- Alice, há quanto tempo estamos juntos?
-Nossa... A Sara Oliveira ainda era da MTV.
- Grande Sara!
- Grande? Ela é uma anã!
- Falou a gigante!
- Tá, mas o que te fez me perguntar isso?
- Só queria saber se você ainda tem certeza de quer chegar à
morte comigo.
- Certeza de um pra sempre eu não tenho. Ninguém tem. O
negócio é dizer “agora”. E se esse agora durar por muito tempo, melhor pra nós.
Mas pra quê essa pergunta? Tem alguma tese em mente?
- Acho que sim...
- Então me diga.
- Cê sabe que sempre fui um grande de um belo inseguro. Até
mesmo antes de te conhecer... Sempre pensei que, de tão palha que sou...
- Você é o cara mais palha do mundo.
- Não me corta, besta. Odeio quando faz isso.
- Vá se ferrar...
- Então... viu, agora me perdi... Ah, a qualquer momento
imagino que você vá me trocar por um junkie estiloso e tatuado... Ou menos
estranho que eu... Mas aí eu percebo que sou o único no mundo que te aguenta. O
único que entende suas neuras e suporta seus momentos “odeio todo mundo”. Eu sei de tudo
que você gosta ou detesta. Você trocaria isso tudo por algo novo?
- Além de tudo isso, você é um chato mimado. Talvez, um dia,
eu me canse de tudo isso. Assim como você pode simplesmente não se importar
mais comigo. A gente não consegue controlar nossos sentimentos. Ou sentimos ou
fingimos. Na maioria das vezes, as pessoas fingem pra não perder algo o que têm. Muitos casais caem numa rotina, não fazendo nada pra solucionar
o comodismo, só porque necessitam manter um status social. Tem gente que só
namora pra levar a pessoa ao almoço de páscoa da família, ou só pra não ficar
sozinho, por mais não aguente as naturezas de quem diz “amar”.
- E você está nesse grupo de idiotas?
- Sou a maior babaca do mundo, mas não nesse caso. Se eu
ainda estou com você, é que estou bem. E você está cansado de me ouvir
reclamando sobre rotina. E até nisso você é parceiro, pois não gosta de ficar
se repetindo por muito tempo.
- Eu acho que tem que haver um pequeno comodismo. De repetir
a pessoa que ama. Mas esconder ou fingir sentimento é um negócio que não me
agrada. Não é saudável, nem pra quem finge nem pra ninguém.
-As pessoas precisam de um certo egoísmo. Alguns se importam
mais com os outros e se desvalorizam com isso. Sei que é um discurso meio
contraditório, mas, Alberto, a vida é uma parada cheia de opostos e
contradições.
- É, eu prefiro suco de laranja e você, de limão.
- Enfim, se um dia eu te trocar ou te largar pra cuidar de
gatos, te juro que não guardarei ódio algum. Não tenho motivos fazer isso.
- E se eu te traísse?
- Aí você seria um p#ta de um escroto e mereceria ser
mutilado por uma faca enferrujada com urina de rato sujo. Sério, não faça isso.
Não desperdice algo tão grande.
- Você tem certeza que eu faria isso? Sou o maior tímido.
Lembra que demorei três meses pra falar contigo na faculdade, mesmo sendo da
mesma turma?
- E, a partir daí, você se perdeu, largou a faculdade e
virou escritor.
- Não sou escritor. Apenas transformo minha vida em contos
pra distrair pessoas que tem uma vida mais fedida que a minha. Elas gostam de
se iludir nas minhas histórias. E isso não é pecado, traz um alívio pra
qualquer um que se identifica com o que escrevo. E isso é bondade... Sem
esquecer que se não fosse por essa minha profissão hobby, não teria dinheiro
pra comprar esse apartamento que você tanto odeia.
- Amo esse lugar. Amo viver com você nesse lugar. Amo viver
coisas lindas nesse lugar. Amo você. Só porque você é rico.
- Já nem sei mais explicar o porquê de amar você. Minhas
definições de “amor” vão se transformando com o tempo. Igual você. Então acho
que você é amor.
- Você acha que somos um casal perfeito?
- Ninguém é perfeito. Nós somos um casal que se entende. Ou,
pelo menos, tenta. Já dizia um amigo meu das antigas: “Casamento não passa de
respeito, convivência e simpatia”.
-É, mas isso apenas resume o que um casamento tem que ser,
mas tem mais.
- Tipo?
- Tipo você me preparar aquela torta que só você sabe fazer.
- Claro, com muita cebola.
- Te odeio.
Se identificar é pouco. Adorei!
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