O cansaço deixa que o vento empurre seus corpos pela cidade, cada um em uma rota diferente. A única vontade convincente que sentem, cada um em sua própria solidão, é deixar o fardo de suas existências desabar sobre um colchão e respirar - não mais como antes, inspiração e expiração sincronizada juntos. Em tempos idos, eram algo inominável, mas eram alguma coisa, porque queriam tentar ser alguma coisa, apenas algo que não doesse tanto no mesmo cômodo quanto em países de continentes diferentes separados por um oceano.
Suas vidas divergiram para longe um do outro, apesar de frequentarem as mesmas vias da mesma cidade - ou de outra, ocasionalmente. O acaso entendia que não devia brincar com eles e jogá-los na mesma rua, no mesmo horário, porque, mesmo que não houvesse mensagem subliminar alguma enraizada na coincidência de transitarem pelo mesmo lugar na mesma hora, dariam um jeito de criar duas versões diferentes para o que Deus Destino tentava dizer (algumas vezes, nada). “Not now, maybe later”, rezou ele, “I don’t want to belong, to you, to anyone”, rogou ela. Antes disso, antes de cantarem mentalmente suas orações mais convenientes, antes de avistarem o passado do outro lado da rua, afirmavam a si mesmos que haviam superado o que quer que fosse que viveram juntos. O silêncio de causas não-dialogadas trouxe o consentimento de que não se sentiam mais necessários um para o outro. Era a maior história sem fim que protagonizaram até este momento.
Olhares cruzados, distração, atropelamento e “hello, stranger” seria uma possibilidade exagerada para ocorrer com eles, devotos de romances desgraçados, cinematográficos, televisivos, literários, teatrais... Os dramas românticos repletos de incerteza, magnetismo, ansiedade e desgraça faziam ambos sentirem-se vivos, tanto na ficção quantos os seus próprios, mas a roda de repetição - também com com outros personagens - corroeu os sentimentos, transformando-os em cansaço e lucidez, percebendo enfim que o ciclo - de encanto, aproximação, reciprocidade, carinho, desentendimento, silêncio, afastamento e algo que diferenciasse a história em questão das demais - não tinha mais impulso para girar.
Meses depois, contudo, ainda restava algo inspirador, inspirador apenas para desabafos e retratos. De certa forma, viver uma nova história, de preferência com um detalhe inédito, para se distanciar do passado que insistia em perambular pelas ruas em que eles, separados, rastejavam sem saber se encontrariam o futuro ou águas passadas na próximo cruzamento. Hoje, encontraram-se, avistaram-se cada um de um lado da via e congelaram. Os menos de quarenta segundos do semáforo duraram tanto quanto o romance deles durou.
Esgotou-se o tempo da luz vermelha, deram seus primeiros passos e fizeram o que deviam ter feito antes do primeiro encontro: ignorando sentiam um pelo outro, deixando o silêncio reinar, eliminando qualquer chance de um romance entre eles, seguram seus próprios rumos. Talvez se encontrarão outras vezes, mas não importa.
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