2015/12/13

Liberdade

A cada passo dado, o nervosismo gerava grande tensão entre ela e o solo e os prédios e tudo, não conseguia se acalmar, não conseguia encontrar a calmaria qualquer fosse a rua que pisasse, tudo se movimentava, tudo tremia, tudo fluía tão rapidamente quanto seus pés conseguiam acompanhar. A cidade o diminuía. A diminuía? Não sabia mais quem era, nem mesmo se de fato era. O asfalto gerava raízes que se enrolavam nas pernas dela, dele, melhor dizendo, o asfalto criava raízes que abraçavam suas pernas onde quer que fosse, apertavam-nas, mas também a acariciavam. Quaisquer toques diferentes daquele de sua cidade natal (ou de quem não vive mais a seu lado), por mais doloroso que pudesse ser, era melhor que o toque do passado.
A ansiedade foi se exaurindo com o passar dos dias, adaptou-se inércia de sua nova capital, não mais se feriu com o movimento ora frenético ora sonolento. Corria, dormia, repetia.
Dentro do metrô, tentava congelar um frame das paredes, dos tuneis, os prédios, as pessoas, tudo que passava, mas, como entendeu dias antes de sua grande mudança, as pessoas, os prédios e os túneis não param, não ficam, nada para, nada fica e tentar parar o tempo para apreciar o que surgisse em sua frente era tão inútil quanto insistir em relações corrosivas demais, abusivas demais, nostálgicas demais, exageradas demais, distantes demais, ademais. Perder-se em solidão no meio de uma nova e maior cidade seria menos doloroso que ficar. Adiantando o desfecho não exposto desta narrativa, a dor alcança todos os lugares e não há maneira de se prevenir, ela sempre chega e invade seu corpo, sua mente, tudo, destrói tudo, incinerando rapidamente, numa velocidade invisível, ou lentamente, lentamente, lentamente… corroendo pedaço por pedaço de uma existência já em pedaços.
Sabendo de seu destino, ignorava-o, seguia o seu fluxo, que se unia ao da cidade, e vivia, inspirava rotina e expirava passado, desintoxicava-se, quarto, banheiro, cozinha, ruas, vagão, ruas, escritório, ruas, bar, ruas, vagão, quarto, solidão, corria, dormia, repetia.
Confundia seus vasos sanguíneos, músculos e tendões com as vias da cidade, sentia cada passo, cada pássaro, cada queda, cada gole, tudo que a cidade sentia.
Ali, com aquelas pessoas, seguindo cada uma seu próprio caminho, ninguém queria ser uma formiga, sentiu vontade nenhuma de expurgar seus demônios, vomitar suas angústias, xingar seus fantasmas, queimar seu passado, nada disso, superara-o. Ali, respirava, sentia a tranquilidade de não pertencimento àquele lugar ou àquelas pessoas.

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