2012/08/14

3 atos sobre a estranheza


Dedicado à...

I. Susto
Já não lembro se eu estava apenas sentado ou esperando algo. Ela simplesmente apareceu do além, sentou-se ao meu lado e soltou um efusivo “oi”. Só. E ficou me encarando sorridente. Respondi com um tímido “olá” e me desabrochei num sorriso ofegante. Depois do susto, enfim, pude inspirar toda a beleza que passeava pelo ambiente. Era demais.
E ela continuou me encarando, sorrindo. E disse:
- Lembra-se de mim?
Meu Deus, como é que eu não conseguia me lembrar desse rosto? O impulso me fez responder sinceramente:
- Não, de onde nos conhecemos?
- Brincadeira, a gente nem se conhece. Na verdade, eu só queria me sentar aqui e ficar na minha, mas aí você me olhou. Como é seu nome?
Além de tudo, além de linda, é estranha.

II. La Magia
Ao contrário do primeiro, este nosso novo encontro fora arranjado, mas demorou pra acontecer.
Seu cabelo crescera, sua beleza também. E seus olhos ainda possuíam a mesma magia hipnotizadora.
Questionei-me sobre as razões que poderiam ter levado aquela moça tão bonita a me encontrar por aí. Questionei-me sobre as razões que me levaram ao despertar de um imenso desejo de repetir a dose.
Nada acontecera de romântico no primeiro encontro, nada. Sem xavecos. Meu radar não apontara nenhuma indireta de sua parte. O que consegui perceber foram duas pessoas se conhecendo informalmente, conversando sobre assuntos aleatórios e tragédias alheias, sem querer saber da naturalidade ou escolaridade do outro.
Neste novo encontro, não rolou um alegre cumprimento, mas um abraço ligeiro, porém sincero e carinhoso. Eu só temia que isso fosse um convite à friendzone.
Quanto mais álcool, mais vontade de tê-la em meus braços. Seus beijos. Acordar e me deparar com aqueles grandes olhos verdes. Quanto mais tempo juntos, mais a mágica me atraía.
Contudo, nenhum de nós expressava desejos. Ela, apesar de dizer muitas coisas com seus lindos olhos, não demonstrava coisa alguma além de gostar das nossas conversas. Eu, apesar de louco, precisava de mais intimidade pra me abrir.

III. Nelson
Há quase um mês distantes, não conseguia excluir da memória o efeito daqueles sorrisos e o encanto daqueles olhos.
Não queria impor nada a ela. Não enquanto ela não desse seu sinal. Toda mulher tem uma frase, um gesto, que autoriza o homem a se aproximar e se apaixonar.
Mostrei a ela minha real personalidade, a fim de atraí-la sinceramente, sem criar um personagem perfeito impossível de se manter.
Conheci suas aventuras alcoólicas. Algumas embaraçantes. Não devo me preocupar com o que uma pessoa fez a fim de se entreter, ela é quem deve fazer sua própria análise de consequências. Aliás, também não sou santo, ninguém é, o que diferencia é o quanto alguém expõe das suas verdades e o quanto ela é condenada por elas. Dane-se.
Eu queria mais doses daqueles olhos, daqueles sorrisos, daqueles risos, daquele “oi”. Figurava em mente momentos que poderíamos viver juntos. Transformei cenas românticas de diversos filmes em sonhos protagonizados só por nós dois. Eu estava num maldito cold turkey
Aprendi com minha mãe que 3 é meu número. Segundo ela, minha vida seria guiada por ele.
Um abraço mais forte que o último inaugurou o terceiro rolê.
Ela estava mais encantadora ainda.
- Nossa, você está muito linda e sorridente hoje. O que está te deixando assim? – tudo certo, eu estava seguindo um roteiro mental para chegar à minha confissão.
- Ai... O cara que eu gosto finalmente se declarou pra mim. E me pediu em namoro semana passada!
Maldito número 3. 

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