Quando dormíamos juntos, era habito ouvirmos musica até o sono nos derrubar. Numa dessas noites, em meu quarto escuro, entoando canções para evocar Morfeu, ele trocou, com meu consentimento, de uma música recém iniciada para a próxima, em busca de uma aleatória mais hipnotizante. A luz do celular permanecia ligada, iluminando nossos rostos cansados - mas ainda assim profundamente apaixonados. Acariciou lentamente, com as costas de seu indicador, a cicatriz da minha boca, aproximou seu rosto do meu, trazendo seu calor constante, e nos beijamos rapida e delicadamente. De volta a seu travesseiro, que era meu, mas a posse poderia ser reavaliada devido ao seu cheiro impregnado, encarava-me, sério, reflexivo, enquanto a luz insistente ainda me prendia ao olhar daquele que ali, ainda suado, interrompeu o silêncio:
- O amor, o nosso amor, é igual essa luz, apaga, acaba, mas, ao contrário do celular, não tem como a gente programar com precisão quanto tempo isso tudo, a gente, vai durar. - A luz já havia dado lugar ao escuro logo no início do monologo, mas demorei a perceber por estar presa ao que ele falava. - Talvez demore muito tempo, num tempo que em que minha calvície já tiver invadido minha cabeça, ou talvez você acorde daqui algumas horas e eu já não esteja mais aqui.
Calou-se, como se procurasse mais palavras, mas, como o conhecia há tanto tempo, sabia o que esse silêncio significava, emudeceu tempo suficiente para me dar voz, e perguntei:
- Você quer ficar aqui? - Guiei minha mão a fim de encontrar a sua, apertei-a, com todo o carinho que havia em mim, não era pouco, e continuei:
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