2012/01/31

Uma parada massa

Doença, vício e carência


Por mais estúpido ou orgulhoso,
no final, você vai sentir falta e culpa.


A gente nasce pra morrer, esse é o propósito da vida.
O que nos resta é distrair a mente até que esse final chegue.
A gente sabe, deixa de ser cego, que esse é o único final de nossas vidas.
A gente precisa fazer algo pra não ficar pensando o tempo todo em vou morrer, vou morrer, vou morrer...
Eu não escolhi esperar, eu decidi por amar... por mais doloroso que seja às vezes. É tudo uma questão de fases e individualidades. Você não pode viver num amor sem se importar com os problemas dela(e). Por mais que você não resolva o problema, você precisa sentir-se incomodado com isso. Aquela tristeza escondida sem razão. Aquela grosseria gratuita sem motivo. Você compartilha a treta alheia e, às vezes, se preocupa mais que a própria dona.


Ás vezes. Tudo está. Nada é.
Não sou triste. Estou. Posso mudar. Ás vezes mudo sem pensar.
As pessoas se prendem demais ao "infinito das coisas", como se tudo fosse o que é pra sempre. Sempre não existe. O que pode existir pra sempre é o momentâneo.

O NADA é complexo. Por mais que não represente coisa alguma. Nada existe.

Enquanto eu viver pra sempre, quero seguir a crença de que quase tudo vale a pena. O resto a gente enfrenta e vence pra provar que presta.

Falando agora sobre a morte: não sei, nunca morri. Não dá pra dizer o que acontece lá. Cada um diz uma coisa segundo sua crença. Cada um tem um crença e uma criança em si. E a minha insiste em dizer que sou imortal.

2012/01/22

S UICÍDIO


(parte dois)

A mãe de Paulo sempre dizia que independente do que você deseje, algum sacrifício será necessário. Seu pai admirava todas as mulheres, todas, por terem uma beleza natural e incalculável. Somando-se essas duas heranças, Paulo era extremamente dedicado e aficionado por Guilhermina, uma obsessão saudável e cheia de cuidados. Era como se ela portasse o segredo do universo ou, na visão egoísta de Paulo, todo o combustível necessário para que ele aguentasse as chatices e dores do mundo.

Eram tempos difíceis pra Paulo. Recém órfão, recém reprovado, recém traído. “Once in hell, embrace the devil.” Ele só precisava encontrar um motivo pra não provar que não existe vida após a morte. Ainda tinha medo, mas pretendia encontrar na cachaça a ignição para tal ato. Foi numa dessas que, não se sabe como, foi parar num bar estranhíssimo a seus olhos, cheio de desconhecidos de estilos alheios ao seu. Se entrara naquela selva acompanhado, já havia se perdido.
Logo após virar sua 123ª tequila, seus olhos miraram numa pessoa que também parecia não pertencer aquele lugar. Ela tomava no canudo uma bebida que parecia suco de limão e observava os demais com um olhar meio medroso, meio risonho.  Obviamente, Paulo quis fazer contato com a estranha. Foi chegando, torto, mas à cinco metros foi atingido pelo olhar da moça que o obrigou a alterar sua rota. Parou a uma certa distância e ainda não acreditava: era a coisa mais bonita que surgira em sua vida após a pizza de quatro queijos.
Boquiaberto, travado, hipnotizado, cochichou:
- Meu deus... eu quero ela pra mim.
Fato é que o resmungo saiu meio alto e um cara ao seu lado disse:
- Vish... véio, essa é a mina do DJ, nem tente chegar perto dela.
Passaram-se horas, ele já a desejava demasiadamente, queria que ela fosse a mulher que o obrigasse a sair pela noite à procura dos mais doidos desejos de grávida. Ele queria, precisava. Não podia. Todos esse pensamentos o rodeavam sem ao menos ter encostado nela. Totalmente doentio. Como o amor deve ser.



Guilhermina ainda não entendia o porquê de estar a tanto tempo com um cara que mudava de estilo e ideologia umas dezoito vezes por mês. Influenciável, um coitado. Dessa vez, o cara estava investindo numa carreira de DJ estilo black metal dubstep. Até que fazia um certo sucesso em seu nicho de atuação.
Guilhermina não se importava em ir à lugares estranhos, se lá tivesse álcool. Não era alcoólatra: não bebia cerveja no café da manhã, não enchia a cara de conhaque em casa. Só na balada. Ou onde quer que seu namorado a levasse.
Guilhermina teve seus motivos para aceitar entrar nessa jornada mortal chamada “namoro”. Suas próprias razões, se é que existe razão no amor. Enfim, ninguém a obrigou. Mas naquela noite da balada metaleira eletrônica, finalmente entendeu que chegara a hora de dispensar o tal teto de vidro e partir pra diversão sincera. "Chega do mesmo! Novidade neles, Guilhermina!"
Guilhermina e seu drink já observavam há um tempo o bêbado que também parecia não pertencer àquele buteco. Era realmente atraente, não só fisicamente. Suas roupas pareciam combinar com o estilo da moça. Além de sua velha tara por barbas. O tal rapaz estava realmente hipnotizado, e a vontade dela era chama-lo pra conversar, sem intenções carnais, só por crer que eles se dariam bem. Ela sempre acertava os pré-conceitos que tinha de desconhecidos. Quando conheceu seu namoradj, chamou-o de “babaca”.
Guilhermina queria conversar com o cara estranho, tê-lo. Mas não podia ainda. Àquela hora da noite, os interesses já estavam em decidir o nome das crianças. Ela sabia que ele estava interessado, mas ainda tinha um namoro pra terminar. Ela só não entendia como chegara a esse ponto de sequer saber a banda favorita do atual cônjuge.
Teve diversos platonismos espontâneos na adolescência, mas, poxa, ela já tinha vinte anos. Porém, esse homem do bar não podia ser mais um. Não era um, era O.
Guilhermina chegou no dj, disse que não o amava mais e foi ao encontro do desconhecido apaixonante. Seu coração pulsava num ritmo totalmente novo. Tascou-lhe um beijo. “Meu deus...” disse. Ela amou. O atrito do que a prendeu. Estava feito. Pegou-o pela mão e saiu. No caixa do bar, disse que era namorada do dj e conseguiu sair de graça. Paulo se deixou ser guiado.
Guilhermina ainda esperava despertar desse sonho ou que alguém revelasse a pegadinha. Era extremamente utópico.
Enfim, Guilhermina concluiu que não era um sonho. Sonhos não duram anos. E esse já durava dois anos.

2012/01/20

SUICÍDIO


(Parte um)

- Alguém vem aqui pra ler esses livros?... Porque sempre que venho aqui, eles estão no mesmo lugar...
- Eu é que tenho mania de organização. Alguns pacientes gostam de folhear alguma coisa enquanto contam suas tristezas.
- Mas são livros tão antigos! Ninguém mais lê isso hoje em dia.
-Mas são clássicos!
- Quantos anos você tem mesmo?
- 38.
-Meu deus... que velho.
- Aham... muito velho... pelo menos minha geração tem bons clássicos da literatura, e a sua?
- Vish... você chama de clássico aquilo que é muito bom ou aquilo que vende pra caramba?
- Livros que te prendem, acrescentam algo, e que você cite ou relembre por muito tempo depois de ter lido.
- É... nesse assunto a tua geração vence. Livros novos e bons são minoria da minoria da minoria. Sério, sem querer bancar o ser superior nascido nos anos 90, é muito difícil conquistar público fazendo trabalhos originais e egoístas. Galera só pensa em grana.
- Egoísta?
- Ah, fazer algo de você pra você, pensando na sua própria satisfação. Mas essas paradas de criatividade não original não se resolverão, porque as pessoas de hoje são assim por causa de cagadas feitas há muito tempo, que foram transmitidas de geração pra geração. Eu sei que eu sou um merda, ninguém precisa me avisar isso, mas pelo menos não banco o cego e aceito tudo que cai da porcaria da tv.
- E o que você faz pra mudar o mundo?
- Quem disse que quero mudar o mundo? O mundo não dá a mínima pra mim, porque me importaria com ele. Sou egoísta mesmo.  Eu quero mudar e tô sempre mudando o MEU mundo. Faço o que tiver que ser feito pra suprir minhas vontades, essa é minha religião.
- Você é um hedonista então?
- É uma palavra legal, mas não sei seu significado.
- É exatamente isso que você é, Cirene.
Dr. Rafael (que devia ser mesmo ser chamado de doutor, pois tinha doutorado em psiquiatria) já conhecia Luiz o suficiente pra afirmar essa sua característica.
- Cirene?
- Melhor não entrarmos no tema ideologia hedonista. Não sou dessa praia. E... antes que você venha com assuntos aleatórios, tomou o remédio?
- Véi... aquela parada me apagou de um jeito... Tomei domingo de manhã e depois disso... só lembro que quando voltei ao planeta Terra já estava sentado na cadeira do escritório.
- Não acredito!
- Mentira, nem tomei o remédio. O que eu tomei mesmo foi uma porrada de  álcool desde sábado às oito da noite até domingo a noite. Se eu tomei alguma pílula, não sei, as não foi essa que você me receitou.
- É assim que você pensa que vai melhorar?
- Vivendo em prol do prazer, aleluia!
A esse ponto do tratamento, Rafael já tratava Paulo como amigo, e não mais como um paciente depressivo revoltado. Isso poderia atrapalhar o desempenho de outros Doutores, mas para ele, essa liberdade pra falar ajudava muito, ainda mais com pessoas mentalmente alteradas.
- Ok, e, como você diz, o apetite pela secretária?
-Mentalmente, faço perversões com ela umas vinte e nove vezes por dia. Mas, quando ela faz seus doces se abrindo toda, lembro imediatamente da Guilhermina.
- Falando na Guilher, você já teve coragem de contar essa tua tara pra ela?
- Não, meu deus... enquanto eu for dela: tudo menos magoá-la. E o que me incomoda é ter certeza se eu ainda sou, porque, não sei, ando tão fraco... Acho que a rotina me estragou, e só melhorou ela. Poxa, sei que ela me ama muito e muito e cada vez mais e mais. Impossível medir tamanho amor, mas eu , já falei, sou um merda... e sempre abandono o que me faz bem.
-Não direi o que você tem a fazer, mas preciso te ajudar a não pegar o caminho errado, independente de qual seja o certo. Falando em hedonismo, você precisa fazer algo pelo qual na se arrependa amanhã. Não tem como saber qual realmente será o melhor a fazer, você tem que agir e pensar no que você é hoje pra colher o que vier depois. Só depende de você.
- Ah... ela tem o que eu quero e preciso, mas eu insisto em ser um idiota...