2013/06/08

Condomínio fechado

Ambos não sabiam lidar com as pessoas.
Eles sabiam ter problemas. Vários. Cada um com seus próprios. Mas ninguém percebia essas questões internamente individuais. Era difícil de explicar para quem não vivia coisa parecida, porém esses dois... Ah, eles se entendiam. 
Os relacionamento dos dois era... Era uma bagunça saudável, em que um fazia bem ao outro, vice-versa. Desde que conheceu Renata, Cléber abandonara seus pensamentos deprimentes e deu férias pra sua desmotivação, ela servia como uma injeção de alegria em sua vida.
Apesar de viverem na mesma cidade, era difícil se encontrarem, pois suas rotinas pouco eram compatíveis. Além de que Renata morava no norte; e ele, no sul.

Mas aí, um dia, Renata resolveu dar um tapa na rotina e o convidou para uma festa junina. Na verdade, não foi um convite. A festa era no Cotolengo  e a casa de Cléber ficava no caminho. Então, destinando-se ao negócio, Renata ligou dizendo pra ele se aprontar e encontrá-la no Pão de Açúcar em dez minutos.
- Mas eu tô todo zuado de pijama! - reclamou ele.
- Mas eu tô nem ligando, Crébs!

A festa era num condomínio fechado, tipo "Festival da boa vizinhança" do Chaves, com palco armado e tudo mais. Porém, assim que chegaram, ignoraram a festa e foram caminhar pelo lugar pra conversar. Dentre as dissertações de Renata sobre não acreditar em casamento, a piada do "Davi e a formiga" que Cléber adorava contar, a caminhada foi bastante longa. Deram voltas e mais voltas pelo condomínio, com uma pausa pra eles pegarem pé-de-moleque numa das barracas.
O passeio continuou e os assuntos não paravam. Desde a lista de filmes favoritos de Cléber, passando pelos gatos de Renata e chegando aos seus medos. O papo foi indo sem intenção de terminar. Mas aí o celular dela tocou. Era sua mãe dizendo que estava por perto e perguntando se Renata queria carona pra casa.
- Ah, mãe, não sei, já te ligo. - disse ela encarando Cléber.
- Que foi? Vai! Aproveita a carona. - retrucou.
- Mas e você? E nós? E nosso passeio?
- Eu continuarei ao teu lado... Mas aproveita a carona.
E Cléber continuou argumentando a fim de convencê-la a ir, pois sabia que era melhor pra ela. Além disso, ele costuma enjoar das pessoas quando interagindo muito com elas, e, naquele momento, não pretendia largar mão dessa estranha e essa bagunça tão benéfica.
Renata ligou pra sua mãe dizendo que queria a carona; Cléber, pra sua tia que morava ali perto pra saber se tinha um colchão pra ele. Tudo arranjado, mas eles ainda tinham tempo para mais aleatoriedades.

Já era hora de ela partir. Aí quando foram cruzar a cancha de areia para chegar ao estacionamento, ela tentou abraça-lo. Na verdade, Renata fraquejou na hora, aí Cléber disse:
- Vai, pode abraçar.
Aí ela deu um abraço forte. Mais forte que ela mesma. Nisso, abriu os olhos e pediu para ele, hipnotizado, soltá-la:
- Minha mãe tá vindo, me solta.
Porém, a mãe de Renata passou direto sem perceber os dois, que então se sentaram num banquinho na lateral da cancha.

Foi aí que um conhecido apareceu e perguntou a Cléber:
- Você gosta dela?
Cléber não respondeu.
O fulano seguiu seu caminho.
Uma silêncio invadiu a imensidão daquele lugar e os dois ficaram lá, quietos.
Então, Renata ordenou:
- Me dá dois dedos.
Pegou os dedos do rapaz e os colocou em seu próprio pescoço pra que ele sentisse a pulsação.
- Não tô sentindo nada;
- Oi?
- Nada além da vontade de ficar aqui contigo.

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