A terrível doença crônica conhecida como Amor que vai e volta matando cada vez mais durante o processo ou O relato estúpido sobre alguém ainda mais estúpido
O câncer que havia desaparecido retorna para atormentar um ser, assim era ele: uma desgraça. Daquelas pragas que retornam ao jardim no momento em que todas as flores se recuperaram. Não foi a primeira vez - nem a única e não seria a última - que a seguinte história ocorreu. Era vício. Não espere uma história romântica, isto não passa de repugnância.
Entre espirros e antialérgicos, fungando seu nariz cheio de rinite, ele tentava se reaproximar de/redimir-se com a pessoa que ele mesmo afastou.. O distanciamento, por vezes, se deu por causas líquidas, má digeridas, que se esvaiam sem atrito suficiente para se prender à razão. Ele não se machucava a ponto de procurar o pronto socorro do coração partido. Cismas bestas, nada além disso, que fizeram a outra pessoa acreditar que era o pior ser humano, que fez algo imperdoável e era fortemente odiada, mas não, apenas uma grande injeção de orgulho misturado com teimosia e precipitação. Ele não calculava o estrago que um impulso imbecil pudesse causar na relação com a outra pessoa, só se distanciava. Destruía de longe, assim como o general que ordenou o ataque à Hiroshima e Nagasaki, o que ele mesmo construiu em conjunto com a outra pessoa ao longo dos últimos meses. Seu sado masoquismo nada físico atingia o auge conseguia machucar a si mesmo e, simultaneamente, a outra pessoa, até mesmo a previsão ou ilusão de quebrar corações (incluindo o seu próprio) agradava este setor setor estúpido de seu ego.
Sado masoquismo emocional e contradição, maiores manias indesejáveis. Se ele te disse, ao menos uma vez, impondo a voz, que era a favor de ou contra algo, como, por exemplo, ciúmes e relacionamento aberto, aguarda... Ele vai se contradizer hora ou outra.
Por uma perspectiva otimista, o lado bom disso tudo é a ausência de violência física. O máximo que ele conseguia fazer era derramar-se em textos como este para destilar seu rancor.
No fundo de sua imensa profundeza, ele nunca quis partir. A palavra "nunca" não era aplicada em suas sentenças se não fosse pura verdade, assim como "eu te amo" etc, pureza maior que a do Cristal de Heisenberg. A cisma e o impulso o influenciam há tempos a encarnar uma persona rancorosa, pessimista, vingativa e incapaz de ser amada, porém, não que ele não tivesse esse perfil, longe de serem suas mais notáveis características. Carinho, afago, silêncio… Como este não é um texto para exaltar possíveis qualidades de alguém, mas para simples difamação positiva, relembramos que reações impulsivas causam um estrago enorme.
Não gostava de destruir coisas, pessoas ou sentimentos, mas destruía. O dom que não aceitava.
Pensava no filme Tatuagem, na tatuagem do filme Tatuagem e da tatuagem que faria nas costas quanto atingisse certo tempo de relacionamento com a outra pessoa. Apesar de imediatismo no café da manhã diariamente, também se alimentava com o depois. No quarto de livros, no quarto de felinos, nos encontros comemorativos em [local sigiloso] num dia da semana específico, no nome da primeira filha e nas férias conjugais em que ele iria à Suécia; ela, a algum lugar que o rapaz não conseguia resgatar de conversas passadas, e encerrariam o período de afastamento na Pont Neuf.
“What it all / what it all / could be / with you”, cantarolava ele sozinho silenciosamente perambulando por um corredor específico da biblioteca pública, enquanto mais um cigarro indesejado caía sobre seu peito, na esperança de ter o acaso ao seu lado mais uma vez para encontrar a agora novamente estranha. Sentia, em vão, a presença da outra pessoa em diversos lugares, mas nada. Nada dela. Nadava ele em lembranças daqueles malditos lugares. Nem a coincidência queria mais ajudá-lo. Ou era o movimento de translação da terra, que, em seu período anterior, gerou rotas de colisões mais precisas. Não acreditava em destino, obra de Deus nem em si mesmo para tentar reverter a infeliz situação.
O bilhete daquela viagem venceu e não havia blowjob suficientemente recompensatório para que ele permanecesse naquele trem. Teria que conviver com os souvenires. O folheto da peça que viram juntos, guardado em saco plástico na caixa de lembranças; a pintura dadaísta feita no verso de um cupom fiscal, pendurada ao lado da prateleira de romances trágicos; a peça de xadrez furtada da galeria do TUC, servindo agora como peso de papel para jornais literários, que também faziam-no lembrar da outra pessoa;; a propaganda da garota de programa Ashley, dada por um andarilho do Passeio Público...
Muitas recordações maiores que ele mesmo. Pesavam, doíam, corroíam, mas eram consequências merecidas para alguém tão imbecil que impediu a criação de novas experiências. Ele era digno de toda melancolia que lhe invadia.
Sobre a sétima palavra do subtítulo, é meramente ilustrativa, a fim de resumir o que ele sentia (ou ainda sente), mas não serve para assumir que era o que realmente corria em seus vasos sanguíneos, porém não pode se descartar a existência de tal praga, digo, sentimento.
Não pretendia ele apelar ao perdão da outra pessoa, caso, hora ou outra, constatasse estar arrependido, que ainda queria viver (ou, ao menos, tentar) “algo” com ela. Sabia que desculpas não seria suficientes. Deveras orgulhoso para afirmar redenção a tal vontade para pedir mais uma chance. Mas, quem poderia adivinhar?, como se trata de uma pessoa impulsiva, talvez, quando menos esperarmos, ele faça alguma coisa para dizer o que quer - ou o que não quer, contradizer-se, levar suas declarações mais a sério… Possibilidades.
Queria ser condenado a ouvir tudo o que a outra pessoa tem a reclamar sobre ele. Tudo.
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