2012/05/01

Diálogo de (in)certezas


- Alice, há quanto tempo estamos juntos?
-Nossa... A Sara Oliveira ainda era da MTV.
- Grande Sara!
- Grande? Ela é uma anã!
- Falou a gigante!
- Tá, mas o que te fez me perguntar isso?
- Só queria saber se você ainda tem certeza de quer chegar à morte comigo.
- Certeza de um pra sempre eu não tenho. Ninguém tem. O negócio é dizer “agora”. E se esse agora durar por muito tempo, melhor pra nós. Mas pra quê essa pergunta? Tem alguma tese em mente?
- Acho que sim...
- Então me diga.
- Cê sabe que sempre fui um grande de um belo inseguro. Até mesmo antes de te conhecer... Sempre pensei que, de tão palha que sou...
- Você é o cara mais palha do mundo.
- Não me corta, besta. Odeio quando faz isso.
- Vá se ferrar...
- Então... viu, agora me perdi... Ah, a qualquer momento imagino que você vá me trocar por um junkie estiloso e tatuado... Ou menos estranho que eu... Mas aí eu percebo que sou o único no mundo que te aguenta. O único que entende suas neuras e suporta seus  momentos “odeio todo mundo”. Eu sei de tudo que você gosta ou detesta. Você trocaria isso tudo por algo novo?
- Além de tudo isso, você é um chato mimado. Talvez, um dia, eu me canse de tudo isso. Assim como você pode simplesmente não se importar mais comigo. A gente não consegue controlar nossos sentimentos. Ou sentimos ou fingimos. Na maioria das vezes, as pessoas fingem pra não perder algo o que têm. Muitos casais caem numa rotina, não fazendo nada pra solucionar o comodismo, só porque necessitam manter um status social. Tem gente que só namora pra levar a pessoa ao almoço de páscoa da família, ou só pra não ficar sozinho, por mais não aguente as naturezas de quem diz “amar”.
- E você está nesse grupo de idiotas?
- Sou a maior babaca do mundo, mas não nesse caso. Se eu ainda estou com você, é que estou bem. E você está cansado de me ouvir reclamando sobre rotina. E até nisso você é parceiro, pois não gosta de ficar se repetindo por muito tempo.
- Eu acho que tem que haver um pequeno comodismo. De repetir a pessoa que ama. Mas esconder ou fingir sentimento é um negócio que não me agrada. Não é saudável, nem pra quem finge nem pra ninguém.
-As pessoas precisam de um certo egoísmo. Alguns se importam mais com os outros e se desvalorizam com isso. Sei que é um discurso meio contraditório, mas, Alberto, a vida é uma parada cheia de opostos e contradições.
- É, eu prefiro suco de laranja e você, de limão.
- Enfim, se um dia eu te trocar ou te largar pra cuidar de gatos, te juro que não guardarei ódio algum. Não tenho motivos fazer isso.
- E se eu te traísse?
- Aí você seria um p#ta de um escroto e mereceria ser mutilado por uma faca enferrujada com urina de rato sujo. Sério, não faça isso. Não desperdice algo tão grande.
- Você tem certeza que eu faria isso? Sou o maior tímido. Lembra que demorei três meses pra falar contigo na faculdade, mesmo sendo da mesma turma?
- E, a partir daí, você se perdeu, largou a faculdade e virou escritor.
- Não sou escritor. Apenas transformo minha vida em contos pra distrair pessoas que tem uma vida mais fedida que a minha. Elas gostam de se iludir nas minhas histórias. E isso não é pecado, traz um alívio pra qualquer um que se identifica com o que escrevo. E isso é bondade... Sem esquecer que se não fosse por essa minha profissão hobby, não teria dinheiro pra comprar esse apartamento que você tanto odeia.
- Amo esse lugar. Amo viver com você nesse lugar. Amo viver coisas lindas nesse lugar. Amo você. Só porque você é rico.
- Já nem sei mais explicar o porquê de amar você. Minhas definições de “amor” vão se transformando com o tempo. Igual você. Então acho que você é amor.
- Você acha que somos um casal perfeito?
- Ninguém é perfeito. Nós somos um casal que se entende. Ou, pelo menos, tenta. Já dizia um amigo meu das antigas: “Casamento não passa de respeito, convivência e simpatia”.
-É, mas isso apenas resume o que um casamento tem que ser, mas tem mais.
- Tipo?
- Tipo você me preparar aquela torta que só você sabe fazer.
- Claro, com muita cebola.
- Te odeio.

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