos Humanos, sem hierarquia de privilégios sociais. Se eu almoço sanduíche natural e você, bisteca de porco ovo ou risoto de escargot com essência de fadas do Turcomenistão, continuemos assim, cada ser na sua, sem querer interferir nas vontades pessoais alheias. Porém, tratando-se de política, fica meio difícil pensar individualmente, já que você poderia ser a favor de 500 km de ciclovias na cidade e eu, da distribuição de carros sedãs pra todo mundo. Sacrifícios ideológicos, pra viver nesse mundão louco, são necessários, desde que sacrifícios humanos e animais não sejam obrigatórios pra que alguém se beneficie.
Enfim, antes de sair atirando que "ditadura comunista" é coisa do capeta (nada contra Lúcifer) lembre que isso só funciona erroneamente devido ao regime militar. Militar, lembra? Ditadura Militar. Brasil, de 1964 a 1985? AI-5, censura etc. Assim como aqueles 21 anos que você sente falta ("Ah, naquele tempo era tudo melhor"), o problema dos governos comunistas é a imposição através de violência. Tortura etc. "Descer o cacete em quem não obedecer ou pensar diferente", que zoado. O termo "partido de direita" me conservadorismo conservadorismo, que traz um monte preconceitos, um dos pontos iniciais de toda essa bizarrice eleitoral encontradas nas redes sociais. A xenofobia observada nas últimas semanas chega a doer os olhos e a alma. Talvez já existisse nessa proporção atual, mas a internet, que nos trouxe tanta coisa boa, deu voz a essa escória maldita, ampliando pensamentos nojentos que são curtidos e compartilhados pelo Brasil todo. Se você vota no PSDB pra "expulsar a imundície nordestina da 'minha terra' e fazer vagabundo parar de mamar nas tetas das bolsas-esmolas", porra, que pira mais errada. Creio, e realmente espero, que não seja essa a intenção de nenhum partido. Coisas assim não deveriam existir na cabeça de ninguém.
"Mas e a meritocracia? Não tem que dar o peixe..." Cê realmente acha que quem nasceu na merda tem as mesmas oportunidades que alguém que nasceu em berço de diamantes? Uma pessoa negra entra num shopping e, na maioria dos casos, é alvo de desconfiança e medo pelo simples motivo de ser assim. Cor, descendência, classe, roupa, orientação sexual e de gênero etc etc etc não são sinônimo sde maldade. O que faz uma pessoa ser má é sua própria cabeça.
"Essa esquerda-caviar-classe-média só sabe reclamar." Ainda bem que alguém faz isso. E não são poucos (que continuem surgindo mais). Reclamo, sim. Me importo tanto com uma pessoa que cria sozinha 3 crianças e leva duas horas pra chegar ao trabalho quanto com aquela que chefia uma multinacional e joga tênis quatro vezes por semana num iate, porque, assim, se todo mundo estiver bem, o ciclo da sociedade vai rodar sem prejudicar ninguém nem eu.
Por fim, definitivamente, só me formei Técnico em Administração e estou me graduando bacharel em Jornalismo graças aos programas educacionais desse "partido que implantará a ditadura comunista no Brasil". Não que eu fosse viver sob a asa partidária eternamente, definir meus próximos votos por isso, "me vender" por isso, mas, coincidentemente, nasci numa época em que filhxs de mulheres afrodescendentes, solteiras e analfabetas têm a oportunidade de crescer sem correntes, orgulhar quem merece e entrar nas universidades "pra roubar lugares de seres 'mais inteligentes'".

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