- Tivesse me falado antes, que a gente não saía do quarto.
- Não... Aliás, a gente tá indo no único bar que conheci nessa cidade.
- Meu deus, você está aqui vai fazer seis meses. Não tem vida social?
- Chamo isso de workaholic.
- Chamo isso de anti-social.
- Que seja, eu só quero saber de dormir, trabalhar, ler e escrever.
- Decidiu terminar aquele teu romance, como se chama, “Deitar e amar”?
- Nossa, não…. Nem lembrava desse. O que tô escrevendo… É um diário, na verdade, sobre as impressões dessa nova vida e... saudades.
- Saudade do que?
-Tô matando agora - disse ele, apertando as mãos da moça carinhosamente.
- Já conheceu muita gente?
- Tirando pessoal do jornal, gente de assessoria e dos lugares onde como, ninguém. Tô bem assim, não quero forçar amizades.
Já sentados no sofá do bar, não aguentava mais segurar, ela precisava perguntar:
- Quanto tempo cê pretende ficar aqui?
- Achei que fosse amar esse lugar, o que me faria ficar por muito tempo, mas…
- Mas, o quê?
- Aqui tem nada pra mim. Nada que me faça querer ficar. O nada não me serve. Não é igual nossa cidade.
- O que te incomoda? Qual a diferença?
- Tanta coisa, mas… principalmente, porque você não vive aqui.
A moça repousou a cabeça na parede e encarou o teto, sorrindo, enquanto apertava as mãos dele:
- Queria morar aqui, mas tenho que ficar lá por mais um ano. Se você tiver calma…
- Eu tô calmo. Eu tô muito calmo… agora. - repousou sua cabeça nos ombros da moça, respirou lentamente - Só não quero ficar longe. Fiquei muito feliz pela tua surpresa, sério, mas sei que se repetirmos muito isso não vai ser a mesma coisa.
- Por que você não volta? Cê diz que essa cidade tem nada pra você, então volta. - exaltou-se a moça por um momento. - Por que não volta?
- Porque… - soltou-se das mãos dela e cruzou os braços - Talvez porque... - riu um tanto indignado por pensar de tal forma - Eu não volto pra lá, talvez porque eu goste de sentir saudade. Sei lá… - ela não quis interromper, apesar de estranhar tal comentário, porque estava curiosa para saber onde esse monólogo poderia chegar; ele coçou a cabeça e, com a mesma mão, apertou os lábios inferiores - Acho que se a gente se visse com mais frequência... tudo isso entre nós, que, aliás, funcionava tão bem com doses moderadas de distanciamento, sem transbordar nem secar, acabaria… Mas, ao mesmo tempo, eu não consigo me motivar a sair trabalhar, a fazer qualquer coisa, se não pensar em você. Conversando contigo na minha cabeça, vendo um filme imaginando que estou afagando teu cabelo… Eu… Ah… - abaixou a cabeça a balançando negativamente e não mais falou.
Ela soltou o ar dos pulmões com força e a intenção de que ele pudesse perceber o desconforto que saía de seus lábios. O silêncio se manteve naquele canto do bar até que um dos garçons se aproximou e perguntou se queriam mais uma cerveja e levou a garrafa que os dois beberam. Juntos, como se ensaiados, acenaram que não e sorriram para o moço, que, pelo sotaque e o carisma, também era de outra cidade. A dupla ficou por ali, incomodada pelo rumo que a conversa alcançara, sem saber falar algo que pudesse salvá-los.
Na dança de olhares aleatórios pelo ambiente, encararam-se e trocaram sorrisos negativos. Levantaram e voltaram ao hotel. Na primeira quadra, ela interrompeu o silêncio:
- A gente saiu sem pagar?
- Não, eu paguei na hora, enquanto você foi ao banheiro e eu esperava o pedido.
Silêncio entrou na conversa. Novamente.
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