2014/09/02

Encontro ao acaso forçado

Me deu uma vontade impulsiva de te ver e vontade nenhuma de ir pra casa sozinho fazer o que eu tinha pra fazer. Quando o impulso de querer te ver me invadiu, passava em frente ao teu ponto de ônibus. Muitas pessoas, nenhuma você. Entrei na segunda à esquerda, contornando a praça, desviando da quantidade rotineira de carros para aquela hora do dia, e, a partir da Luiz Leão, procurei por você em quase todos os centímetros no caminho até onde você passava suas tardes de sexta. Os lugares onde não mirei me preocupavam. Podia ter olhado para um lado e você estar em outro. Cheguei. Ainda sobre a bicicleta, encostei-me numa placa de estacionamento perto da entrada do prédio. Se você saísse dali, não tinha como eu não te ver. Esperei. Após minha respiração se normalizar, comecei a escrever esta carta já sem esperanças de te achar. Coração desacelerou e abriu minha mente para a possibilidade de você já ter saído. Eu só queria te ver, te sentir, por um minuto ou dois. (E esperar que você me convidasse para dar uma volta, ou pelo menos te acompanhar até o ponto). Você está sabendo só agora disso, porque eu não tinha créditos pra te mandar uma mensagem. E, ah, mandar sms escrita "vontade de te ver" ou coisa parecida... Não, não é meu tipo. Cansei de esperar. Não tinha porquê. Parti pra cumprir minhas tarefas domésticas e passar mais um tempo acompanhado da vontade de te encontrar ao acaso na saída da tua aula de francês, sem querer, justo quando eu estivesse passando lá por perto coincidentemente na mesma hora que você sai e, perto da entrada do Dom Pedro II, parar para pegar meu celular. “O que você faz por aqui”, tu me perguntarias e ouvirias que eu “estava indo encontrar um amigo ali [falaria o primeiro lugar da região que surgisse na minha cabeça], mas agora ele me mandou mensagem dizendo que vai se atrasar”. Você sorriria pra mim, induzindo-me a perguntar se eu poderia te acompanhar. Minha resposta seria positiva, com certeza. Nós então partiríamos em silêncio até passarmos pelo Passeio Público, onde eu faria algum comentário relacionando este lugar aos “Amantes da Pont Neuf”, então declararíamos nosso amor pela Binoche e retornaríamos à ausência de vozes. Do nada, perguntaria se você assistiu ao último episódio de alguma série qualquer, faríamos breves resenhas sobre o que achamos e, pronto, chegamos à fila do ônibus. Você se postaria a minha frente sorrindo mais do que nunca nesse dia e diria aquele mantra de sempre sobre não morrermos e tal. Eu, com o dedo indicador, levantaria teu queixo e te daria um beijo de despedida. Mas, ou por eu ter chego tarde demais ou você ter saído mais cedo, você não apareceu.

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