2013/06/29

les revenants

Nada de romance.
Quer dizer, não era só romance.
Sua vida possuía inúmeros fantasmas.
Em seus vinte e um anos, foi obrigado a tanto depender quanto se desprender de muita gente. Ele não compreendia essa natureza de as pessoas saírem da sua vida, muitas vezes despropositalmente. Algumas apenas sumiam. Outras, ele negava a existência. Estas eram o problema maior.
Sempre se questionara se isso tudo não passava de uma mania implícita em seu ser ou se era a vida mesmo que adorava conspirar contra ele.
A vida dele nunca fora completa, o que o instigou a impor que nada era perfeito, nada era cem por cento. Acostumara-se com isso juntamente com a imposição de apagar da memória os fantasmas de seu passado. Não eram todos do mal, mas simplesmente se foram.
Obviamente, os fantasmas que mais lhe incomodavam eram os românticos. Corrigindo, as fantasmas.
Andava por aí com uma ilusória sensação de completude a fim de não almejar planos impossíveis. Ou pessoas.
Não havia lugar para se esconder, pois sempre haveria uma fantasma onde quer que fosse, nem mesmo sua mente era um lugar seguro. Aliás, era o pior lugar para se refugiar. Sua doentia e imaginativa mente. Ele precisava ancorar-se em alguém para despistar seus próprios pensamentos. Fato era que as cordas que o prendiam ao píer eram fracas demais. Ou era ele que não sabia dar nós. Ele era fraco. Quando conseguia forças, não as mantinha por muito tempo. Afinal, não era permanentemente forte.
Até “esquecia” das pessoas que perturbavam suas memórias e conseguia viver desprendido. Mas quando reapareciam por aí, quebravam-lhe as pernas e ressuscitavam sua convicção de que sempre fora incompleto. Corria-lhe um frio na alma, um vazio no estômago. Parecia-lhe que roubaram seus intestinos. Era um calafrio impossível de ser mensurado. Sua vontade era desabar no chão e só acordar após a cirurgia que preenchesse o que lhe faltava.

Acabara de sair de um bar, onde esteve com o pessoal da faculdade, e caminhava pela Rua XV. Poderia parecer coisa de turista, mas ele gostava de caminhar pelo calçadão. Mas ele só apreciava o local a noite, quando calmo, desabitado e sombrio. Gostava de ver quem andava por lá, tentava adivinhar de onde vinham, aonde iriam, o que faziam, pensavam e amavam. Sua curiosidade maior destinava-se às pessoas que se sentavam nos bancos da XV, pois não era um lugar muito seguro para descansar. Até que olhou para duas pessoas sentadas e o batom vermelho de uma delas ofuscou-lhe a visão.
Era a moça do beijo nos ombros. Uma história vivida que lhe fez muito bem, porém que foi obrigada a ser esquecida.
Ela sorriu. Não foi um sorriso direcionado a ele, era para pessoa que estava com ela. Porém, sorriso suficiente para quebrar suas pernas e trazer-lhe a tona novamente tudo que sentiu por ela. Ele sentiu muita coisa por ela. Em maioria, teve bons sentimentos por ela. Aliás, porém, ela nunca soubera. Ou descobriu e deixou que a timidez do rapaz o matasse.
Continuou caminhando disfarçadamente para não ser notado pela moça, que estava muitíssimo entretida em sua conversa. Ele foi até o ponto de ônibus num misto de êxtase e choque. “Meu Deus, ela!” Então começou a se martirizar por ter esquecido a moça. Relembrou de tudo de bom que sentiu por ela e viveu com ela, apesar de não ter sido tudo o que desejava.

Enfim entrou no ônibus e se encantou com uma baixinha que estava lendo Bukowski. Seguiu a viagem observando a moça sem criar expectativas ou método de abordagem. Esquecera moça do beijo nos ombros.

Esse era seu jeito. Ao mesmo tempo, tão dependente das memórias e cheio de distrações. Perdido, hermético, explícito, vai e volta em sua própria mente.

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