Não pense que é sobre você e as memórias e vazios deixados por esses teus dois metros de altura, isto é sobre mim e tudo que sou capaz de recordar dos atos tangíveis e das palavras não ditas no tempo em que queríamos habitar o mesmo recinto, feito que se tornou impraticável devido aos conflitos emergentes das profundezas de questões não resolvidas entre nós.
Não é sobre você, não é para você, é sobre meu egoísmo, para meu egocentrismo. Afinal, desconheço-te agora, não lembro se te conheci na Nilo Peçanha ou sob o neon inebriado de uma festa qualquer, portanto torna-se refutável, se isto fosse uma monografia, relatar as causas e causos de um episódio histórico sem fonte estritamente confiável - neste caso, minha própria memória. O astigmatismo afetivo transforma os momentos marcantes em borrões mudos, em que se torna suspeito saber se você me afagava ou me afogava, se dizia “vamos casar” ou “vamos terminar”, ao fim tudo se torna um grande bolo fecal de lembranças, os momentos felizes coabitam o mesmo buraco das crises.
Da minha perspectiva, sou o protagonista de todas as minhas histórias, tanto quando tenho vários monólogos quanto quando sou o coadjuvante passivo.
Nada disso é teu, apenas o passado e os resquícios de nós que permanecem insistentes em minha garganta, escapando em forma de palavras, e minhas artérias, bombeando meu coração cada vez menos pulsante, por tua causa ou - mais provável - não, ele vai parar e a escuridão que surgir após será infinita e infinitamente mais perturbadora do que despertar sem você ao meu lado, afinal não despertarei.
O peso de minhas palavras me arrasta a algum lugar, elas me enganam com a sensação que é para longe de ti, novas paisagens, mas quando percebo a narrativa sai do nublado para percorrer novamente tuas mãos. teus olhos e tudo se repete.
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