2015/08/03

Relacionamentos corrosivos não bastam para quem vive de amor

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I'm still the shadow 
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O ciclo 
 
A chama de Larsen e Rub se apagava depois de incinerar por um mês ou dois, após porres amnésicos e erosões aumentadas em seus peitos, quando enfim conseguiam se livrar, feridos, das correntes de receio e desesperança que os forçavam ao enclausuramento no espaço mais profundo de suas existências. Reagiam dolorosamente aos atos corrosivos do outro por simplesmente - em tempos de queimada - julgarem que mereciam sofrer as penitências que lhe eram aplicadas sem dó por terem amado demais ou de menos. 
Apesar da destruição mútua, somente Rub resgataria Larsen de si mesmo - vice-versa. O apaixonado e o pessimista, contudo, nunca se entendiam, não conseguiam viver no mesmo lugar, no mesmo bar, no mesmo lar, por muito tempo, são auto-destrutivos demais para si mesmos, porém, eis a contradição, necessitavam do mutualismo. Dependiam um do outro. Ironicamente, precisam um do outro para viver. Necessitavam, ao menos, saber que o outro está vivo, desenvolvendo sua forma de ser, espalhando amor ou desgraça aonde fossem, ligados através de uma corrente invisível e indolor, mesmo que seja para dedicar o último pensamento antes de dormir: “Amanhã terei quem sofra por mim”. 
Até que chegou o dia que esta oração se esvaiu em vazio e desprezo. A dor não era mais satisfatória, deixou de anestesiar as demais desavenças da vida. Quiçá, em um realidade, parelela, esta vida a a dois duraria mais de 40 anos, numa leve dança de carinho e amor. “Por quê?”, insistiam no questionamento no silêncio do quarto, enquanto, ainda juntos, o outro repousava a seu lado, perguntando-se a mesma coisa. A resposta, sempre a maldita necessidade de resposta atrasa qualquer desfecho, qualquer adeus. O motivo para Rub não mais amar - ou sofrer por - Larsen talvez fosse cansaço ou simplesmente a extinção do amor. Para Larsen, talvez fosse(m) o(s) mesmo(s) motivo(s). Não sabiam, não buscaram saber. Contentaram-se apenas em partir, levando cada um a pesada bagagem de tempo e memórias que compartilharam juntos. 
Perder o sono ao avistar no escuro o resto dele, perambular com peito cheio de fumaça e saudade pela cidade carregando a ânsia de encontrá-lo em lugares improváveis, vomitar cartas que jamais terá coragem de entregar, ir de zero a cem batimentos cardíacos em um segundo quando lembra de algo que o outro disse para requentar a esperança que prolongara o amor entre os dois… Enfim, as consequências do término continuam, mas chega uma hora que tudo isso cansa de verdade. Esse amor ainda os consome a cada novo instante, tempos após a despedida formal - que não impediria um encontro ao acaso, já que vivem na mesma cidade -, e os guia por um caminho que leva a um abismo causador de desolação e saudade, uma morte horrível da alma. 
Será que em algum momento o término de um romance deixa de ser algo tão desgraçado de se sentir, tornando-se indolor, algo que apenas flui para longe sem arrancar pedaços? Às vezes, parece que a dor, o luto e o desespero só acontecem com quem se permite a um afogamento num poço cheio desses sentimentos.
Cansaço, desfecho, adeus, ponto final, novo livro, novo amor, recomeço… Vida.

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