2014/07/16

No hugs (100 abraços) ou Abraços entre facas e sangramentos

Sim, eu contei. 100 é o número mínimo de vezes que desperdicei a oportunidade de ter feito tanta coisa. Te abraçar, só pra exemplificar. Eu superestimo, nesse meu negócio de romantizar tudo e a vida, coisas simples como abraços. Sei lá, você deve abraçar tua mãe, teu pai, teus sobrinhos, teus animais, mas, claro, porque você gosta deles e, principalmente, tem intimidade. Não que você não goste de mim, não sei, nunca afirmou coisa parecida ou contrária. “Afirmar”, claro, nesse jogo de sinais. Até gente aleatória você abraça, vai, como pessoas da faculdade não tão próximas, apenas por convenção social. Mas eu, ah, não abraço qualquer pessoa. Calma. Quero que a pessoa tenha força suficiente pra... Segurar-me. Abraços não são (não devem ser apenas) convenção social. Abraços são (precisam ser) portos seguros. Não apenas para mim. Pra nós dois.
Há cem dias, a gente saiu pela primeira vez. Há cem dias, ocorreu nosso primeiro encontro. Quer dizer, a gente se desencontrou antes mesmo de nos encontrarmos. Se é que isso pode fazer sentido no fim, mas, enfim, faz. Como você mesma disse, a gente se perde pra se encontrar.
Não que eu seja extremamente tímido, só um pouco, mas é que não quero que nosso relacionamento… Não, espera… Nosso caso… Não… Enfim, isso aí que a gente tá vivendo; não quero que isso se desgaste. Temo até que abraços prematuros possam rasgar nossos laços. “Laços”, você sabe. Não quero apertar demais pra evitar que esse laço se torne um nó cego. Nós, cegos pelo pessimismo. Se bem que eu e minha falta de coordenação motora já me deram problemas, em outras ocasiões, na hora de regular a precisão em minhas mãos. Descoordenado. Não sei usar tesouras, não sei dançar, não sei desenhar linhas retas, não sei me equilibrar em patins, não sei rodar de olhos fechados sem ter enjoos depois, não sei tanta coisa, mas sei...
Eu sei... 
Acredito, nessa minha cabeça entupida de metáforas e perspectivas analógicas, que somos facas afiadíssimas, porém, ao mesmo tempo, cheias de desgaste, suscetíveis a fragilidade de sermos mutuamente cortadas pelo mais singelo toque. Não quero te cortar, mas quero me aproximar ainda mais. Não sei devemos tentar encontrar um ponto em nós isento de destruição iminente. Sei que meu pessimismo em relação ao tal do amor (redundância para utopia) somado ao teu pessimismo em relação ao tal do amor (redundância para utopia) nos distancia de várias possibilidades possivelmente agradáveis. Talvez. Não que eu não acredite que esteja dando certo… “certo”, você entende, não?... afinal, estamos indo… indo… mas acho que, sei lá, acho que a gente deveria arriscar um pouquinho mais, mesmo que sangrasse um pouco, ao menos até encontrarmos um lugar melhor, na distância não-tão-precisa entre nossas individuais idealizações de um relacionamento saudável. Creio que se enfim nos chocássemos para fundirmos nossas existências, eu estaria então suficientemente motivado a enfrentar qualquer sangramento. Teria forças para estancar, mesmo que com as próprias mãos, de duas gotículas em um corte ao lado de sua cicatriz dadaísta a uma hemorragia em sua alma. Tudo para nos salvarmos. Não que eu queira ser "salvo" aliás (maldita sociedade que relaciona salvamento a religião), você já deve ter percebido que não prezo tanto por isso.
Mas eu quero...
Só não quero chegar ao ponto de, em alguns dos tantos dias que tenho para viver, cantar com razão que "lamentamos muito por não realizado algo maior". Doer, lógico que vai. Acabar? Certamente. Mas, ô, de que adianta terminarmos no raso da superfície? Eu quero me afundar. Sei que podemos ser um iceberg talvez capaz de destruir o maior dos navios repleto de inseguranças, receios, obrigações, pessimismo e repetições.
100 vezes, 98 barreiras entre nós. Não que eu não queira sentir. Eu sei... Eu quero... Sentir. Passou-se tempo suficiente pra me decidir, pra deixar crescer em mim o que não posso nem quero mais aprisionar,  mas o que não quero é estragar tudo. Também evito ao máximo dar motivos para que a vida estrague por conta própria. Meu receio consiste no fato de que tudo possa desmoronar caso a repetição ocorra demasiadamente. A gente insiste em ter medo, pronto, assumo por nós dois, por mais que eu ache errado ficar assumindo coisas por você, mas, se estou envolvido, posso dizer algo. Se você for contra isso, se discordar de algo, capriche nos sinais, olhares desviados, palavras repletas de vazio gritante ou o que preferir. Desde que continue aqui. Aqui, ali ou em qualquer lugar. "Aí ou em q u a l q u e r lugar". Aqui, aí, ali ou em qualquer lugar comigo. “Comigo”, desse nosso jeito.

“No meio daquele grande naufrágio, eu avistava uma ilha onde podia abordar.”
Honoré de Balzac, em O Lírio do Vale.

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