"The memory we seem to share
replays"
Como e onde foi que me perdi, dessa vez, de vez? Onde e como nos perdemos? Não mais encontro o caminho para as hastes de óculos que repousaram sobre meu criado-mudo. Essa história não teve desfecho nem nunca terá, acredito, enquanto vivermos, mesmo que cidades diferentes e distantes, estaremos presos a esse sonho que mal conseguimos tirar do papel.
Chego a este momento sem saber quem ela é agora, além de ser a responsável por me fazer perder o ar e ter crises de ansiedade ao vê-la se aproximar por tantas vezes durantes esses anos de convívio, mesmo com a ausência física predominando. “Sometimes I think I see your face in improbable places”.
Foi na terceira temporada desta série de encontros e desencontros que o drama despertou seu lado mais desgraçado. Errei, e como errei!, as always, mas não sei a data exata em que tudo começou a desmoronar.
Perco-me em pensamentos, em textos, bem como me perdi desde o princípio, quando só havia escuridão e não conseguia enxergá-la - por, até então, desconhecer sua existência; a vida começou a fluir neste oceano e a maré insistia, ainda insiste, em ir e vir sem dar tempo para construir castelos de areia, faróis ou quebra-mares.
Entre inúmeras maneiras possíveis para demonstrar a confusão para demonstrar a confusão na qual me (des)encontro, a mais efetiva é vomitar em folhas de papel de um caderno qualquer toda a ânsia, que me ataca do estômago ao cérebro, enraizada na inconstância de uma viagem cheia de atrasos, conexões, jet lags e o que mais puder causar cansaço, agonia e desmotivação por não chegar “lá” - onde ela estiver, qualquer lugar que não seja minha mente.
Escrevemos, eu e aquela que aparentemente não esta aqui nem aí, um extenso capítulo de nosso romance, possivelmente o mais essencial para se entender que nem tudo é desgraça, mas alguém, suspeito que este que vos escreve, destruiu os manuscritos quanto derrubou uísque ao tentar acender um cigarro com uma só mão enquanto tentava terminar trabalhos da faculdade. Tal desastre não exige julgamento ou explicação prolongada, pois está feito. Restam as consequências, entre elas, como a (falsa) impressão de que um dos corações envolvidos na colisão guarda ódio, rancor e coisas assim, que machucam tanto quem os sente quanto quem os motiva. Não respondo por ela, mas, apenas esclarecendo ao nada, não a odeio.
O fim do capítulo mais recente que esboçamos não bastou, é necessário muito mais para transformar afeto em ódio. [Isto não é uma provocação para tentar superar]
Nossos passos desritmados nesta dança cujas aulas nos ensinaram coisa nenhuma, causando pisões em nossos próprios pés e esbarroes em outros pares. Foi assim quando, inesperadamente, houve uma troca inesperada de duplas. Ela foi para lá, não me importa com quem, e tentei dançar sozinho por um tempo até perceber - ou lembrar - que não consigo. Cair não exige ensaio e se torna um movimento mais fácil quando não há alguém em quem se segurar. Quando se tem um par, um possível problema é quando a outra pessoa se transforma em parte vital de quem dança. Não aconteceu comigo neste caso específico, apenas um devaneio.
Alguns de nossos duplicados musicais, neste último ano, vem se orgulhando bastante de nós, extraindo muito conteúdo para canções. De algum pub em Celbridge, nossas composições migraram para um apartamento no Brooklyn, ainda falando sobre fantasias, despedidas, desencontros, distância etc.
Agarro e abandono sentimentos com a mesma leveza de uma bomba despencando do céu, com a mesma velocidade que um trem corta as artérias de uma cidade, com a mesma intensidade de um beijo na porta de um ônibus, com o mesmo desgosto de deixá-la partir. O ponto de ônibus, os bancos de praça, o desenho dadaísta, as cartas, os silêncios, os souvenires, as memórias… ecoam, voltam cada vez mais fortes gritando “volta”. Já desconheço aquela moça que esteve comigo naquele show há dois anos, não sei quem ela é, se uma só pessoa ou várias. Hoje, desconheço. Parece que não é mais a mesma. Ou nunca foi. Em momentos de delírio, creio que nunca existiu, que nossos momentos juntos constituem uma grande alucinação arquitetada por minha mente ansiosa. Talvez seja doença neurológica e essa sensação mista de encanto com vontade seja apenas um inchaço em meu cérebro, destruindo-me lentamente. Se sim, demorei alguns anos para perceber. Devo então procurar tratamento ou aceitar e conviver até ser corroído por inteiro. Cheguei até aqui, vivo, pode ser que minha imunidade não deixe a patologia se espalhar ou esse sentimento tenha se apossado completamente de meu corpo, manipulado a impressão de que estou vivo. Analogia digna de causar na moça dos óculos embaçados naquela noite de quinta-feira a repulsa, o ódio e tudo o que ela ainda não sente por mim. Sou desastroso, queria dizer uma coisa, tentar convencê-la com mais um rascunho que ainda a quero, mas escrevo o oposto. Não sei mais. Não sei se peço desculpas ou mais uma chance. Talvez essa alucinação tenha causado a ilusão de passagem do tempo, parecendo que vivo neste afogamento há anos, havendo a chance de, na verdade, eu ainda estar sentando naquele banco de praça encarando o casarão vermelho, segurando meu Crime e Castigo, sonhando acordado, esperando.
Perco-me em pensamentos, em textos, bem como me perdi desde o princípio, quando só havia escuridão e não conseguia enxergá-la - por, até então, desconhecer sua existência; a vida começou a fluir neste oceano e a maré insistia, ainda insiste, em ir e vir sem dar tempo para construir castelos de areia, faróis ou quebra-mares.
Entre inúmeras maneiras possíveis para demonstrar a confusão para demonstrar a confusão na qual me (des)encontro, a mais efetiva é vomitar em folhas de papel de um caderno qualquer toda a ânsia, que me ataca do estômago ao cérebro, enraizada na inconstância de uma viagem cheia de atrasos, conexões, jet lags e o que mais puder causar cansaço, agonia e desmotivação por não chegar “lá” - onde ela estiver, qualquer lugar que não seja minha mente.
Escrevemos, eu e aquela que aparentemente não esta aqui nem aí, um extenso capítulo de nosso romance, possivelmente o mais essencial para se entender que nem tudo é desgraça, mas alguém, suspeito que este que vos escreve, destruiu os manuscritos quanto derrubou uísque ao tentar acender um cigarro com uma só mão enquanto tentava terminar trabalhos da faculdade. Tal desastre não exige julgamento ou explicação prolongada, pois está feito. Restam as consequências, entre elas, como a (falsa) impressão de que um dos corações envolvidos na colisão guarda ódio, rancor e coisas assim, que machucam tanto quem os sente quanto quem os motiva. Não respondo por ela, mas, apenas esclarecendo ao nada, não a odeio.
O fim do capítulo mais recente que esboçamos não bastou, é necessário muito mais para transformar afeto em ódio. [Isto não é uma provocação para tentar superar]
Nossos passos desritmados nesta dança cujas aulas nos ensinaram coisa nenhuma, causando pisões em nossos próprios pés e esbarroes em outros pares. Foi assim quando, inesperadamente, houve uma troca inesperada de duplas. Ela foi para lá, não me importa com quem, e tentei dançar sozinho por um tempo até perceber - ou lembrar - que não consigo. Cair não exige ensaio e se torna um movimento mais fácil quando não há alguém em quem se segurar. Quando se tem um par, um possível problema é quando a outra pessoa se transforma em parte vital de quem dança. Não aconteceu comigo neste caso específico, apenas um devaneio.
Alguns de nossos duplicados musicais, neste último ano, vem se orgulhando bastante de nós, extraindo muito conteúdo para canções. De algum pub em Celbridge, nossas composições migraram para um apartamento no Brooklyn, ainda falando sobre fantasias, despedidas, desencontros, distância etc.
Agarro e abandono sentimentos com a mesma leveza de uma bomba despencando do céu, com a mesma velocidade que um trem corta as artérias de uma cidade, com a mesma intensidade de um beijo na porta de um ônibus, com o mesmo desgosto de deixá-la partir. O ponto de ônibus, os bancos de praça, o desenho dadaísta, as cartas, os silêncios, os souvenires, as memórias… ecoam, voltam cada vez mais fortes gritando “volta”. Já desconheço aquela moça que esteve comigo naquele show há dois anos, não sei quem ela é, se uma só pessoa ou várias. Hoje, desconheço. Parece que não é mais a mesma. Ou nunca foi. Em momentos de delírio, creio que nunca existiu, que nossos momentos juntos constituem uma grande alucinação arquitetada por minha mente ansiosa. Talvez seja doença neurológica e essa sensação mista de encanto com vontade seja apenas um inchaço em meu cérebro, destruindo-me lentamente. Se sim, demorei alguns anos para perceber. Devo então procurar tratamento ou aceitar e conviver até ser corroído por inteiro. Cheguei até aqui, vivo, pode ser que minha imunidade não deixe a patologia se espalhar ou esse sentimento tenha se apossado completamente de meu corpo, manipulado a impressão de que estou vivo. Analogia digna de causar na moça dos óculos embaçados naquela noite de quinta-feira a repulsa, o ódio e tudo o que ela ainda não sente por mim. Sou desastroso, queria dizer uma coisa, tentar convencê-la com mais um rascunho que ainda a quero, mas escrevo o oposto. Não sei mais. Não sei se peço desculpas ou mais uma chance. Talvez essa alucinação tenha causado a ilusão de passagem do tempo, parecendo que vivo neste afogamento há anos, havendo a chance de, na verdade, eu ainda estar sentando naquele banco de praça encarando o casarão vermelho, segurando meu Crime e Castigo, sonhando acordado, esperando.
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