2014/10/29

Lonely People 7

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A moça não conseguiu mais falar e, através de seu olhar, deu espaço para que o rapaz dissesse algo, ainda de longe:
- Como se eu não fosse perdido também. Você sabe que sou. Quero continuar me perdendo, mas em você. Eu quero me afundar, mas em você, em nossos abismos. Quero poder me afundar no teu colo, mesmo que você não tenha força suficiente pra suportar meu peso emocional, assim como eu não seria capaz de aguentar tua imensidão, e que você também possa se afundar aqui.
Levantou-se e ficou encostado na janela ao lado da moça, que respondeu, após ser fuzilada com um sorriso simultaneamente tímido e magnético:
- Eu faria o possível pra te impedir de se afogar nas merdas da vida, por mais que eu não seja uma boa nadadora.
- Nem sei nadar mesmo… A gente talvez precise de paciência, talvez esse trecho esburacado da nossa estrada logo termine.
- Ou talvez a estrada logo termine.
- Mas… - Logo se calou, absorvendo enfim o que a moça acabara de dizer, deu um longo respiro e continuou: - Se não seguirmos em frente, nunca saberemos se a estrada dura mais um quilômetro ou é interminável.
- Tudo tem fim...
- Calma, não era esse o termo, mas, sim, claro, a gente sabe que tudo acaba… Sei lá, ela pode durar mais quatrocentos e doze milhões de quilômetros.
A turista saiu da janela, sentou-se na cama e, apertando o peito contra as coxas, reclamou:
- Minha barriga… dói.
Imediatamente, ele se postou a seu lado e repousou uma das mãos nas costas dela, acariciando-a gentilmente.
- Gastrite?
- Talvez, não sei. Continua o que cê tava dizendo...
Achou que poderia soar um tanto indelicado ignorar sua dor para falar sobre estradas e naufrágios, mas percebeu, através novamente dos olhares da moça, que ela não se importava.
- Tá... Esse nosso pessimismo realista sobre relacionamentos é algo bom, sabe? A gente tá muito consciente que vai acabar e, que, quando isso acontecer, vai doer.

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