2014/09/16

100% de uma metade

"não percebi que, às vezes, seria mais que o inteiro. Que o inteiro era uma ideia muito 
mas quando finalmente ficamos juntos, estamos demasiadamente desgastados, tanto pelo tempo quanto pela distância, ambos fatores acompanhados de um eterno e efêmero vai e volta de nós perdidos, para deixar que algo bom acontecesse. criamos em nós a isenção às experiências positivas devido ao nosso mergulho desproposital no pessimismo.
eu consegui, sei que você também conseguiu (como eu sei? querida, tenho minhas fontes. esqueceu que trabalho descobrindo informações secretas?), conhecer outras pessoas e me afundar nelas assim como me afundei em você, e você nelas, e você em mim, ah, como era bom. ou ainda é? vem aqui pra eu testar um negócio. voltando ao monólogo, enquanto você dorme e ronca e cochicha algumas palavras que devem ter vazado de um sonho, mas depois pergunto sobre o que era, eu me envolvi com outras, você e seus outros, conseguindo até atingir visível aprofundamento no relacionamento em intimidade e carinho (não como tenho contigo), mas, mesmo assim, qualquer pequena lembrança do que nós dois vivemos juntos ressuscita a vontade e tudo aquilo que existe ou existiu, nem sei mais, entre nós. teve uma vez que eu estava com uma mulher, enfim, o caso não vem ao caso, e simplesmente travei, no meio da rua, parei de andar, minha mente apagou, quando ela disse que odiava aquele filme que destrói nossos corações, mas tanto amamos. naquele dia, inventei que estava passando mal e fui pra minha casa ver o tal filme desgraçado, quanto mais próxima a cena do velório no hospital ficava, mais meu peito doía, problema auxiliado pelo desenrolar do filme, por causa de um buraco que abriu no meu peito, faltando-me ar, que batizei carinhosamente de saudade. o que eu tô tentando dizer é que eu poderia estar casado com a adèle, não aquela que rola nas profundezas, você sabe, constituindo uma família em que as crianças todas têm a cara da mãe, mas ainda estaria pensando em ti. sentindo tua falta. querendo a tua presença. o teu carinho. o teu sorriso. as tuas falas enquanto sonhas. as tuas crises de ansiedade. o teu bolo de laranja. o teu silêncio...
confortável, porque são as metades que dividem ao meio. Eu não sabia, nem sei, sobre os
mas eu sei que estamos/estaremos fadados ao fracasso enquanto desejarmos que fiquemos juntos. se não desejarmos também. de qualquer jeito, estamos fodidos. porque não conseguirmos nos separar definitivamente. nem a porra do oceano atlântico conseguiu fazer isso pela. ou a gente se casa com a atriz e o ator de nossos sonhos platônicos ou a gente continua nessa vai e volta de incertezas, dores e vontade e tudo aquilo que nos faz bem, apesar dos pesares.
você vai me xingar, fique à vontade, mas: a gente se completa, "você é a panela da minha tampa", sim, mesmo nesse furacão problemático chamado nós, a gente se conhece tão bem que não há outra pessoa, ao menos ainda não conheci, que entende nossa confusão e entendemos que é assim tem que ser, se não for, vai ser assim mesmo. outros corpos, outros portos, outros relógios, eu me rendo a isso tudo. eu não posso nem quero exigir que você seja ou aja de um jeito ou outro, até porque eu gosto de você assim, completamente você. até que você seja incompleta, não importa, joe, eu te quero mesmo vazia. eu te pedi "paciência" no início, lembra? mas eu mesmo desisti disso. não aguento esperar que o tempo resolva sozinho nossa situação. ah, mas nem mesmo a gente consegue. eu começo a correr enquanto falo e esqueço em qual faixa estou voando, aí me colido comigo mesmo, porque entrei na mesma rua que anteriormente, e me esqueço do que estava falando no início do parágrafo ou do texto. sei de nada mais. nada sei demais. lembrei, sobre as metades, é... sobre relacionamentos, a gente pensa parecido e acho que é assim que funciona melhor. a gente não precisa gostar das mesmas músicas, praticar o mesmo esporte, frequentar o mesmo culto religioso ou ter os mesmo sonhos, desde que, individualmente, saibamos como agir num relacionamento. a gente sabe e repete que vai doer quando acabar (de verdade, se é que alguém consiga romper esse cabo de aço que nos une) e isso que meio que nos anestesia para enfrentar a dor. acordos, aros nos dedos, atualizações de status, a gente que isso não funcionaria com a gente, e conversamos sobre isso antes do meio dia no relógio do nosso relacionamento, aliás, eu nem devia estar falando "relacionamento", porque parece que estou nos rotulando. se esses clichês comuns funcionam entre outras pessoas, problema alheio, não nosso, mas a gente sabe que o nossos clichês podem ser resumidos em um só: problema. mentes problemáticas que estragam as coisas, quando tudo está indo bem, sem querer. lembra daquela vez que derrubei vinho em um de seus rascunhos e a gente ficou a noite inteira sentados no chão da cozinha, cada um encarando um canto, sem saber o que dizer? quer dizer, eu comecei com "desculpa", mas você logo me encarou com um olhar, meu deus, como aquele olhar me lembrou a delpy, como se pedindo pra eu me calar. sem falar nada depois de quase uma hora, sei lá, você se aproximou, repousou a cabeça no meu colo, deitou e dormiu. depois disso, só lembro de acordar com o tibs lambendo a minha cara. meu, que saudades desse cachorro. (e de você)
pedaços do meio, os pedaços sangrentos de você e eu.
em todas as vezes que ficamos juntos nesses mais de dez anos, com uma rápida rasteira no escuro, caímos, e, como aquela luz dos primeiros dias se apagou, não conseguimos mais sair do breu. aí vem uma luz não sei de onde, mas pode demorar um tempão pra aparecer, e ilumina tudo novamente e a gente se anima pra tentar mais uma vez "sem machucar, ok?", como a gente gosta de repetir quando reatamos nós. a relação termina, mas o sentimento também? acho que não. a relação continua viva enquanto existir sentimento. mas esse sentimento que tenho por você é tão bom, me faz tão bem, apesar dos inúmeros problemas e do histórico bagunçado, que seria uma crueldade desgraçada acabar com ele assim, a sangue frio, como se fosse um serial killer sem coração, mas você que meu coração, quanto mais explode, não para de crescer. como pode sermos tão masoquistas? será que é pra esperar esperançosamente aqueles 50% de chances que existem nas possibilidades de algo dar certo. " - eu quero que dê certo...", "- mas o que é certo? é tão relativo..." a gente insiste nisso, mesmo com um rol de cicatrizes variadas, por quê? talvez a gente precise parar de perguntar e apenas seguir, sentir, insistir. 
mas tenho certeza que alguém que acompanha, ou acompanhou até cansar, nosso romance pensou durante uma das primeiras crises que era apenas uma fase ou falta de maturidade comum ao início da juventude que mudaria com o passar dos anos e nos tornaríamos adultos distantes de problemas e felizes para sempre. a gente sabe que isso não funcionou. não foi só uma fase, nós somos assim.
like crazy

Um comentário:

  1. Fui procurar a citação "sao as metades que dividem voce ao meio" e acabei parando aqui, e fiquei feliz com o 'like crazy' do final pq seria muita coincidencia seu texto se encaixar tão bem nesse filme. Enfim, sei lá pq to dizendo tudo isso. Só gostei desse texto, pq gosto do filme, e pq me identifico com a historia.

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