2015/05/18

carta para novos e velhos amores (rascunho perdido)



Um último brinde antes mais uma de tuas partidas. Partiu meu peito em incontáveis pedaços e agora parte novamente aonde quer que tua liberdade aponte - não abomino seres livres, não mais, porém me machuquei ainda mais nesse vai e vem, traumatizei. Vai e volta, se quiser, mas não me espere aqui. Poderei estar em qualquer lugar. Quem sabe? Jogo na tua frente uma sacola cheia de motivos para você sair e não mais retornar. O mais pesado deles seria, creio, eu, minha instabilidade. Acertei? Ou minha mania de priorizar o escrever ignorando o agir? Toma esse último gole comigo antes que a saudade repouse sobre sua língua e te faça regurgitar o desejo de ficar aqui comigo nesse barco superlotado de memórias fadado ao naufrágio no mar da desgraça. Não embarque, não é saudável. Em nossa viagem, a carga mais constante foi nosso platonismo presente, você sabe, e, antes de sumir, me ajude a jogar isso tudo fora antes que nos afundemos em nada. Bebe, que seja num gole só, para queimar qualquer resto de empatia entalada em sua garganta. Bebe e vai viver tua vida, fazer tuas coisas, abraçar novos e velhos amores (exceto eu, se é que me amou ao menos por um minuto durante o tempo que nos perdemos juntos, o nosso tempo), inebriar-se de algo que não seja minha corrosiva, pessimista, contagiosa e inflamável presença; e, ao menos que seja de fato uma pessoa masoquista emocional, sentimental, passional, enfim, não volte. Viva e morra como e com quem quiser e se esforce para não lembrar de mim quando ver um filme, atravessar uma avenida, entrar em uma loja, embriagar-se no São Francisco, visitar um museu, seguir o vento com uma bicicleta, amar novamente etc.

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