Até parece que foi sonho.
Nunca havíamos conversado, nem seu nome eu sabia. Obviamente, tinha
me encantado pela beleza da moça. Porém, como sempre, só apreciava de longe.
Não lembro o assunto que nos aproximou. Já havia a visto em
outras noites, eu a achava uma garota repugnante, apesar de charmosa.
Não lembro o que aconteceu antes, mas repentinamente
estávamos sozinhos na esquina do bar. Quer dizer, eu, ela e minha bicicleta.
Discutíamos sobre filosofias de vida ou coisa parecida. O tom
do diálogo era pesado. Morria de raiva das ideias opostas daquela
garota. Apesar das opiniões distantes, estávamos pouco a pouco nos aproximando
fisicamente.
Um metro... Sessenta centímetros... Olhos a um palmo de
distância.
Nem meu Deus sabia o tamanho da minha vontade. Eu desejava imensamente aquela garota.
Um assunto sobre algo romântico, talvez, não lembro, incomodou
ambos e trouxe o silêncio. Contudo, meus olhos haviam se concentrado ainda mais
nos olhos dela. E foi recíproco. Além dos olhares, ela soltou um sorriso que ainda
não consigo descrever. Um negócio tímido, sensual, fechado, de lado, querendo
dizer algo, vai saber.
Não tolerei mais meu impulso. Recostado em minha bicicleta,
me inclinei na direção da moça e beijei seus lábios. Um ato inesperado, simples
e ligeiro. Boca mais carnuda não havia.
A moça reagira com uma expressão furiosa, proferiu “você
está malu...”, calou-se antes de terminar a frase, fez cara estranha, aproximou-se e retribuiu o beijo. Foi um negócio absurdamente forte, intenso e
sincronizado. Encaramo-nos sorridentes e continuamos nessa loucura all night long.
“I want you
I want you so bad, babe
I want you
You know I want you so bad
It's driving me mad
It's driving me mad
She's so…”