2012/08/27

Menina da rua #2


Até parece que foi sonho.

Nunca havíamos conversado, nem seu nome eu sabia. Obviamente, tinha me encantado pela beleza da moça. Porém, como sempre, só apreciava de longe.
Não lembro o assunto que nos aproximou. Já havia a visto em outras noites, eu a achava uma garota repugnante, apesar de charmosa.
Não lembro o que aconteceu antes, mas repentinamente estávamos sozinhos na esquina do bar. Quer dizer, eu, ela e minha bicicleta.
Discutíamos sobre filosofias de vida ou coisa parecida. O tom do diálogo era pesado. Morria de raiva das ideias opostas daquela garota. Apesar das opiniões distantes, estávamos pouco a pouco nos aproximando fisicamente.
Um metro... Sessenta centímetros... Olhos a um palmo de distância.
Nem meu Deus sabia o tamanho da minha vontade. Eu desejava imensamente aquela garota.
Um assunto sobre algo romântico, talvez, não lembro, incomodou ambos e trouxe o silêncio. Contudo, meus olhos haviam se concentrado ainda mais nos olhos dela. E foi recíproco. Além dos olhares, ela soltou um sorriso que ainda não consigo descrever. Um negócio tímido, sensual, fechado, de lado, querendo dizer algo, vai saber.
Não tolerei mais meu impulso. Recostado em minha bicicleta, me inclinei na direção da moça e beijei seus lábios. Um ato inesperado, simples e ligeiro. Boca mais carnuda não havia.
A moça reagira com uma expressão furiosa, proferiu “você está malu...”, calou-se antes de terminar a frase, fez cara estranha, aproximou-se e retribuiu o beijo. Foi um negócio absurdamente forte, intenso e sincronizado. Encaramo-nos sorridentes e continuamos nessa loucura all night long.


I want you 
I want you so bad, babe 
I want you 
You know I want you so bad 
It's driving me mad 
It's driving me mad 

She's so…”

2012/08/14

3 atos sobre a estranheza


Dedicado à...

I. Susto
Já não lembro se eu estava apenas sentado ou esperando algo. Ela simplesmente apareceu do além, sentou-se ao meu lado e soltou um efusivo “oi”. Só. E ficou me encarando sorridente. Respondi com um tímido “olá” e me desabrochei num sorriso ofegante. Depois do susto, enfim, pude inspirar toda a beleza que passeava pelo ambiente. Era demais.
E ela continuou me encarando, sorrindo. E disse:
- Lembra-se de mim?
Meu Deus, como é que eu não conseguia me lembrar desse rosto? O impulso me fez responder sinceramente:
- Não, de onde nos conhecemos?
- Brincadeira, a gente nem se conhece. Na verdade, eu só queria me sentar aqui e ficar na minha, mas aí você me olhou. Como é seu nome?
Além de tudo, além de linda, é estranha.

II. La Magia
Ao contrário do primeiro, este nosso novo encontro fora arranjado, mas demorou pra acontecer.
Seu cabelo crescera, sua beleza também. E seus olhos ainda possuíam a mesma magia hipnotizadora.
Questionei-me sobre as razões que poderiam ter levado aquela moça tão bonita a me encontrar por aí. Questionei-me sobre as razões que me levaram ao despertar de um imenso desejo de repetir a dose.
Nada acontecera de romântico no primeiro encontro, nada. Sem xavecos. Meu radar não apontara nenhuma indireta de sua parte. O que consegui perceber foram duas pessoas se conhecendo informalmente, conversando sobre assuntos aleatórios e tragédias alheias, sem querer saber da naturalidade ou escolaridade do outro.
Neste novo encontro, não rolou um alegre cumprimento, mas um abraço ligeiro, porém sincero e carinhoso. Eu só temia que isso fosse um convite à friendzone.
Quanto mais álcool, mais vontade de tê-la em meus braços. Seus beijos. Acordar e me deparar com aqueles grandes olhos verdes. Quanto mais tempo juntos, mais a mágica me atraía.
Contudo, nenhum de nós expressava desejos. Ela, apesar de dizer muitas coisas com seus lindos olhos, não demonstrava coisa alguma além de gostar das nossas conversas. Eu, apesar de louco, precisava de mais intimidade pra me abrir.

III. Nelson
Há quase um mês distantes, não conseguia excluir da memória o efeito daqueles sorrisos e o encanto daqueles olhos.
Não queria impor nada a ela. Não enquanto ela não desse seu sinal. Toda mulher tem uma frase, um gesto, que autoriza o homem a se aproximar e se apaixonar.
Mostrei a ela minha real personalidade, a fim de atraí-la sinceramente, sem criar um personagem perfeito impossível de se manter.
Conheci suas aventuras alcoólicas. Algumas embaraçantes. Não devo me preocupar com o que uma pessoa fez a fim de se entreter, ela é quem deve fazer sua própria análise de consequências. Aliás, também não sou santo, ninguém é, o que diferencia é o quanto alguém expõe das suas verdades e o quanto ela é condenada por elas. Dane-se.
Eu queria mais doses daqueles olhos, daqueles sorrisos, daqueles risos, daquele “oi”. Figurava em mente momentos que poderíamos viver juntos. Transformei cenas românticas de diversos filmes em sonhos protagonizados só por nós dois. Eu estava num maldito cold turkey
Aprendi com minha mãe que 3 é meu número. Segundo ela, minha vida seria guiada por ele.
Um abraço mais forte que o último inaugurou o terceiro rolê.
Ela estava mais encantadora ainda.
- Nossa, você está muito linda e sorridente hoje. O que está te deixando assim? – tudo certo, eu estava seguindo um roteiro mental para chegar à minha confissão.
- Ai... O cara que eu gosto finalmente se declarou pra mim. E me pediu em namoro semana passada!
Maldito número 3. 

2012/08/09

Menina da rua #1


Aquela cara de bêbada, oh meu Deus. Aquele sorriso fechado, minha nossa Senhora. Aquela franja torta, mas que coisa.

Não há talvez: Com toda a certeza de todos os universos, não posso ficar com ela. A tal menina não me pertencia, nunca me pertenceria.
Um conjunto alcoolizado de rosto, cabelo, olhos, olheiras e depressão.
Eu faria um templo em homenagem a sua beleza, mas seria doentio. Eu poderia montar um museu para deixa-la lá em exposição eternamente. Eu devo deixar de nóia e apenas continuar admirando a moça.
Se Deus escreve certo por linhas tortas, aquela mulher era o TCC do doutorado sobre a perfeição.
Uma gata de vinte e poucos com uma cara de quem bebe muito desde os quinze. Sempre com aparência de ressaca. Seus olhos flutuantes não param quietos, por mais interessante que o diálogo esteja, ela não consegue olhar a um só lugar. Parece que não está prestando atenção, mas sempre prova o contrário.
Eis uma coisa que ela só faz bêba: mostrar os dentes. Conte sua melhor piada a ela numa tarde sem álcool e não verá reação alguma. Diga “dromedário” ou alguma coisa tosca a ela no meio de um porre e veras o sorriso mais gostoso do mundo. Por mais que seja um sorriso torto, meio escondido, é mais belo que duzentas Zooey Deschanel juntas. Verdade exageradamente sincera, sério.
Aquele cabelo, o mesmo de milênios, segue a tendência fashion mais invejada: beleza. Aquele cabelo sem penteado, sem corte, sem jeito.
A garota mais deprimida que já conheci. É depressão com pessimismo e café, sem açúcar. É agradabilíssimo sentar ao seu lado e ouvir suas lamentações, coisas que todos nós negamos. Ela não tem a utopia de perfeição.
 Os padrões de sensualidade a detestam. As revistas abominam suas olheiras. Sou o presidente-fundador da ONG que defende a eternidade dessas olheiras. Na minha lista de combinações favoritas, a pele branca em contraste com as rodelas marrons só perde para pão e queijo. Seus olhos já são um negócio absurdo, trabalhando ao lado das olheiras me fazem acreditar em hipnose. Gasto uns bons minutos observando.
O conjunto da obra é algo que as tartarugas ninja jamais conseguiriam imitar.
Uma estrutura sem jeito. Uma coisa desajeitada. Uma overdose de beleza.
Não me martirizo por não tê-la. Não dói. Não é amor. Não é desejo. É apreço. Se eu a namorasse, perderia o tempero. Se eu a namorasse, minha feiura a contagiaria. Se eu a namorasse, infelizmente, enjoaria daquela beleza toda. Se eu me apaixonasse, uma bruxa má roubaria sua beleza. Melhor eu não me aproximar demais, meu interesse se foca à observação somente.

2012/08/07

Roteiro de um curta


Sobre minha cama, revejo tudo que vivi nela. Questiono-me se é certo sonhar em ter uma companheira eterna, mas praticar o oposto dormindo com tantas mulheres randômicas. Minha mente carente cria a ilusão de que desejo somente uma, porém a coitada não existe ainda. Minha mente hedonista impõe que o que eu realmente quero é dormir com alguém, nada mais, então, pela facilidade, vivo assim.
Talvez... Não, não é talvez, é certo que eu prefira me jogar nessa loucura. Sou seletivo demais pra escolher uma esposa, portanto prefiro me prender somente aos aspectos físico-sensuais das mulheres. Se eu for analisar as individualidades internas de cada moça que encontro, cismarei com simplicidades, até mesmo algumas que encontro em mim mesmo, e decido por desistir de encontra a metade da minha panela ou a tampa da minha laranja.
Até parece que sou do estereótipo pegador-comedor, porém a diferença básica é que nunca desrespeitei uma mulher a fim de esperar que um insulto pudesse a levar pra minha cama. Nunca insisti demais ao perceber que ela não me acompanharia por vontade própria. Insistência houve, claro, várias vezes, mas nada doentio.
Meu interesse não se foca num único tipo de mulher. Meu interesse não se foca somente ao sexo. Eu piro mesmo é na beleza feminina. Sem restrições. Nada mais sensual do que os quadris femininos, sejam eles minúsculos ou gigantes, as curvas tornam a mulher o que há de mais atraente nos universos. Talvez, se os homens não fossem tão retos, se possuíssem belas ancas, me atrairia por eles. Fato que o conjunto do corpo feminino determinado por pés, coxas, quadris, bustos e rosto são as coisas mais incríveis que podem ter existido em toda a existência humana. Está decretada a lei que define o corpo feminino como o que há de mais belo na vida.
Creio que talvez eu não seja capaz de me prender a uma única mulher para viver. Não sou tarado por sexo, sou admirador da beleza feminina, gosto de passar horas apreciando uma mulher. Deitada, dormindo ou interagindo com o meu corpo, tanto faz.
 Aliás, como podem existir mulheres que se interessam pelo corpo masculino? Tão ogro, reto e com um negócio feio no meio. É, beleza e atração são duas das coisas mais relativas da vida. Cada um com seus próprios interesses. Ainda bem que existem gostos diferentes para que minhas afinidades não tenham tanta concorrência. “Sobra mais pra mim” por eu não me prender a somente um único tipo de mulher. Frase redundante, mas há mais redundância do que apreciar curvas femininas? Homens não possuem curvas e as femininas são óbvias de apreciação.
Sou de fases. Às vezes, prefiro as magrelas, como a Charlotte Gainsbourg, apesar não possuírem excessos, apresentam belas curvas com uma maior dificuldade de apreciação. É um tesão inenarrável desbravar um corpo magrelo em busca da beleza que você sabe que existe, mas não vê explicitamente. Às vezes, uma Sofia Vergara ou uma Mulher Celulite tem o poder de prender minha atenção, assim como quando um culto passa horas numa exposição dadaísta apreciando nada.
Se levo uma mulher pra minha casa, é com o inocente intuito de ter mais espaço e liberdade para apreciar sua beleza. Mas o encanto e a tendência viciosa que as moças possuem me levam à redenção, me entrego à sensualidade e deixo a sexualidade florescer. Eis que neste momento de contato íntimo, deixo a apreciação como coadjuvante e abro espaço ao tesão. Minha excitação é diretamente influenciada pela minha apreciação, então o ato sexual não se conclui com dificuldade.
De todas que conheci, algumas peças raras me induziram à repetição. Foram pouquíssimas mesmo. Tiveram a moral de perturbar minha memória até que eu fosse atrás de mais uma dose. É uma droga que nenhum farmacêutico poderia criar, a tal da beleza feminina. Mas esse vício, eu preciso controlar para que não prejudique meu passatempo favorito: apreciação. Se eu me prendesse a uma ou repetisse muito, eu perderia o gosto. Sei que para os padrões impostos para “relacionamentos” eu sou de má índole, sou desprezível e rejeitável, tal qual um pegador-comedor.
Tenho a convicção de que não pertenço ao grupo escroto dos caras que procuram mulheres para serem suas escravas sexuais. Sou certo da imagem que transmito à sociedade. Mas prefiro seguir minhas vontades e buscar satisfazê-las. Não prejudico ninguém vivendo assim. Se um dia eu concluir que esse lifestyle começou a me prejudicar ou eu iniciar o interesse em me prender a uma só mulher, só depende de mim. Vivo por mim mesmo. Sou um hedonista apaixonado pela beleza feminina. Se serei diferente, terei de continuar vivendo pra saber.