2015/08/10

Oceanos

Lágrimas leves desciam por seus rostos, não doíam, não era sofridas, pareciam sair par afagar a face de quem sentia falta das mãos que costumavam lhe dar carinho. Rios quentes desciam, porém não substituíam a mão desejada. Distantes, lembravam que havia um motivo para chorar de saudade - ou alegria -, contudo, às vezes, deixavam-se ser inundados por uma onda de carência.
Peças de roupas abandonadas serviam para secar lágrimas e sufocar a falta que a pessoa a quem realmente pertencia fazia.
Odiavam juntos o fato de convergirem tanto em direção ao lago perdido da melancolia. Tudo lhes era triste, até mesmo o amor, droga da qual não queriam jamais se distanciar, mesmo que fosse com parceiros diferentes.
Distância, havia muita entre eles. Felizmente, apenas a física. Infelizmente, era justamente a longinquidade entre estados que os fodia no seco sem beijo no pescoço nem sussurros ofegantes intraduzíveis para idiomas comuns que significavam tesão e coisas parecidas.
Não havia mar real entre eles, apenas uma serra, duas províncias inteiras, muitos quilômetros e muita saudade. O mar interno de cada um queria logo derrubar o estreito, engolir as penínsulas, invadir cidades, para dar vida a um novo oceano repleto de amor, melancolia, gritos, sussurros e o que mais pudesse emergir diretamente das profundezas de suas existências. 
O tempo, sempre cruel, era o que precisavam, contudo a ansiedade, passando entre eles por uma instável tubulação, era o petróleo que poderia exterminar qualquer possibilidade de vida neste oceano.

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