2016/03/25

Leite integral

Qualquer ato consciente segue o desejo subconsciente de autopunição por seja lá qual for o delito cometido.
Mais uma vez, estão cheios o copo e a certeza de que a cada gole seu estômago estará mais próximo de se estragar inteiramente. A cada dose no balcão, um passo a mais perto da beira do precipício que é perder a consciência e deixar que o impulso trate de apagar qualquer memória e toda a moral, se é que a sua (in)sanidade algum dia permitira que isso corresse por seu sangue. Cada batida é um soco na própria barriga que faz escorrer da garganta palavras e mais palavras de autodepreciação e insignificância.
O nojo de si mesmo não é aparente, mas tem ânsia de vômito quando revira a caixa do passado ou a de pensamentos. Segue fazendo o que faz mesmo não querendo mais, mesmo que agora não seja tão prazeroso quanto antes, machucando-se com isso, sabendo que faz mal a si e - ocasionalmente - a alguém mais.
Consegue se manter por algum tempo longe de tudo (ou quase tudo) que lhe é nocivo, mas manter-se em equilíbrio não é seu forte. Sua maior qualidade é ter fraquezas e se render a elas quando lhe é conveniente, quando quer fugir, por mais que saiba que não consegue fugir delas quando as mesmas não são outros seres, mas parasitas em seu organismo, a dor começa a escorrer de sua boca, seus olhos e suas mãos. Deixa-se derramar, vaza a liquidez de seus pecados, até que restem somente os entulhos de sua existência, permanentes. O aparentemente alto e resistente edifício de sua personalidade não passa de casebre insustentável a qualquer batida na porta.
Não suporta mais as metáforas, as analogias, as besteiras que cria para definir a si mesmo e explicar como sua mente vê, absorve e expele/repele tudo. Não consegue se expressar. Detesta ser o iceberg, que: 1. É muito além do que se percebe em sua superfície e 2. Pode causar sérios danos se houver aproximação desatenta.

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